Capítulo 14 - A Fuga

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"J: Quanto tempo andou assim?

A: Demasiado...

J: Nunca tentou fugir dali?

A; Oh, se tentei..."

Annelise correu, correu, correu sem olhar para trás. Não sabia se alguém a perseguia, se havia alguém na rua, se alguém a observava. Só parou quando quase não conseguia respirar. Encolheu-se, ajoelhando-se, tentando recuperar o fôlego. Arfou grandes quantidades de ar, quase sufocando. As lágrimas ainda caíam, junto com as lágrimas secas ainda coladas à face.

"Tu não o abandonaste, tu não o abandonaste", repetia ela, vezes e vezes sem conta, tentando não enlouquecer. Por um lado, desejava voltar àquele maldito hospital: internar-se, pedir tantos analgésicos que acabasse por esquecer esta dor tão forte que tinha no peito, mas por outro lado, só queria desaparecer dali, para o mais longe possível. Caso fosse apanhada, a morte de John teria sido em vão.

Quando se recuperou, observou tudo à sua volta. Não conhecia aquele local. Aliás, não conhecia nada além do hospital. Nem sabia se aquela era a sua cidade, se aquele era o seu ambiente. Iria tentar redescobrir-se. Tentar saber quem ela era antes do acidente, antes de tudo isto.

Não se via uma única pessoa na rua. Tudo estava deserto, abandonado. Parecia que ninguém residia naquele pedaço de cidade, que se encontrava extinguido há anos. Caminhou vagarosamente, tentando descobrir vida, mas sentia-se extremamente cansada. Avistou uma casa ao fundo da rua. Forçou a fechadura, que rapidamente cedeu. Observou o interior antes de entrar, deparando-se com uma casa velha e desabitada. Encostou uma cadeira à porta, de modo a sentir-se protegida. Subiu ao andar de cima, descobrindo um colchão no chão frio.

Procurou uma manta velha e fedorenta e deitou-se, chorando as últimas lágrimas que tinha até adormecer.

***

Ouviu ruídos na rua, despertando-a rapidamente. Cautelosamente, espreitou pela janela entreaberta. Eram várias pessoas, a explorar. Homens e mulheres com bata, que nunca tinha visto antes. Encolheu-se, receando ser vista, apesar de estar fora do alcance. Até que viu Mariah. Estava com um ar horrível, muito preocupado. Quase podia apostar que não tinha dormido naquela noite. Descobriu rapidamente que as pessoas do hospital estavam à sua procura. Qual seria o objetivo? Prende-la? De novo? Não ia deixar que isso acontecesse.

Começou a ouvir barulho lá em baixo, a forçar a porta da entrada. Será que a cadeira aguentaria?

Começou a procurar um esconderijo, caso a cadeira cedesse. Fechou a porta do quarto, suavemente e trancou-se dentro de um armário embutido.

Um grande estrondo fez-se lá em baixo. Tinha a certeza que a cadeira tinha caído. Manteve-se o mais quieta e silenciosa possível. Ouvia tudo a ser revistado, a ser tirado do lugar. Ouviu passos pesados a subir as escadas, no soalho velho. Encolheu-se o mais que pôde. Ia ser apanhada... Estava mais do que visto que sim. Entraram na divisão. Era uma sombra alta, forte, embora não a estivesse a identificar como alguém que ela conhecesse.

O quarto começou a ser revistado, abriram o armário em frente e ela tremou. Aquele era o próximo, ela tinha de sair dali.

- O que estás a fazer? – perguntou uma voz feminina, conhecida sua.

- A procurar! – respondeu o homem, com voz forte e determinada.

- Com tantas casas e edifícios... Estás a ver dentro de cada armário? Temos de a encontrar... JÁ! – gritou a rapariga.

O homem, apesar de forte e espadaúdo, respeitou a ordem da parceira e saiu da divisão, com o "rabo entre as pernas".

A rapariga olhou à volta antes de sair. Annelise espreitou através do armário e reparou que se tinha esquecido do seu lenço. Mas a rapariga ignorou e saiu.

Mariah tinha acabado de a salvar.

AnneliseOnde histórias criam vida. Descubra agora