23 JANUARY, 1990
LONDRES"Elas foram dadas como as principais suspeitas. E toda a investigação está ao redor das duas. Como Camila ficou um mês internada, sua confissão teve mais credibilidade e estão aguardando o mandato, para que Sinuhe faça o exame. Já que até agora, seu advogado conseguiu driblar todas as tentativas. Acredito que dessa vez, ela não consegue sair impune, pois se conseguirem o exame e ele der positivo, a investigação vai ser reiniciada. E bom, espero que todas as provas apontem para a real culpada." A filha do delegado confirmou as informações em uma ligação com a psiquiatra. Suspirando, Lauren agradeceu e desligou o telefone. Ela não esperava que as coisas demorassem. Na verdade, achou que tudo correria rapidamente e logo, logo, Karla estivesse livre. Mas uma semana já havia se passado e ela via a ansiedade da adolescente de perto.
A maneira como ela fugia de seus questionamentos, apenas a assustava. Lauren tinha medo de ter perdido o controle. O olhar de Camila não era mais o mesmo e todo o progresso que haviam feito, parecia ter estacionado.
Saindo do consultório, a psiquiatra entrou no carro, respirando fundo antes de girar a chave na ignição e dirigir até a instituição psiquiátrica comandada pela igreja. Batucava os dedos contra o volante, em uma pura reação ansiosa. Iria abordar a paciente de um modo diferente hoje e esperava sair-se bem.
No dia anterior, algo muito preocupante para Jauregui aconteceu em uma das sessões. Karla se perdeu em um episódio de dissociação de realidade e se tornou um de seus personagens. Apesar de ter durado apenas por alguns minutos, foi desesperador para Lauren, pois aquilo definitivamente não podia voltar a acontecer. Aquilo poderia invalidá-la mais uma vez. Fora as preocupações pessoais da psiquiatra, que ficavam cada vez mais explícitas.
Ao se sentir ameaçada, a adolescente respondia com luxúria e insinuava-se sexualmente, dificultando ainda mais o trabalho da mulher. Era torturante.
Suas teorias se baseavam no encontro com a mãe, depois de algum tempo. Um encontro com Sinu, sem personagens. Apenas a própria personalidade principal e única, que comandava e criava todas as outras, derivadas de toda a pressão, medo e dor que a mãe causava. Aquilo foi demais para Camila. O pesar de testemunhar contra a mulher que a gerou, por mais que ela fosse um monstro.
Lauren não entendia, como a sua menina podia enxergá-la daquela maneira. Apenas dizia, "acima de tudo ela e minha mãe e eu a amo." aquilo não era amor, não era recíproco. A mais velha não entendia e não queria que Karla continuasse a respeitando e se sentindo mal por expor todas as coisas ruins que Sinuhe fez ao longo de sua vida. Aquilo estava errado.
Estacionando o carro, ela saiu com a sua bolsa no ombro, quando uma freira correu ao seu encontro. A sua expressão era de terror e só aquilo bastou para que o coração da morena se acelerasse.
"O que aconteceu?" Ela perguntou, enquanto sua voz soava mais rouca que o normal e um soluço nervoso escapava de seus rosados lábios entre abertos.
"A s-sua paciente. Karla. Karla não está bem.." A mulher ainda iria terminar, quando a psiquiatra correu até a entrada do sanatório. Seus olhos corriam por cada cômodo, mas mesmo assim não encontrava a figura de Camila.
Seus batimentos cardíacos estavam cada vez mais rápidos, o suor frio já escorria pela sua testa e a visão se tornava turva, dificultando a procura.
Lauren correu á sala de recreação e foi lá que encontrou que jovem menina inclinada tossindo severamente, tapando os ouvidos, sentada no centro de uma mesa, enquanto a madre superior a tentava tirar de lá e o resto dos internos a encaravam curiosos. A morena se aproximou, podendo dessa vez ouvir nitidamente o grito da mais nova.
"Saiam!" Ela berrou antes de voltar a tossir e entrar em uma crise respiratória. Alguns enfermeiros já a agarravam pelos braços, quando a psiquiatra interviu.
"Não, não!" Jauregui contrariou. "É só uma crise boba. Garanto que posso resolver isso bem rápido. É fácil." Ela riu falsamente, enquanto estendia a mão até Karla, tocando a mão fria da garota. "Será melhor se vocês saírem, sabem como são esses doidos né.."
