Capítulo 19

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Anitta narrando

Johnny me olhou por alguns instantes e sorriu abaixando a cabeça e direcionando seu olhar pro chão.

- O que foi? -perguntei desconcertada-
- Nada -sorriu voltando o olhar pra mim- É só que... -pareceu pensar nas próximas palavras- Esquece, não é nada -e novamente deixou de me olhar enquanto balançava a cabeça de um lado pro outro sorrindo com leveza-
- Ah, me diz, fiquei curiosa. É algo ruim?
- O quê? Não, não, que isso -riu- Só pensei como é engraçado estar com você aqui agora. Quer dizer, a gente praticamente cresceu junto e eu sempre te cuidei como uma irmã e agora... bom, olha a mulher que você se tornou -eu sorri ouvindo suas palavras- Está linda Anitta, e é uma mulher admirável -disse se virando pra mim e olhando no fundo dos meus olhos-
- Obrigada -o observei de perto sorrindo-

John se aproximou de forma lenta e praticamente imperceptível pra mim que estava focada em seus olhos brilhantes. Antes que eu pudesse me afastar senti seus braços envolverem minha cintura e sua boca tocar a minha. De início fiquei paralisada mas segundos depois fui tomada pela curiosidade e o desejo.
Devolvi o beijo na mesma intensidade e quando recobrei a realidade o empurrei rapidamente.
Johnny me olhou como se procurasse uma explicação.
- Eu não posso -foi a única coisa que consegui dizer e meus pensamentos retornaram no dia em que eu e Th nos beijamos pela primeira vez na minha cozinha e eu reagi da mesma forma-
Não que eu estivesse comparando os dois, eram casos e pessoas completamente diferentes. O fato é, eu estava apaixonada por Th, por mais que eu odiasse esse sentimento, eu não poderia negar. E Johnny era mais como um amigo e eu não poderia fazer isso com ele. Quero dizer, seria como usa-lo para satisfazer minha carência de Th.

O homem a minha frente ainda me olhava confuso.

- Me desculpe, eu... -olhei pros lados como quem procura a porta mais próxima pra sair correndo- Eu tenho que ir -disse ja me direcionando pra porta com passos apressados-
- Anitta, não -John veio atrás de mim-

Senti seu braço me segurar assim que ia abrir a porta da casa e ele me virou rapidamente me deixando sem saída.

- Eu que peço desculpas, quer dizer, eu não deveria ter feito isso, só... -o interrompi-
- Eu estou apaixonada por outra pessoa -falei de uma vez- Eu não posso fazer isso com você, não é como se fosse sincero, e não é justo. Você é incrível Johnny, e nesses dias eu andei me perguntando tanto o porquê de eu não me apaixonar por um cara como você, mas eu não sei a resposta, eu não sei -disse o final um pouco mais fraco perdida em pensamentos- Eu preciso mesmo ir, me desculpe.

Sem esperar resposta virei e abri a porta saindo dali.
Podia parecer bobo mas eu estava derramando lágrimas por isso.
Eu realmente não conseguia entender porque eu tinha que me apaixonar logo pelo cara mais difícil, mais instável, mais duro que eu conheço.
Cheguei em casa e subi as escadas rapidamente batendo a porta do quarto como minha época rebelde, assim que passei.
Me joguei de barriga pra baixo na cama e apertei o travesseiro com toda força que eu conseguia.
Eu queria bater em Th por me fazer ficar dessa forma.
Logo eu que fugi tanto de sentimentos profundos depois da má experiência com Rodrigo, me via apaixonada por quem simplesmente resolveu sumir por um tempo.

Eu estava com raiva, e ficava com mais raiva ainda por não conseguir controlar. Não era assim que eu queria agir, não era isso que eu queria sentir.
E de uma forma estranha, ao mesmo tempo que eu queria socar Th, eu queria beija-lo. E isso só fazia com que eu ficasse mais confusa ainda.

Respirei fundo tentando controlar a minha raiva, repeti o ato várias vezes. Depois de um tempo me levantei e fui em busca de um banho quente.

Junto com a água que descia ralo abaixo eu queria que descesse todos os meus problemas pois não estava sabendo lidar com os mesmos.

Sem pestanejar deixei que mais lágrimas escorressem pelo rosto até que, ao menos elas, descessem pelo ralo.
Senti minha cabeça latejar e esse era visivelmente o aviso de que eu precisava de um remédio rápido o suficiente pra não deixar a dor se intensificar.
Desliguei o chuveiro e sai do box me enxugando, depois de me enrolar na toalha fui para o quarto e vesti um pijama de seda.

Ja estava tarde, do outro lado dos vidros da sala nada mais se via do que a escuridão e uma pequena luz ao longe, era a luz da varanda de Johnny.

Me direcionei para a cozinha afim de encontrar um remédio para a minha mais nova dor de cabeça. Depois de um bom tempo procurando finalmente encontrei e assim que tomei retornei a subir as escadas.

Tranquei a porta do quarto e abri o guarda roupa, retirei o notebook e la estava, tudo que eu precisava para invadir o sistema, só o que faltava era a minha vontade.

Deletei todos os programas instalados especificamente para isso e excluí todos os dados. Por fim decidi que não vale a pena.
Todo esse custo pra invadir o sistema dos meus irmãos, descobri sobre a vida de Th, me passar por outra pessoa. Nada disso valia a pena agora, porque no fim das contas era eu por mim. Th não estava mais ali, ele tinha sumido. E eu não poderia fazer nada a respeito além de seguir em frente, porque é disso que se trata a vida.
Você cai e levanta logo em seguida, pois o ato de estar sempre tentando é o que nos faz fortes cada dia mais, e não o ato de cair e continuar no chão.

Fechei o notebook e coloquei ele em cima do criado mudo ao lado da cama.
Me aconcheguei no meio dos travesseiros e da coberta e não demorou muito pra que eu caísse no sono.

Caprichos do coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora