Capítulo 15 - O Carro

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"J: Quanto tempo andou assim?

A: Não consigo precisar... Lá o tempo era... Diferente!

J: Diferente?

A: Sim... Mesmo que eu explicasse, a senhora não iria compreender".

O cansaço venceu-a. Dormiu, dormiu, dormiu até mais não. Não sabia explicar como, mas parecia que já não receava que ninguém a encontrasse, simplesmente já não tinha medo. Aqueles dias ou semanas (não sabia quanto tempo) tinham sido para acabar o ciclo dele, de John. Tinha de o esquecer, de ultrapassar, de chorar para exteriorizar a dor, de uma vez por todas. Tinha de seguir em frente, de desaparecer daquele sítio e sabia que só conseguiria, se tivesse a cabeça limpa de tudo. Aqueles momentos sozinha, descansada, tinham ajudado. Estava conformada. Ele tinha morrido e ela tinha que seguir em frente. Não o tinha abandonado, agora tinha consciência disso. Fez o que tinha que ser feito para o esforço dele ter valido a pena. O que ele mais desejava é que ela fosse livre e, só agora, realmente o era.

Começava a planear a sua fuga definitiva daquele local. Não sabia para onde ia, nem qual a direção de casa, visto ainda não se lembrar de nada, mas tinha chegado à conclusão que ali era só gente louca, logo a prioridade era sair dali o mais depressa possível.

Durante vários dias não tinha saído daquela sala. Tinha receio que a descobrissem. Mas, de um momento para o outro, deixaram de a procurar. Não via ninguém na rua. Decidiu sair e tentar perceber onde se encontrava, mas as ruas permaneciam desertas. Visitou supermercados vazios de pessoas, mas cheios de comida. Entrou em cafés com bebidas de toda a qualidade, mas sem vida. Nem um animal avistava. Esta solidão deu para tentar perceber o local onde permanecia e como sair dali. Por muito que procurasse, não havia um mapa, nem nenhuma referência. Tinha de se desenrascar.

Quando decidiu procurar na casa onde se tinha escondido, viu algo que não via há muito tempo: um carro. Em bom estado, debaixo de um enorme tecido a tapa-lo, com a chave na ignição. O tablier continha um papel "Tem o depósito cheio. Preparei tudo para a fuga perfeita. Se alguém está a ler isto, é porque nunca consegui fugir".

Aquele bilhete arrepiou-a. Quem seria aquela pessoa? E porquê que nunca tinha conseguido sair dali? Abanou a cabeça, retirando aqueles pensamentos da sua memória. Tinha de se concentrar, tentar sair dali.

Subiu as escadas a correr, reunindo as poucas coisas que foi guardando nestes últimos tempos, assim como algumas coisas para comer. Colocou tudo numa mochila velha e desceu as escadas. Aquela era a sua oportunidade. Tinha de partir para não mais voltar.

Abriu o portão da garagem e entrou no carro. Girou a chave e o carro não pegou.

"Bolas", pensou ela, percebendo que o carro estava há demasiado tempo parado. Voltou a insistir várias vezes e quando estava prestes a desistir, o arranque estrondoso aconteceu.

- Pegou... PEGOU!!! – gritou ela, que nem louca. Estava sozinha, mas gritava como se alguém a ouvisse. Mas ela não queria saber. Ela estava maluca de qualquer maneira.

Carregou no acelerador e lá foi ela, andando o mais depressa que podia pelas ruas desertas fora. Andou mais de quinze minutos quando avistou o hospital, ao fundo da rua. Parou de rompante, respirando fundo. Tinha de passar lá, o mais rápido que conseguisse. E assim foi. Acelerou o mais que pôde, ultrapassando o hospital, que parecia abandonado, tal como tudo naquela cidade. Andou mais de uma hora, mas nada lhe era familiar. Andou mais de duas horas e continuava a não ver ninguém. Até que a avistou. Ao lado esquerdo. A casa. A casa da qual saiu há cerca de 4 horas...

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NOTA DA AUTORA:

Bem pessoal, este foi o final da primeira parte desta aventura de Annelise. Vou-me esforçar por atualizar o mais depressa possível.

O que terá acontecido? Será que aquele local tem uma saída? Curiosos?

Aguardaremos as cenas do próximo episódio 😉

AnneliseOnde histórias criam vida. Descubra agora