Trust

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"Porque eu quero ajudá-la, Karla. Mas preciso que confie em mim. Eu não sou como os outros, na vida, não é só porque uma pessoa te machucou, todas irão fazer o mesmo.." Lauren passou o máximo de segurança que conseguiu. E Karla continuava a chorar, dessa vez baixinho, a encarando aos poucos assustada.

"Você promete?" Ela perguntou com a voz embargada.

"Prometo." Lauren levantou seu dedo mindinho. O unindo com o dedo mínimo da menina. Karla deu um meio sorriso e Jauregui retribuiu com outro de orelha-a-orelha. "Então vamos devagar, certo?"

"O que você quer saber?"

"Fala sobre a sua vida, desde o início, exatamente como você se lembra." Lauren pediu. "E quando foi que as confusões dentro de você começaram, entende?" Ela se referia a troca de personalidades.

"A minha vida nunca foi um mar de rosas. Eu tinha de tudo, mas era vazia, não tinha nada. Vivia para ir para a melhor escola da cidade e ir para minha enorme e luxuosa casa. Minha mãe nunca estava quando eu chegava. Todos os dias ela tinha seus tratamentos de beleza, de todos os tipos. Nunca estava satisfeita com a aparência e extremamente consumista. Meu pai.." Karla apertou os olhos. "Ele era um empresário corrupto, extorquia 50% dos seus clientes empresários. Meu irmão viciado em drogas e de mim ninguém lembrava. Só quando precisava da minha imagem para alguma coisa, fora isso costumava ficar sozinha." Ela deu ombros, enquanto Lauren gravava o que ela dizia.

"E a sua festa de 15 anos?" Depois daquela pergunta Cabello engoliu em seco.

"Eu não tenho memórias muito boas dessa época, por favor.." Ela apertou os olhos, enquanto eles continuavam a transbordar como se houvesse uma torneira ali. "Na escola, eles arrumaram um apelido pra mim, Bebê Chorona. Porque no nono e primeiro ano, eu só ficava chorando em todos os períodos. Mas, eles não sabiam o que tinha acontecido." O estupro.

"E o seu namorado, Camz?" Lauren se esqueceu por um momento, que ali Karla estava como sua personalidade inicial e não como Camila. "Perdão. Karla."

"Camz?" Ela perguntou confusa.

"Sim, é.. um apelido.." Lauren fugiu do assunto, pensando ser melhor assim.

"As confusões começaram nessa época. Eu dormia em um lugar e acordava em outro. Saia nas revistas sobre coisas que nem lembrava ter feito e daí só foi piorando." Ela levou a mão ao cabelo e trouxe à tona mais um assunto.

"E sua depressão?" Lauren mordeu o lábio inferior meio incerta. Se Karla não havia se sentido segura o suficiente para falar sobre o estupro, não sabia se estava pronta para falar de algo ainda mais delicado. Todavia, Jauregui estava errada.

"Eu me corto antes das confusões e antes do nono. Foi no dia das mães de 1985. Quando minha mãe entrou em coma alcoólico e não viu minha apresentação." A voz dela voltou a embargar. Ela não conseguia parar de chorar.

"Quando você tinha 12 anos?" Lauren fez as contas rapidamente e ela assentiu. "Sinto muito por tudo isso, Karla, mas quero que saiba, não estará mais sozinha. Eu estarei aqui para te ajudar."

"Mas, senhora Jauregui, mesmo que eu escape da morte, eu tenho problemas mentais."

"Eu vou conseguir que você seja inocentada." Lauren disse convicta. "Você teve algum namorado?"

"Sim. Ele inclusive foi o príncipe da minha festa. Era o filho de um dos amigos ricos dos meus pais." Disse ela de forma leve. Mas bom, Lauren reparou os dedos inquietos e a boca seca. Tanto que de dois em dois segundos, Karla umedecia os lábios.

E você matou ele?, Jauregui pensava em se perguntar.

"Vocês terminaram por qual.." Antes que a psiquiatra pudesse continuar, ela foi interrompida.

Sweet MiseryOnde histórias criam vida. Descubra agora