Sweet Misery

The Letter

01 JANUARY, 1990
LONDRES

"Era isso que você queria, não é mesmo, Jauregui?" Vives disse amarga, batendo a porta do carro, seguindo para casa furiosa. Enquanto Lauren suspirava, pegando suas malas. A viagem em Cacún não durou muito, já que Camila precisava dela em Londres e para a psiquiatra, só isso já era um ótimo motivo para acabar com a brincadeira de casinha. Isso e o fato dela não estar conseguindo sentir nada pela parceira.

Já estressada pela imaturidade de Lucy, Lauren fez algo pior ainda. Deixou todas as malas na varanda da casa e deu partida até o apartamento de Ally. 

Bateu na porta desesperadamente, ansiosa para que ela lhe desse notícias que realmente fossem relevantes e pudessem salvar Karla. Seu coração batia cada vez mais rápido, a adrenalina em suas veias denunciava tudo que sentia naquele momento. Mal esperava para ir ao sanatório. 

"O que está fazendo aqui?" A mulher perguntou, assim que viu a outra debruçada em sua porta com um sorriso. 

"Vim saber o que está acontecendo, o que eu perdi.." Lauren foi interrompida.

"Veio saber da Camila, né?" Allyson podia ver em sua cara que era isso. O rosto pálido de Jauregui ruborizou e revirando os olhos, Brooke deu a carta a ela. "Vou tomar banho, já tomou café?" 

"Não." A psiquiatra disse umedecendo os lábios, rasgando o envelope como uma criança, rasgando a embalagem do brinquedo de natal. 

"O.k., eu vou fazer." Ela não prestou a atenção nessa última frase, porque nesse exato momento, já estava lendo o que mais desejava. A primeira frase da folha a assustou, porém não surpreendeu.

ESTOU ME SENTINDO UM LIXO COMO SEMPRE. EU ME ODEIO E DEVERIA ESTAR MORTA. 

Um pouco mais abaixo..

Odeio ver minha vida nesse precipício e não poder fazer nada para mudar isso. Na verdade, eu só queria me jogar no fundo dele, mas não posso. Eu me sinto escrava da minha própria vida, minha própria realidade. Como sempre. Acabei de machucar a mim mesma e doeu. Doeu tanto que cheguei a reclamar. Porém então, lembrei-me o porquê faço isso comigo mesma. Porquê há vezes que eu simplesmente, machuco a mim mesma. É a sensação. Dói. Me faz eu me sentir viva e não só mais uma parte física, descartada. Uma realidade alternativa. Por dentro, eu me sinto tão vazia. Tão morta. É como se eu simplesmente assistisse a vida se passando de longe. É estranho. Sinto como se eu não fosse parte desse mundo, como se eu não tivesse aqui. É angustiante. Tão ruim, que chego ao ponto de preferir sentir a dor, a não sentir nada.

Com a dor emocional, já estou acostumada. É como uma anestesia. Já a dor física, me lembra que não sou um nada. Ás vezes isso é reconfortante. Eu não sei se é carência pela minha infância miserável. Não miserável de dinheiro, pelo contrário. Eu tinha tudo que queria. Mas mesmo assim, era carente de sentimento, de atenção, de conforto, eu não tive uma base familiar normal como a maioria tem. E quanto mais crescia pior era.

Na verdade, eu sei que é exatamente isso. Mas odeio admitir. Eu não preciso do amor ou carinho de ninguém, então por quê continuo vivendo em função disso? Por quê a falta de afeto, me atinge tanto? Isto está errado. Me irrita. Me faz ter ainda mais ódio de mim e da minha vida. Por isso, seria bem melhor que fosse embora de vez. Eu poderia dizer que além de bom para mim mesma, seria bom para os outros também, já que eles não teriam mais que aturar o peso morto que sou, mas que outros são esses? Eles não existem. Ninguém se importa.. É isso.

Lauren se sentiu culpada. Deixou que algumas lágrimas molhassem o papel. Karla realmente se auto-flagelava e para Jauregui, aquilo era inadmissível, era aterrorizante. Ela queria poder fazer com que a menina parasse e enxergasse que apesar de qualquer coisa, ela podia passar por cima e ainda sim, ter uma vida feliz. Virou a folha, para ler o que tinha do outro lado e viu outro relato.