C A P Í T U L O 8

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A luz do dia entrava pela janela, fazendo cócegas no meu rosto. Bocejei e me aconcheguei debaixo das cobertas. Não queria acordar. Ainda não. Em retrospectiva, sair da cidade perto da meia-noite com um quadril dolorido não foi uma ideia muito inteligente, especialmente considerando que a tecnologia voltou por volta das quatro da manhã e minha caminhonete parou de funcionar a um quilômetro e meio de casa. Mas consegui chegar antes do nascer do sol e agora nada disso importava. Eu estava em casa.

Enfiei o rosto no travesseiro, mas a luz do sol era insistente e me espreguicei, suspirando. Meus pés descalços tocaram o chão aquecido pelo sol e fui alegremente para a cozinha fazer um café.

Lá fora, o final da manhã atingia o auge. O céu estava azul. Não havia vento nos arbustos. A janela da cozinha implorava para ser aberta. Eu a destravei e empurrei a metade de baixo, para deixar o ar marinho entrar na casa. Minha casa. Até que enfim .

No quintal, localizado de modo que pudesse ser visto da cozinha ou da varanda, erguia-se uma vara. Espetada na vara, havia uma cabeça humana.

Cabelos compridos soltos em mechas endurecidas de sangue. Olhos pálidos saltados das órbitas. A boca aberta com moscas-varejeiras se reproduzindo entre os lábios rasgados.

Aquilo estava tão deslocado no meu mundo iluminado pelo sol que não parecia real. Não podia ser real.

Um inconfundível cheiro de podridão penetrou minha cozinha. Corri para o quarto, estremecendo de dor, peguei a Matadora e fui para a porta da frente. Meus feitiços de proteção estavam funcionando. Cautelosamente, abri a porta e saí para a varanda.

Nada.

Nenhum som . Nenhum poder.

Nada além de uma cabeça podre no meu quintal.

Aproximei-me da cabeça e a circulei lentamente. Pertencia a uma mulher jovem . Ela morrera recentemente — a expressão de terror ainda estava congelada em seu rosto.

Um prego prendia um pedaço de papel dobrado na parte de trás da cabeça. Levantei o papel com a ponta da lâmina da Matadora. Letras tortas olharam para mim .

Gostou do meu presente? Fiz especialmente para você. Quando vir

seu amigo mestiço, diga que não vou desperdiçar a cabeça dele assim. Vou arrancar cada pedaço de carne dos seus ossos. Vou me empanturrar com sua carcaça até não conseguir mais andar e deixar meus filhos terminarem com o resto enquanto descanso fodendo mulheres mestiças. Carne de mestiço tem gosto de merda, mas tem boa textura. Olathe nunca soube apreciar isso. É uma pena o que você fez com o vestido dela. Eu gostava dele.

Entrei em casa e liguei para Jim .

A cabeça morta olhava para Jim . Jim olhava para a cabeça.

— Você conhece muita gente louca — disse ele.

— O nome dela deve ser Jennifer Ying — disse. — O cabelo tem textura mongoloide. Ela é uma das mulheres desaparecidas cujos nomes encontrei no arquivo do Feldman. A cabeça não estava aqui quando cheguei, por volta das quatro e meia da manhã.

Jim cheirou a cabeça.

— Morte fresca. Um dia, talvez um dia e meio no máximo — disse ele. — Você precisa ligar para Curran.

— Ele não vai me dar ouvidos. Acha que sou uma caçadora de glória.

Jim deu de ombros. Trabalhamos juntos tempo suficiente para saber que nenhum dos dois estava interessado em fama.

— Você o irrita demais.

— Tem outra coisa. — Levei-o até a varanda. Um amontoado de ossos humanos estava disposto sobre uma lona, abrangendo a varanda inteira.

Sangue Mágico - Kate Daniels Vol 01.Onde histórias criam vida. Descubra agora