Capítulo 11 - A Reviravolta

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"J: Mas pelo que me conta, tudo estava a entrar na normalidade...

A: Sim, estava...

J: O que se passou então?

A: Vi tudo à minha volta a desmoronar..."

Os dias melhoraram. Cada dia que passavam eram diferentes, únicos. Desde que estava ali, nunca tinha sentido esta sensação: de estar em casa. Antes, sempre que se via ali fechada, a sua principal preocupação era em descobrir o caminho para sair dali, descobrir o caminho para a verdade. Desleixo ou não, neste momento só queria estar sossegada, tranquila e, com ele.

John (sim, agora tratava-o apenas pelo nome) tinha mudado a sua expectativa. Passavam muito tempo juntos, a conversar, a rir, a partilhar confidências. Ela partilhava os seus sonhos, os seus medos, as suas angustias. Ele partilhava as fotografias da filha, as zangas com a ex-mulher e quais os seus novos objetivos. Queria evoluir na carreira, descobrir novos horizontes e, sempre que falava, fixava o seu olhar no dela, querendo que ela pertencesse a esse mundo.

Quem não gostava muito desta proximidade era Mariah.

- Nunca tens tempo para mim! Há quanto tempo não assistimos a um filme? – perguntava ela, com uma voz tipo cana rachada. Annelise estava cada vez mais farta dela e destas conversas. Ela era apenas uma amiga e o John era muito mais. Tentava sempre não a magoar, não lhe esfregar isso na cara.

- Ele precisa de apoio! A ex-mulher está a fazer a vida dele num inferno! Está com dificuldades em visitar a filha!

- Sim, e? Que não a deixasse ficar...

Annelise nem lhe respondia. Ela queria irrita-la, mas ninguém iria conseguir isso. Ela estava bem e feliz com aquele maravilhoso homem a seu lado.

Já tinha passado cerca de dois meses quando se beijaram, pela primeira vez. Havia noites em que ele não ia embora, adormecendo no quarto dela. Quando ia, ela sentia um vazio enorme. Sentia-se desprotegida e os medos voltavam, mas ele regressava sempre no dia seguinte, com um sorriso enorme, prometendo nunca a deixar.

- Hoje à noite tenho uma surpresa para ti! – dizia John, enquanto a abraçava pela cintura.

- A sério? O quê? – perguntava ela, sorrindo. Não se sentia assim nem sabia há quanto tempo.

- É surpresa miúda! Terás que esperar por logo... Mas ouve, não comentes nada com ninguém, senão não irei conseguir realizar o que pretendo.

Annelise sorriu e prometeu guardar segredo. Aquele dia passou devagar, a ansiedade era tanta que mal cabia no peito. Não se lembrava de nada do seu passado, mas nem sabia se alguma vez tinha possuído alguém tão querido como ele. Alguma vez alguém lhe teria preparado uma surpresa?

Assim que as 21:00 marcavam no relógio, ele bateu ao de leve na sua porta. Annelise assentiu, e ele entrou, pedindo silêncio. Juntos, saíram devagar, encontrando os corredores vazios.

- Onde vamos? – sussurrava ela.

- Shhhhhhiu! – dizia ele, sorrindo.

Annelise seguiu-o, em silêncio. Apesar de não saber o que ele estava a tentar fazer, estava muito entusiasmada. Todo aquele mistério, aquela adrenalina, estava a mexer com ela. Que estaria ele a tentar fazer? Porquê que ninguém poderia fazer?

Chegaram a uma porta que ela nunca tinha visto. Olhou para ele com preocupação, mas ele manteve aquela postura de segurança, dando um pequeno aceno com a cabeça. Passou o seu cartão pelo leitor de segurança e a porta abriu. Passaram por essa porta e viram. A porta de vidro que dava para o exterior do hospital. Os olhos de Annelise encheram-se de lágrimas. Ia ver a noite. Ia ver o exterior do hospital. Ao fim de tanto tempo ali fechada, John proporcionava-lhe a única coisa que ela tinha desejado durante meses: sentir o vento a roçar-lhe o rosto.

- Tens a certeza? Podes-te meter em problemas! – avisou Annelise.

- Por ti, tudo vale a pena! – disse ele, começando a puxá-la para o exterior. Ambos correram e, assim que alcançaram as portas, empurraram-nas, sentindo rapidamente a aragem do exterior.

Annelise começou a chorar e a rir. A gargalhar, a fechar os olhos, enquanto sentia a brisa. Andou às voltas, enquanto John a observava, sorrindo.

- Obrigada! – disse ela, antes de o beijar à luz da lua.

AnneliseOnde histórias criam vida. Descubra agora