Madness

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Com o impulso dado por Lauren, Camila sentou em seu colo, pondo uma perna para cada lado de seu corpo. Ela desceu as mãos, arrastando os dedos nos braços da outra, pausando em sua cintura, onde deixou um apertão. Porém foi quando a psiquiatra, subiu a mão pelas suas costas, que a menina parou. Apenas com esse toque, tudo que remetia a Liam, voltou para si. Os momentos que mais tentava esquecer, as sensações ruins, o medo, a súplica.. Sentia como se estivesse revivendo o pior dia de sua vida. As imagens eram reais, tudo dentro de si, era real.

O que fez a mesma se afastar de imediato.

"O que aconteceu?" Perguntou a mais velha, assustada.

"Eu não vou deixar você me machucar de novo!" Camila respondeu alterando o tom de voz, chorando. E num pensamento rápido, Lauren ligou todos os pontos, anotando tudo na ficha de Karla.

Era exatamente como ela imaginava, a menina nunca tinha superado o que haviam feito a ela. Nunca havia se livrado das imagens, de tudo que sofreu. Sendo assim, isso poderia contribuir para as alucinações e vozes em sua cabeça, o que levaria a outra doença. Esquizofrenia. Jauregui se sentiu culpada por nunca ter identificado antes, por ser algo tão óbvio. A depressão levou a  dissociação de identidade, dando vida á personalidade que ela encarava cara a cara, nesse momento. Camila Cabello. E todos os traumas restantes,  poderiam ter trago a esquizofrenia, que não só explicava perfeitamente as alucinações e vozes, de sua cabeça, além de ser a causa das alterações de humor. 

O que intrigava a psiquiatra, era que cientificamente não se sabia quais são as causas da esquizofrenia. O que mais tinha importância relativa, era a hereditariedade. Sabe-se que parentes de primeiro grau de um esquizofrênico tem chance maior de desenvolver a doença do que as pessoas em geral. Por outro lado, não se sabe o modo de transmissão genética da esquizofrenia. Fatores ambientais que possam alterar o desenvolvimento do sistema nervoso no período de gestação parecem ter importância na doença.  

Podendo se concluir, que a não ser que Sinuhe tenha tido complicações na gravidez ou infecções, ela poderia ser esquizofrênica. O diagnóstico de Alejandro, não implicava mais em nada, já que estava morto. O que deu uma ideia mais que importante para Lauren. Em um julgamento, se a testemunha apresenta problemas, não há como confiarem cegamente em seu depoimento.

Nunca houve uma investigação sobre a morte de Estrabao, pois assim que chegaram, viram Camila segurando as armas do crime, coberta de sangue, sobre o corpo do morto e depois de sua mãe depor contra a mesma e as doenças sendo mais que explícitas, toda a delegacia de polícia foi a favor de Sinu. O que fez Camila dar a pequena peça que ainda os faltavam. A falsa confissão. 

Porém conseguindo a confirmação de que a mãe da menina tivesse esquizofrenia, o depoimento da mesma, seria irrelevante, desclassificado, já que não é sã o suficiente para dar qualquer tipo de declaração. O que abriria o caso novamente e exigiria uma nova investigação. Resultando na liberdade de Karla.

Diante de todo esse pensamento rápido, Lauren sorriu. Mais que orgulhosa de si mesma e empolgada por ter achado algo útil, que poderia ser usado para salvar sua menina. Porém no momento seguinte, voltando a se concentrar na situação que vivia, foi até o chão, onde Camila estava encolhida, chorando, com o rosto escondido entre as pernas.

"Não me obrigue a fazer isso, por favor." Ela disse por fim, ainda evitando olhar para a mulher em sua frente. 

Lauren pegou a mão dela, mesmo contra sua vontade, e pôs em seu rosto. Se aproximou ainda mais, ficando bem perto da mesma, baixando o rosto, até encontrar ambos se encontrarem.

"Camzi, você sabe muito quem eu sou e que eu não quero te machucar." A psiquiatra sussurrou. 

