C A P Í T U L O 4

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Acordei no apartamento de Greg lá pelas sete da manhã e peguei o telefone. Disquei o número de Jim, escutei tocar três vezes, dar um clique e tocar o bipe da secretária eletrônica sem qualquer mensagem . Deixei um lacônico "Me liga" e desliguei. Ele não ficaria nada satisfeito. A manhã após uma noite de caça era o momento para uma contemplação serena, tão sagrada para os metamorfos como a meditação para um monge Shaolin. Presos entre Homem e Fera, eles procuravam obter controle completo sobre cada um, e então viam o nascer do sol olhando para si mesmos. Após concluírem o momento de autorreflexão, sucumbiam a um sono tranquilo. Eu não duvidava de que Jim caçara ontem à noite na Unicorn. Ele já deveria estar dormindo, e a máquina apitaria anunciando a mensagem até o deixar louco. Sorri ao pensar nisso.

Alonguei-me, trabalhando os músculos dos ombros e costas. Chutei as sombras na parede com toda a força que possuía, mas nunca tocando meu adversário imaginário. Alternei entre alguns chutes básicos, como frontal, circular e de impulso, terminando com formas mais elaboradas. Dez minutos depois eu começava a suar, mas continuei por mais vinte minutos, trabalhando principalmente a força nos braços, ombros e tórax. Greg não tinha pesos, então usei um pesado cetro de chumbo em vez de um haltere. Era mal equilibrado, mas melhor do que nada.

Eu não malhava há alguns dias e me senti mais fraca do que o normal. Ainda assim, o esforço controlado e determinado me fez bem e meu humor melhorou pouco a pouco, tanto que, na hora de ir para o chuveiro, eu estava quase alegre.

O telefone tocou no instante em que minha mão encostou na porta do banheiro. Dei uma volta de cento e oitenta graus, esperando que fosse Jim na linha.

— Jim?

— Olá — disse uma voz masculina. Era uma voz agradável, bem modulada e clara. Eu a ouvira antes, mas demorei um minuto para conseguir lembrar onde.

— Doutor... Crane?

— Crest.

Claro, o médico de caridade com nome de pasta de dentes. Como diabos ele conseguiu meu número?

— Posso ajudá-lo?

— Gostaria de convidá-la para almoçar comigo. Chato persistente.

— Como você conseguiu meu número?

— Liguei para a Ordem e menti para eles. Disse que tinha informações sobre

o vampiro morto e lhes dei minhas credenciais. Eles forneceram este número.

— Entendo.

— Então, você me acompanha?

— Estou muito ocupada.

— Mas você tem que comer de vez em quando. Eu realmente gostaria de vê-la novamente, em algum lugar menos formal. Dê-me uma chance e, se o almoço não der certo, desaparecerei da sua vista.

Pensei sobre isso e percebi que queria dizer sim . Era uma coisa completamente absurda de se fazer. Eu estava sentada em cima de uma bomba e tanto a Matilha quanto a Nação estavam prestes a acender o pavio, e aqui estava eu, pensando em um encontro. Há quanto tempo não saía para um encontro de verdade? Dois anos?

— Negócio fechado — disse. — Eu o encontro entre meio-dia e meio-dia e meia no Las Colimas. Você sabe onde é?

Ele sabia.

— Dr. Crest?

— Só Crest, por favor.

— Crest, por favor, não ligue para a Ordem novamente.

Eu esperava que ele ficasse surpreendido, mas apenas disse alegremente:

— Sim, senhora! E desligou.

Sangue Mágico - Kate Daniels Vol 01.Onde histórias criam vida. Descubra agora