"Não sei se aprovo esse tipo de envolvimento com "esses doidos".." A madre verbalizou zombando do termo usado pela psiquiatra. "Espero que resolva isso logo ou seremos obrigados a intervir de outra maneira." Foi a última coisa que a mulher disse antes de sair, mas Lauren não prestava a atenção nisso. Só conseguia focar nos murmúrios angustiantes de Karla. Sua boca se mexia levemente, denunciando que falava, apesar do tom inaudível.
Ela apertava as mãos contra as orelhas e chorava intensamente. Seu roupão hospitalar tinha respingos do sangue que escorria de suas mãos e braços cortados. Se aproximando ainda mais da menina, a psiquiatra entrelaçou seus dedos.
"Camzi.." Ela chamou pelo apelido. "Eu preciso que você abra os olhos, bem devagar. Abra os olhos. E respire fundo. Respira comigo. Bem devagar." A voz da mulher era suave e a mesma quase sussurrava a informação nos ouvidos da adolescente, que pouco a pouco, acabava a obedecendo. "Fique calma."
"Mas eles não saem da minha cabeça.." Ela sussurrou em resposta, cedendo e agarrando a mão de Lauren, que a tirou da mesa e caminhou lentamente com ela, até sua sala. Sua respiração já havia normalizado e sentada na pequena poltrona surrada, em frente a mesa de madeira, ela tinha suas mãos unidas. O olhar baixo. E todo o som ecoado no pequeno cômodo era o choro, acompanhado dos soluços doloridos da menina.
Lauren foi até sua mesa, tirando de lá uma pequena mala de primeiros socorros. Se agachando na frente de Camila, ela limpou seus cortes, junto de seus braços e mãos, os enfaixando logo depois. E nenhuma palavra foi proferida, até que a morena guardasse todos os utensílios usados e se sentasse ao lado da paciente.
"Quando estiver pronta.." Ela soprou, hesitante. Estava ansiosa e nervosa. Naquele momento, ela quem precisava de uma consulta com terapeuta. Abraçando as próprias pernas, balançava a cabeça negativamente. Levou as mãos até os cabelos os jogando para trás, junto da cabeça, enquanto sentia o sangue correr cada vez mais rápido pelas suas veias. Imaginava o que aconteceria, se não tivesse chegado a tempo. Com certeza, Karla seria espancada ou submetida a algum outro tratamento doentio existente. E sem conseguir mais se conter, puxou a menina para um abraço.
"Para de chorar por favor. E me conta o que aconteceu." Ela pediu em uma súplica, apertando a outra contra si. "Você está tomando seus remédios como combinamos?"
Correspondendo ao abraço, a mais nova encostou a cabeça no ombro da psiquiatra, se encolhendo ao seu toque e ao seu olhar intimidador.
"Eu não estou bem."
"Você se cortou?"
"É um costume antigo," Ela respirou fundo antes de retomar a fala. "foi a única forma que encontrei de aliviar tudo isso. Está tudo uma confusão, Lauren." Sua voz se tornava cada vez mais embargada a medida que mais uma palavra saia de sua cabeça. "Como foi que tudo chegou até aqui? Eu estou tão sozinha."
"Eu não sei como tudo isso chegou em um ponto tão crítico para você, mas eu sei que podemos consertar. Eu sei que as coisas vão dar certo, por mais clichê que isso soe. Você não está sozinha. Eu estou aqui e não importa o resto, eu prometo que nunca vou te deixar, mas eu preciso que você não me deixe também!" Em um tom exasperado, Lauren a respondeu rapidamente. Deixando ser dominada por seus sentimentos. Camila a puxou para um beijo e após algum momento abraçadas, a psiquiatra voltou para seu lugar de costume. "Mas agora, quero que a gente faça uma das nossas sessões, como sempre fizemos, certo? E que você seja 100% sincera comigo, por favor."
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Sweet Misery
FanfictionKarla Camila Cabello é uma problemática jovem de 16 anos, acusada de ter assassinado seu pai. Alejandro Cabello, o dono de uma multinacional bilionária. Porém não se sabe ainda, se ela tem a sanidade mental necessária, para responder por esse crime...