A Matadora repousava em sua bainha na mesinha de cabeceira, ao lado de um homem lendo um livro velho. Na capa do livro, um homem de terno marrom e chapéu segurava uma loura inconsciente vestida de branco. Tentei enxergar o título, mas as letras brancas ficaram turvas.
O homem com o livro vestia um uniforme azul. Ele cortara as pernas da calça logo abaixo das coxas e eu podia ver um jeans surrado debaixo do tecido azul. Virei a cabeça para olhar os pés dele. Botas pesadas de trabalho acompanhavam o jeans.
Inclinei-me sobre o travesseiro. Meu pai estava certo: o paraíso existia e ficava no Sul.
O homem abaixou o livro e olhou para mim . De estatura média e atarracado, tinha a pele escura com um brilho de ébano e cabelos grisalhos cortados no estilo militar. Os olhos atrás dos óculos de armação fina eram ao mesmo tempo inteligentes e repletos de humor, como se alguém tivesse lhe contado uma piada de mau gosto e ele estivesse se esforçando para não rir.
— Linda manhã, não? — disse ele, as harmonias inconfundíveis da Geórgia vibrando em sua voz.
— Não deveria ser "né"? — eu disse. Minha voz soou fraca.
— Só se você for um tolo ignorante — disse o homem . — Ou se quiser parecer um caipira. E sou velho demais para parecer ser algo que não sou.
Ele se aproximou e tomou meu pulso nas mãos. Seus lábios se moveram, contando os batimentos cardíacos, então seus dedos tocaram delicadamente meu estômago. A dor me trespassou. Eu me retraí e respirei fundo.
— Em uma escala de um a dez, quanto dói? — perguntou ele, os dedos examinando meu ombro. Fiz uma careta.
— Cerca de cinco.
Ele revirou os olhos.
— Deus me ajude. Mais um caso difícil nas mãos.
Escreveu alguma coisa num bloco amarelo. Estávamos em um quarto pequeno, com paredes de cor creme e teto rebaixado. Duas grandes janelas derramavam a luz do sol no chão e lençóis azuis cobriam minhas pernas.
O homem largou a caneta.
— Agora, quem disse a você, mocinha, que pode colocar um kit-r e marchar montanha abaixo para a batalha precisa de uma boa surra. Se qualquer coisa mágica atingir a bandagem, a maldita coisa vai ferrar você de vez.
— Ferrar — disse eu. — É um termo médico?
— Claro. Siga o dedo com os olhos, por favor. Não vire a cabeça.
Ele moveu o dedo indicador esquerdo e eu o segui com os olhos.
— Muito bem — disse ele. — Conte até vinte e cinco. Contei e ele assentiu com a cabeça, satisfeito.
— Parece, veja bem, só parece, que você se livrou de uma concussão.
— Quem é você?
— Pode me chamar de doutor Doolittle — disse ele. — Naveguei noite e dia, semanas a fio, para onde vivem os monstros, e agora sou seu médico particular.
— Esse foi o Max. — A dor torceu meu quadril e eu gemi. — Não o doutor Doolittle.
— Ah — disse ele —, é um prazer conhecer uma pessoa culta.
Olhei para ele por um momento, mas ele só riu de mim com os olhos.
— Onde nós estamos?
— No forte da Matilha.
— Como cheguei aqui?
— Trouxeram você.
Senti vontade de esfregar a testa e percebi que tinha um tubo de soro pendurado no meu braço.
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Sangue Mágico - Kate Daniels Vol 01.
FantasySe não fosse pela magia, Atlanta seria uma boa cidade para viver. No momento em que a magia domina, os carros param e as armas falham. Quando a tecnologia assume, os feitiços de proteção já não protegem sua casa dos monstros. Aqui, os arranha-céus s...