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O dia seguinte passou rotineiramente, fiz minhas atividades domésticas de fim de semana durante toda a manhã, limpei minha casa deixando tudo organizado e arrumadinho como gosto, lavei roupa e arrumei um pouco meu pequeno jardim. Quando me dei conta já estava no meio da tarde e não parei nem pra almoçar. Dando minha faxina por encerrada, tomei um bom banho, pus um vestidinho leve acompanhado por uma rasteirinha, prendi o cabelo em um rabo de cavalo e resolvi ir ao supermercado comprar algumas coisas.

Nunca me considerei um ícone de beleza, mas me olhando no espelho fico satisfeita com o que vejo. Os homens fazem questão de me observar por onde passo, penso que seja coisa da natureza masculina. Olho-me no espelho mais uma vez e o que vejo é uma mulher morena de 1,60mt, não sou magra esguia gosto de comer bem e não tenho remorsos por isso, meus 60kg são bem distribuídos em um busto tamanho médio de seios firmes e uniformes que não se rendem à gravidade, minha cintura e fina e os quadris avantajados combinados com um belo bumbum e coxas grossas. Tenho o físico típico da mulher brasileira. Tudo isso combinado com longos cabelos negros e lisos que se estendem até abaixo da minha cintura, um rosto levemente arredondado e olhos castanhos que parecem de boneca. Mas o que mais amo em mim são as covinhas que aparecem no meu rosto quando sorriu.

Quando passo do portão e paro na calçada sinto um sobressalto no peito lembrando imediatamente do beijo de Miguel. Balanço a cabeça tentando em vão dissipar o pensamento, tarde demais, estava tudo de volta, a sensação de possessão, o calor dos lábios dele apesar da água gelada da chuva, a força de suas mãos me segurando firme e delicadamente ao mesmo tempo, o balé de nossas línguas desbravando nossas bocas e o desejo. Não... só agora me dei conta eu estou sentindo desejo, pela primeira vez na vida eu quero aquele beijo novamente. Ponho a mão na cabeça um pouco desorientada pelo turbilhão de emoções. Respiro um pouco e me acalmando começo a andar.

Sem acreditar muito no que estava sentindo fiz meu caminho até o mercado perdida nas lembranças da noite anterior, peguei um carrinho de compras e coloquei as coisas que precisava sem prestar muita atenção, em um modo automático por assim dizer. Parei diante de uma prateleira e olhei para ela fixamente como se quisesse lembrar o que fazia ali. De repente fui tomada pela mesma sensação de choque e prazer que senti quando segurei a mão de Miguel no dia anterior. Porem agora o choque vinha da minha nuca. Olhei assustada para os lados e dei de cara com Miguel ao meu lado puxando de leve os fios do meu cabelo. Fiquei vermelha e um pouco sem graça e o cumprimentei.

- Oi Miguel! Desculpa estava distraída e não percebi você chegar. Falei meio apressada com a ansiedade denunciada na voz.

- Desculpa você eu cheguei sem fazer barulho e te assustei, ainda mais assim pegando no seu cabelo. Essa ultima frase foi dita em um sussurro tão próximo que pude sentir o calor exalando dos seus lábios. Isso fez um arrepio percorrer minhas costas e descer por meus braços.

Acho que ele percebeu esse efeito, não falou nada, deu apenas um sorriso sensual que diz já ter percebido que me afeta. Isso me fez inspirar profundamente. Não sei se por educação ou por querer mais daquele momento casual Miguel se ofereceu para me ajudar a levar as compras para casa, mesmo com as tentativas de recusar acabei cedendo, e, mais uma vez, me vi percorrendo o caminho até minha casa acompanhada por um estranho que estava deixando meus hormônios à flor da pele.

Como se o destino quisesse me pregar uma boa peça, estava agora refazendo meus passos do dia anterior e antecipando em minha mente as emoções que senti e que sabia, queria sentir novamente, mas, minha mente não cansava de me questionar sobre o que iria fazer quando chegasse lá. Será que o convido a entrar? Ou devo me despedir no portão, afinal ele ainda é um estranho? Converso um pouco na calçada pra não demonstrar meu interesse iminente?... as perguntas saltavam na minha cabeça como medalhistas olímpicas de salto sobre o cavalo. Como que por encanto Miguel parecia saber exatamente o que me afligia e cortando o ar pesado que exalava entre nós falou:

- Antônia você aceita sair comigo amanhã à noite? – podemos comer uma pizza, tomar um sorvete ou só jogar conversa fora como dois bons amigos. Muita coisa passava no semblante dele enquanto falava, só não pude identificar o que era.

- não sei se devemos mal nos conhecemos e eu não sou muito boa com relacionamentos. Respondi deixando claro em minha voz que algo me preocupava bastante, e que com toda certeza os homens não eram assim tão bem vindos ao meu meio social. Não que os tratasse mal, era só que uma angustia evidente aparecia quando o assunto era o sexo oposto.

- Iremos passear e conversar como amigos. Não precisa ficar com medo. Nesse momento ele se aproximou do meu ouvido e sussurrou de uma forma envolvente. – Prometo que não vou beijá-la impulsivamente outra vez, a menos que você queira. Agi assim ontem por que não resisti ao encanto da sua boca.

Meu corpo estremeceu e lutei para me recompor rapidamente. Como já estávamos perto da minha casa respondi que aceitaria o convite enfatizando a parte de sairmos apenas como amigos. Não o convidei para entrar e ele pareceu não se importar com isso. Despedimo-nos como bons amigos, e, cada um foi para seu lado.

Quando entrei em casa senti-me desnorteada, tonta e minhas pernas não obedeciam aos comandos do corpo. Na noite anterior com o escuro, a chuva, o mau humor e a euforia do beijo, não prestei muita atenção em Miguel. Hoje, porem, com a claridade do dia e a cabeça fria me atentei para os mínimos detalhes. Ele é um homem alto com cerca de 1,80mt, forte, com músculos definidos, ombros largos, coxas grossas, bumbum redondinho, cabelos cor de cobre e lindos olhos castanhos claros tom de mel. Um verdadeiro Deus.

Rindo com esse pensamento parei e pensei, e por que não, ele é lindo solteiro, atraente, sedutor e beija divinamente, bem que poderíamos nos conhecer melhor. Mudei o semblante no mesmo instante, a quem quero enganar, me livrar dos fantasmas e confiar nos homens outra vez seria uma tarefa dolorosa e árdua.

No dia seguinte após passar a noite quase toda acordada ponderando minhas próximas decisões, resolvi ser amiga de Miguel. Tenho alguns amigos homens e sabia que se não aprofundasse a relação minha zona de conforto estaria preservada. Mesmo sabendo que o que senti com Miguel foi diferente de tudo que já me aconteceu, não poderia me entregar a esse sentimento, definitivamente não. Depois de tudo que me aconteceu durante minha vida, não podia mais sofrer e faze-lo sofrer por uma situação da qual, ambos não temos culpa, mas que consequentemente afetaria a nós dois.

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