19 DECEMBER, 1989
LONDRESDuas batidas na porta metálica da cela e em seguida, metade dela fora aberta, revelando uma irmã da igreja.
"Bom dia, Karla." Disse a mulher sorrindo, com uma bandeja em mãos. A menina estranhou, ela nunca houvera visto uma irmã daquele sanatório, sequer mover os lábios. Aquela estava tão sorridente e bem humorada, que inspirou a interna, a ingerir seus remédios da forma certa. E ela tinha uma aparência e voz tão lindas, que sua presença era reconfortante para Karla naquele momento.
"A paz de Jesus, esteja conosco." A mulher disse novamente, chamando Karla para fora. Para a padaria. Ela queria dizer alguma coisa, mas era retraída demais para aquilo. Viu que a freira usava um relógio e tentou o encarar para identificar que horas eram.
"Você quer saber que horas são?" Ela perguntou simpática, enquanto do outro lado da cidade, Lauren fazia a mesma pergunta para Lucy, em um tom sarcástico.
"Que horas, Lauren?" A mulher perguntou sonolenta.
"08:40!" Jauregui disse tacando um travesseiro na mulher que continuou deitada. "Não é só porque você vai pegar mais tarde hoje, que custava me acordar né, Lucy? Que sacanagem." Lauren correu para o banheiro, passando a mão no rosto de qualquer jeito e enfiando a cabeça de baixo da pia. Voltou correndo ao seu armário, pondo a blusa social branca de qualquer jeito e a vestindo a calça cintura alta, deixando os cabelos soltos e pegando apenas o necessário e os óculos escuros.
Ela entrou em seu conversível azul, calçando seus saltos que ali já estavam e seguiu para a clínica onde trabalhava.
Em menos de 20 minutos, já estava na recepção enquanto Allyson a olhava com a expressão fechada.
"Merda, muito atrasada?" Lauren perguntou e Ally gargalhou.
"Você é uma puta de uma sortuda! Nem pacientes seus, nem Garrett, vieram ainda." Garrett era o chefe e dono da clínica de psicologia onde Lauren e Allyson trabalhavam. Elas se conheceram no ensino médio e são melhores amigas desde lá.
"Mas Ally, eu preciso que você me explique uma coisa direito." A morena disse, seguindo para sua sala, acompanhada da pequena loira.
"O que?" A mesma respondeu se sentando na frente da mesa de Lauren.
"Quais foram as outras provas contra Camila?" Jauregui perguntou, enquanto encarava a expressão confusa da melhor amiga. "Digo, Karla.. Longa história."
"Enfim, outro homicídio. Há três meses atrás. Envenenamento." Disse a filha do delegado da cidade, se recostando na cadeira de couro. Lauren arregalou os olhos em pura negação.
"Como assim?! Ally, não pode ser!" Ela balançou a cabeça negativamente, se levantando e percorrendo a sala em passos rápidos.
"Entenda, Laur, eu sei que deseja ajudá-la. Mas ela não é quem você está pensando."
"Vocês não a conhecem! Ela não é essa pessoa, eu juro!" Os olhos verdes de Jauregui estavam mais nervosos que o normal. Ela precisava salvar a vida daquela garota. "Ela é doce, engraçada e tão.. Frágil! Vocês que não entendem! Ally, ela foi estuprada aos 14 anos, ela tem um lixo de estrutura familiar e os problemas mentais são nítidos. Deixe-me ajudá-la." Ela voltou para a mesa, segurando as mãos da outra.
"Isso você não deve pedir para mim, sabe que depois de Troy eu não tenho mais muita influência nos casos da delegacia.." Brooke disse mordendo o interior da bochecha. "Mas fique calma Laur, você tem tempo ainda. Só precisa arrumar a confissão e provar que ela é mesmo insana."
"Eu vou conseguir, Allyson. É só você olhar para ela, que percebe. Fora que sua personalidade muda a cada dia, um dia ela acorda como Karla, sua personalidade principal e no outro, como Camila. Eu vou tentar descobrir mais coisas sobre esse tal namorado.." Lauren disse mordendo o lábio inferior e apertando a ponta da mesa de marfim.
