Esquizofrenic

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"Você está bem?" Ela já havia perdido a conta de vezes que havia escutado aquele pergunta. Já estava acostumada, a ouvi-la várias vezes por dia. Mas a cota estava ainda mais intensa hoje. Era o dia do julgamento. O veredicto era mais que importante, se tudo desse certo, ela poderia ser livre. Não sabia explicar o misto de sensações que percorriam seu corpo. Tensão, medo, receio e alívio. Poderia expor tudo que guardava há muito tempo e estaria livre para fazer o que quisesse de sua vida. Não precisaria mais ficar em instituições de doentes mentais deploráveis, desde que tomasse o remédio e continuasse com as terapias, que eram condições, que a própria concordava. 

A incomodava saber que iria depor contra sua mãe. Ela a fez sofrer por muito tempo, porém mesmo assim, Karla odiava a ideia de fazer mal a mulher que a pôs no mundo. Mordendo o lábio inferior, ela olhou de lado o mais disfarçadamente possível e pôde ver a silhueta impecável, com seus cabelos loiros esvoaçantes. Sinu estava ali. Tão perto. E ao menos, retribuía o olhar da filha. Ela exalava nervoso, medo, perfume e creme franceses estupidamente caros. Se virando para os olhos castanhos apreensivos a sua frente, ela deu por encerrada suas análises.

Respirou fundo mais uma vez antes de responder a pergunta de Christopher e com um sorriso, assentiu. Voltando a prestar a atenção em toda a audiência, que já acontecia a seu redor. Em questões de minutos seria chamada como testemunha e seria hora da promotoria e advogados agirem. A menina já havia estudado cada passo anteriormente. Sejam os dados ou os futuros.

A pele fina do canto de suas unhas, já sangrava violentamente, mas Karla não sentia dor, pelo contrário. Era uma reação nervosa que ajudava a descontar a tensão momentânea e a relaxava.

Em sua frente, outra testemunha foi chamada, seu irmão. Foram 25 exatos minutos contados.

"Quando eu cheguei, minha irmã estava muito abalada. Coberta de sangue, sobre o corpo já morto de meu pai. No momento, presumi o que qualquer um presumiria num estado de choque. Mas ela estava apenas tão transtornada como eu, principalmente por assistir todo o assassinato. Em meu primeiro depoimento a acusei com base em seus problemas psicológicos, todavia, com apenas um mês de tratamento, Karla está muito melhor e hoje, com a maturidade e seriedade necessárias, analiso a situação e vejo sua inocência. A real culpada, é minha mãe. Sinuhe Cabello." Essas foram as palavras do mesmo. Que chocaram os jurados e a loira acusada. Seu olhar feroz era penetrante e queimava por dentro. Com a sua advogada, ela gesticulava em excesso e deixava escapar o quão indignada estava. 

"Karla Estrabao, por favor, apresente-se ao júri e dê seu depoimento." Disse a promotora, quando Christopher já descia do pequeno palanque e se sentava em seu antigo lugar. 

Ao ouvir seu nome, a mesma levantou tentando esconder o frio na barriga e caminhou até o lugar onde anteriormente seu irmão estava. Fez o juramento rapidamente, se sentando de pernas cruzados ao lado do juiz. Com uma visão periférica, ela encarava o amplo local. Karla esperava a autorização, para que começasse a falar, já que os advogados tentavam protestar e a promotoria e delegado discutiam entre si. Tudo parecia uma bagunça. Ela estava assustada. O olhar de sua mãe, era o mesmo repreendedor de quando ela fazia algo errado. Os jurados a mediam meticulosamente, comentando desde seu cabelo, até seu sapato.

Sentiu seus pulmões irem se apertando. Eles doíam. Sua respiração estava pesada e era mais dolorida a cada momento. Baixando a cabeça, ela tossiu um pouco e seus olhos marejaram. Não queria estar naquela situação.

Um estrondo maior, chamou a atenção de todos que estavam ali. As grandes portas do júri foram abertas, sem o mínimo cuidado, pela filha do delegado, acompanhada da figura que Camila mais desejava ver naquele momento. A psiquiatra, Lauren Jauregui. 

Sweet MiseryOnde histórias criam vida. Descubra agora