C A P Í T U L O 7

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A Matadora repousava em sua bainha na mesinha de cabeceira, ao lado de um homem lendo um livro velho. Na capa do livro, um homem de terno marrom e chapéu segurava uma loura inconsciente vestida de branco. Tentei enxergar o título, mas as letras brancas ficaram turvas.

O homem com o livro vestia um uniforme azul. Ele cortara as pernas da calça logo abaixo das coxas e eu podia ver um jeans surrado debaixo do tecido azul. Virei a cabeça para olhar os pés dele. Botas pesadas de trabalho acompanhavam o jeans.

Inclinei-me sobre o travesseiro. Meu pai estava certo: o paraíso existia e ficava no Sul.

O homem abaixou o livro e olhou para mim . De estatura média e atarracado, tinha a pele escura com um brilho de ébano e cabelos grisalhos cortados no estilo militar. Os olhos atrás dos óculos de armação fina eram ao mesmo tempo inteligentes e repletos de humor, como se alguém tivesse lhe contado uma piada de mau gosto e ele estivesse se esforçando para não rir.

— Linda manhã, não? — disse ele, as harmonias inconfundíveis da Geórgia vibrando em sua voz.

— Não deveria ser "né"? — eu disse. Minha voz soou fraca.

— Só se você for um tolo ignorante — disse o homem . — Ou se quiser parecer um caipira. E sou velho demais para parecer ser algo que não sou.

Ele se aproximou e tomou meu pulso nas mãos. Seus lábios se moveram, contando os batimentos cardíacos, então seus dedos tocaram delicadamente meu estômago. A dor me trespassou. Eu me retraí e respirei fundo.

— Em uma escala de um a dez, quanto dói? — perguntou ele, os dedos examinando meu ombro. Fiz uma careta.

— Cerca de cinco.

Ele revirou os olhos.

— Deus me ajude. Mais um caso difícil nas mãos.

Escreveu alguma coisa num bloco amarelo. Estávamos em um quarto pequeno, com paredes de cor creme e teto rebaixado. Duas grandes janelas derramavam a luz do sol no chão e lençóis azuis cobriam minhas pernas.

O homem largou a caneta.

— Agora, quem disse a você, mocinha, que pode colocar um kit-r e marchar montanha abaixo para a batalha precisa de uma boa surra. Se qualquer coisa mágica atingir a bandagem, a maldita coisa vai ferrar você de vez.

— Ferrar — disse eu. — É um termo médico?

— Claro. Siga o dedo com os olhos, por favor. Não vire a cabeça.

Ele moveu o dedo indicador esquerdo e eu o segui com os olhos.

— Muito bem — disse ele. — Conte até vinte e cinco. Contei e ele assentiu com a cabeça, satisfeito.

— Parece, veja bem, só parece, que você se livrou de uma concussão.

— Quem é você?

— Pode me chamar de doutor Doolittle — disse ele. — Naveguei noite e dia, semanas a fio, para onde vivem os monstros, e agora sou seu médico particular.

— Esse foi o Max. — A dor torceu meu quadril e eu gemi. — Não o doutor Doolittle.

— Ah — disse ele —, é um prazer conhecer uma pessoa culta.

Olhei para ele por um momento, mas ele só riu de mim com os olhos.

— Onde nós estamos?

— No forte da Matilha.

— Como cheguei aqui?

— Trouxeram você.

Senti vontade de esfregar a testa e percebi que tinha um tubo de soro pendurado no meu braço.

Sangue Mágico - Kate Daniels Vol 01.Onde histórias criam vida. Descubra agora