"Agora devemos ir trabalhar. Não fique pensando muito nisso, hoje você ainda tem consulta marcada com ela, certo?" A morena assentiu. "Então.. Fica calma. Tudo irá se resolver." Ally disse antes de sair da sala e deixar Jauregui presa aos seus pensamentos e preocupações internas. A imagem de Karla, sendo eletrocutada em uma cadeira elétrica, gritando por socorro, não saia de sua cabeça. Pelo contrário. Ela visualizava tudo muito bem, com detalhes.
Nunca havia se envolvido tanto assim, com a história de um paciente. Óbvio que alguns deixaram marcas em sua alma e sabia que Camila deixaria a sua também. Sua prioridade agora, era salvar sua vida e provar para a mesma, que ela podia ser feliz. Ela merecia.
Sorriu pensando em como a menina podia ser feliz, mesmo com alguns problemas mentais, haviam medicamentos que controlavam isso perfeitamente. Ela poderia fazer o que quisesse, na hora que quisesse. Seria livre da sua família opressora e nojenta. E daquela cidade amaldiçoada.
Camila saiu de sua cabeça, quando ouviu o volume alto que a sala ao lado ecoava. Ally havia posto seu vinil do Nirvana e Love Buzz movimentava a clínica em um volume razoável. Ela já era fã e uma de suas pacientes era fanática, só aceitava fazer a terapia se pudesse ouvir as músicas de sua banda favorita. Como era uma vontade do paciente, Garrett cedia. Quando se tratava das pessoas que nos procuravam para tratar seus problemas psicológicos, ele era bem liberal. Mas quando se tratava de seus psiquiatras, podia ser bem rígido.
Depois de atender os 5 pacientes marcados, Lauren foi liberada. Exatamente 16:15. Então seguiu para Shadowsouls, precisava ver como a sua menina estava. E o mais importante, pensar em uma maneira de fazê-la falar. Essas histórias estavam muito mal contadas. Como de uma hora para outra aparece outro homicídio assim? Novas provas.. Estava tudo muito estranho.
Chegou ás 17:00 horas e jogou tudo na mesa, enquanto pedia para um enfermeiro levar Karla para sua sala. Naquele dia, estava mais exasperada que o normal.
Em poucos minutos, ela chegou. Lauren sorriu, enquanto ela continuava encolhida e apenas assentiu.
"Karla, você quer poder ter uma vida normal, pelo menos uma vez na vida ou enfrentar a cadeira elétrica?" Jauregui pensou que seria melhor se ela fosse ao extremo, pelo menos uma vez. Mas assim que viu o frágil corpo da menina em sua frente, se arrepiar, em puro nervoso, se arrependeu.
"Por mais que seja agoniante, eu prefiro que minha vida acabe de uma vez por todas, para que todas as lembranças e momentos dessa vida miserável, se vão juntos. Obrigada por tentar ajudar, mas ninguém pode." Ela deu de ombros, finalmente falando algo que não tivesse apenas duas sílabas. Algumas lágrimas escaparam pelo seu rosto, mas ela não se importou, apenas continuou estática, olhando para o vazio.
"Quais lembranças? Quais momentos? Se você me disser, ao invés de precisar morrer para recomeçar, você pode ir para outro lugar, iniciar sua vida de novo.. Seu conseguirmos lhe inocentar, você pode escapar de Shadowsouls e até mesmo da morte. E mesmo se conseguirmos alegar problemas mentais, eu posso lhe recomendar uma transferência." Lauren se sentou na sua mesa, encarando Camila profundamente.
"Por quê, se importa tanto? Por quê acredita em mim? Posso muito bem ter matado o meu próprio pai e estar aqui fingindo. Eu cansei das pessoas fingirem se importarem comigo e só me magoarem." Ela voltou a chorar. "Eu não confio nem em mim mesma." Ela se encolheu, encostando nas costas da cadeira e agarrando as pernas, como se fosse seu refúgio.
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Sweet Misery
FanficKarla Camila Cabello é uma problemática jovem de 16 anos, acusada de ter assassinado seu pai. Alejandro Cabello, o dono de uma multinacional bilionária. Porém não se sabe ainda, se ela tem a sanidade mental necessária, para responder por esse crime...