"As pessoas sempre me machucam." Camila sussurrou de volta. "Eles me deram choques no primeiro dia, a dor de cabeça era tanta, que eu mal conseguia enxergar, tudo estava embaralharado e eu ainda não tenho total e lúcida consciência do que houve aquele dia. Eu achei que havia sido só isso, mas minhas costas queimavam, estavam muito cortadas. Além dos cortes, tem pancadas doloridas pelo meu corpo e então disseram que era o demônio em meu corpo, que me fazia sofrer assim e fui jogada na solitária. Não foi a primeira vez, porém ainda mais desesperador." Ela contava com a voz embargada, vez ou outra pausando para soluçar. "Muitas vezes eu me machuquei, procurando um escape das feridas da alma, que insistem em não querer cicatrizar.. Procurando uma forma de me sentir viva.. Mas nunca foi tão angustiante. Eu me senti ainda mais violada, abusada. E sinceramente, não consigo mais lidar com tudo isso, Lauren. Eles estão aqui, nada disso some de dentro de mim. Eu preciso os calar. Essa é  a única maneira. Preciso morrer." Camila por fim desabou, não conseguindo conter as lágrimas, com o rosto completamente inchado, a garganta seca e respiração entrecortada.

"Olhe para mim!" Jauregui usou sua voz mais autoritária, praticamente cuspindo as palavras no rosto da menina em sua frente. "Eu estou muito irritada por você ter falado isso e magoada também!" Camila desviou o olhar, fazendo com que Lauren entrelaçasse o rosto da mesma em suas mãos. "Eu nunca mais quero te ver falando algo assim."

"Nunca mais vai me ver falando nada, pode ter certeza." A garota respondeu rindo sem humor.

"Eu não estou brincando." A voz de Lauren era alta e denunciava todo seu nervosismo. "Camz.." Ela iria continuar o discurso, até que suspirou derrotada, se levantando. Andando de um lado para o outro a psiquiatra, tentava encontrar uma solução para as crises internas e depressão de Camila.

Ela não aguentaria se a jovem cumprisse mesmo o que tanto pregrava e a hipótese desse acontecimento a fazia tremer violentamente dos pés a cabeça. E a pior parte, eram os problemas que ela mais queria ignorar e seu consciente insistia em relembrar. Lauren era casada e havia beijado Camila. Na verdade, faria muito mais, se a mesma não tivesse parado. O que a fazia além de adúltera, uma pervertida doente, que beijava e tinha uma relação muito mais que profissional com a paciente 8 anos mais nova. A paciente mais problemática de sua carreira e recém-descoberta esquizofrênica.

"Merda, Camila!" Ela soltou. "Você não vai morrer, o.k.?" Lauren voltou a se agachar, olhando nos olhos de Karla. "Eu te prometo. Irei te tirar daqui e todo esse sofrimento vai acabar. Eu vou te ajudar e deixar você morrer, definitivamente não está em meus planos." Assim que ela terminou, recebeu um abraço apertado, mais que inesperado.

"Lolo, você me dá vontade de viver, mas por favor não some mais." A menina pediu, enxugando as lágrimas e coçando o nariz vermelho.

"Nunca mais, meu amor. Agora levanta e vamos continuar nossa consulta." Lauren respondeu acariciando a bochecha dela com o polegar, enquanto cada uma voltava para sua cadeira.

"Nós podemos nos beijar agora e conversar depois?" Jauregui corou antes mesmo de Camila terminar a frase. Estremeceu e sentiu a boca secar, enquanto todas as palavras que conhecia e poderiam ser usadas para a resposta da pergunta, simplesmente sumiam de sua cabeça, deixando um completo vão, onde lembranças do gosto, toque e corpo de Cabello se acumulavam. E ela estava nervosa com isso, oh, como estava! Nervosa pelo estado em que a menina a deixava, nervosa pela tesão gritante, que nem ela mesma sabia que tinha, até o provar e mais assustada ainda pela traição. Ela amava Lucy, não tinha feito por mal. Mas.. "Lolo?" A voz fina de Camila a despertou de seus pensamentos.

Sweet MiseryOnde histórias criam vida. Descubra agora