Capítulo 9 - A reunião

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"J: Quando descobriu isso acerca da enfermeira, a Mariah. Acreditou logo no que ela estava a dizer?

A: Sim... Sei que parece estranho, mas... Como poderia não acreditar?

J: Não lhe pareceu estranho ela não querer voltar para a família?

A: Conheci demasiada gente que só queria desaparecer."

Annelise sonhava de novo com o seu "namorado". Desde que tinha sonhado com as palavras "amo-te", nunca mais conseguiu esquecer. Os pesadelos tinham voltado, com o ar a penetrar-lhe os pulmões, quase como se fosse real. As palavras malditas soavam-lhe na memória, vezes e vezes sem conta. Durante o dia tentava reconhecer a voz. Sabia que já a tinha ouvido em algum lado, para além dos sonhos. Cada voz masculina que ouvia no dia-a-dia, interveniente no seu quotidiano, fazia questão de a comparar. Só iria desistir quando associasse a voz a um rosto.

- Preciso de falar com o diretor do hospital, por favor... - disse Annelise assim que chegou junto à receção.

- Acho que ele não se encontra aqui, de momento... - começou por esclarecer Hannah. – Mas posso-te agendar uma reunião daqui a... Uma semana.

- Preciso de o ver, agora!

- Mas passa-se alguma coisa?

- Vou enlouquecer se não tiver respostas! Quero falar com alguém, já!

O tom de voz de Annelise alterou-se, fazendo algumas pessoas à sua volta, dirigirem-lhe olhares curiosos.

- Calma... - disse Hannah, preocupando-se em todos os olhares presos nas duas. – Eu vou ligar para a sala da direção e vou ver o que posso fazer.

Annelise assentiu, continuando com a sua expressão desesperada. Sentia-se presa ali, sem respostas nem esclarecimentos. Estava na altura de tudo mudar.

Aguardou num dos sofás junto à receção mais de meia hora. Visualizava a rececionista a marcar números de telefone, aguardando que atendessem e, a seguir, falava num tom baixo, enquanto abanava a cabeça. Annelise dava tudo para perceber o seu discurso e a resposta do outro lado da linha. A verdade é que parecia não estar a resultar, visto que já tinha marcado imensos contactos e não parava de teclar no antigo telefone.

Quando Annelise estava quase a adormecer na confortável poltrona, Hannah chegou ao pé de si. Rapidamente se levantou, pronta para receber um redondo "tens mesmo de esperar para a semana".

- Ele diz que te recebe hoje, da parte da tarde. – disse Hannah, num tom incrivelmente baixo.

- A sério? – surpreendeu-se. Normalmente era ignorada nos seus pedidos, mas agora percebia que, quando fazia frente, tinha algum poder. Será que não queriam desinquietar os outros pacientes ou não queriam ninguém a fazer perguntas?

- Vou até ao meu quarto. Chamas-me quando o diretor me puder receber?

- Sim, claro. Até já! – Hannah estava estranha, ansiosa talvez. Annelise desejava que a sua nova amiga não tivesse ficado chateada com a sua imposição anterior. Ela tinha de entender que ela precisava de respostas, doesse a quem tivesse que doer.

Aguardou no seu quarto, impacientemente. Parecia que o tempo estava estagnado, que nada era capaz de a entreter. Sempre que olhava para o relógio, não tinha passado mais que dez minutos. Encostou-se na cama, acabando por adormecer.

- Annelise, Annelise... - chamava, calmamente, Mariah. Annelise abriu os olhos, levantando-se de súbito.

- Já me chamaram?

- Sim. O diretor está à tua espera no seu gabinete. Queres que vá contigo?

- Não, prefiro ir sozinha. – Pela expressão de Mariah, a desilusão era o sentimento que prevalecia após as suas palavras, mas Annelise não queria saber. Para além de querer estar à vontade para perguntar o que pretendesse, não confiava nela como antes. Não depois de lhe ter mentido e omitido a realidade.

Deixou-a sozinha no seu quarto e caminhou, decididamente, pelo corredor fora até à sala estipulada à direção. Bateu à porta ao de leve, ouvindo um arrastar de cadeiras seguido de um "pode entrar".

Annelise abriu a porta, devagar e entrou. Claro que assim que viu o que estava no seu interior, não podia ter ficado mais surpreendida.

AnneliseOnde histórias criam vida. Descubra agora