My Prince

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22 DECEMBER, 1989
NEW YORK

"Não, eu não irei voltar para casa, Sinuhe. Me dê um tempo. Não adianta insistir!" Christopher insistia no telefone, desligando na cara de sua mãe. Enquanto passava as mãos pelo cabelo, nervoso. 

Ele chutou o pé da cama do hotel, onde estava hospedado e logo depois se jogou, afundando a cabeça no travesseiro. Se sentia perdido, morto por dentro. Desde aquela noite. A madrugada de 14 de Dezembro. Quando sua irmã, atirou em seu pai e esfaqueou sua amante. 

Bom, aquela era a versão que haviam lhe contado. Por mais assustadora que fosse. Algo dentro de si, negava-se a acreditar naquilo. Karla podia não ser a sanidade mental perfeita, mas era sua irmãzinha. E tão apegada ao pai quanto ele, mesmo ele vivendo para seu trabalho. Sempre buscando por afeto e proteção. Christopher sentiu os olhos lacrimejarem, lembrando de sua irmã. Ele não foi bom o suficiente para ela. Não conseguiu preencher, o vazio que seu pai deixara no coração de Karla. Não conseguiu impedir, que fizessem mal, á parte mais importante de si. A única pessoa, que mesmo com todos os seus problemas, sempre foi a melhor amiga que ele poderia ter. 

O revoltava as atitudes de sua mãe, sempre o tratando como o filho preferido, dando lhe tudo que desejava e passando tempo com ele, excluindo sua irmã. E a raiva que ele nutria pelo seu pai, muitas vezes, mascarou o afeto que sempre esteve ali.  Mas sua irmã não. Ela só queria seu bem e mesmo assim, ele só lhe causava mal.

Ela chorava baixinho, já eram duas e meia da manhã e não queria acordar ninguém. Ele abriu a porta de qualquer jeito, entrando fedendo a cigarros, maconha e álcool. Karla se assustou e se encolheu no sofá, com as roupas rasgadas. Christopher quando viu seu estado, sentiu todas as drogas em seu sangue, esvaírem, arregalando os olhos. 

"O que aconteceu, maninha?" Ele se agachou em sua frente e ela soluçou, sendo puxada para um abraço. Karla encostou a cabeça no ombro do irmão, deixando que as lágrimas escorressem direto para o pescoço dele. "Ei, me diga, o que aconteceu.. Eu não sou a mamãe e muito menos o Alejandro. Eu estou aqui. Eu sou seu irmão, eu vou te ajudar. Me fala, princesa." O mesmo se sentou ao seu lado, afagando seu cabelo. Karla respirou fundo e estendeu a palma da mão, pedindo por um momento, antes de começar a falar. 

"O Johnny.." Ela não precisou terminar. Christopher fechou as mãos em punho, sentindo as lágrimas de sua irmã, dessa vez em si. 

"Esse filho da puta, te obrigou de novo?" Ele se levantou, sentindo o ódio correr pelas suas veias.

"Não, Chris, por favor. Não faz nada. Por favor." Karla implorou, se levantando também, buscando os olhos de seu irmão. Que afastou suas mãos, com nojo. 

"Você é uma idiota, Karla! Porra, qual é o seu problema?" O mesmo gritava com nojo na cara da menina, que só chorava mais ainda. 

"Não grita comigo." Ela pedia abraçando seu próprio corpo. 

"Que você é doente, todos sabíamos! Dá pra conviver com Karla e Camila, mas, com uma idiota, submissa, já basta nossa mãe." Christopher descontava o ódio de Johnny em sua irmã, pois sempre que ele a usava de brinquedo sexual, ela impedia que ele fizesse algo. Já não aguentava mais aquilo. Ver a garotinha que ele ajudou a andar de bicicleta, sendo usada por um escroto, comprado para valorizar a imagem de Karla.

"Eu vou fazê-lo me amar.." Ela sussurrou para si mesma, porém em volume alto o suficiente, para seu irmão ouvir e disparar um tapa com toda sua força, em sua bochecha esquerda. 

"(...) E ela ficou muito chateada, né. Porque ela sempre encarou seu irmão, como seu príncipe. Eles tinham isso entre eles.." Camila comentou com Lauren, mordendo um donut trago pela mesma. "E sempre quando chegava muito drogado, descontava as coisas nela. No dia seguinte, pedia desculpa e dizia que nunca iria se repetir. Mas sempre se repetia. Até que chegou o momento, em que ela perdeu a única segurança e proteção que acreditava que tinha. Seu irmão.. Ela não havia se cortado aquela noite, havia prometido á seu irmão que não o faria, mesmo ele não cumprindo todas essas promessas. Ela dizia que iria parar de se cortar e ele que iria parar de se drogar. Naquele momento, não faria mais diferença. Se sentia suja, por ter sido tocada mais uma vez, sem que sentisse vontade daquilo e as palavras e agressão de seu irmão, atingiram o fundo de sua alma. Fazendo-a se sentir pior que nunca." A voz de Camila era carregada de tristeza, decepção e dor.

Sweet MiseryOnde histórias criam vida. Descubra agora