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           Enquanto entravamos ainda olhei para Cristine. Como uma mulher pode se desvalorizar tanto e ser capaz de atitudes tão mesquinhas. Ainda bem que ela apenas se resumiu a sua insignificância e foi embora sem dizer nada. Olhei de relance para Miguel enquanto ele abria o portão para que nós entrássemos. Ele estava ainda mais lindo. A barba por fazer, o maxilar contraído, os olhos com um brilho intenso que acentuava a sua cor, parecia um modelo de calça jeans e uma camisa social com as mangas dobradas. Eu tentava digerir tudo aquilo e entender como alguém poderia ser tão sórdido. Como eu tinha sido tão idiota... Porque não o procurei? Não abri o jogo. Como me deixei levar pelas mentiras de uma louca?... Eu só não podia deixar de apreciar o belo espécime de homem ao meu lado.

Quando entramos antes que eu dissesse qualquer coisa, Miguel me puxou para os seus braços, me agarrou pela cintura e me beijou. Ah como senti falta desse beijo. Naquele momento nada mais importava. Parecia que a única coisa que eu dependia pra viver era do beijo dele. Terminamos o beijo sem folego. Ele continuou agarrado à minha cintura enquanto eu lhe acariciava o pescoço e os cabelos.

- quer sentar? Quer beber alguma coisa? Perguntei.

- sentar sim, beber algo não. Respondeu. – venha aqui. Sente-se aqui comigo. Precisamos conversar seriamente.

As palavras de Miguel me reportaram para uma dura realidade, eu não havia lhe dado sequer o beneficio da dúvida, não confiara nele e ainda o expulsara de minha vida sem qualquer explicação. A conversa com certeza não seria fácil. Miguel me beijou com ardor, urgência e amor, todavia, suas palavras demonstravam sua decepção e o quanto estava magoado com tudo isso.

- Antônia me responda, por favor! Por que você fez isso comigo? Com nós dois? Por que não me contou o que estava acontecendo? Por que não confiou em mim? Essas ultimas palavras foram ditas num sussurro. Miguel não pôde esconder o quanto se sentia mal e consternado, o quanto seu eu estava ferido. Ele jamais se permitira ser desonesto ou mentir pra alguém, como ele poderia trair de forma tão mesquinha e arrogante a mulher que ama.

- Miguel meu amor me perdoa? Eu não pensei direito, senti tanto ciúmes que meus pensamentos foram bloqueados, não consegui raciocinar. Ouvir os estudantes falando aquelas coisas me deixou com tanta raiva, com medo, e, também me deu um estalo de consciência. Cristine tem razão, você é homem e tem suas necessidades e eu estou longe de satisfazê-las, eu não sou mulher pra você.

Disse essas coisas com um nó em minha garganta, essa constatação era demais pra mim, amo Miguel com todas as minhas forças e saber que não era e talvez jamais fosse ser mulher para ele em todos os sentidos me fez sentir uma dor tão forte que passou de dor emocional para dor física. Não aguentando mais aquele turbilhão de sensações me entreguei às lágrimas.

Miguel permaneceu em silêncio por alguns minutos, parecia processar tudo aquilo. Então falou:

- Antônia, não sei nem o que pensar de tudo isso, estou tão aturdido, tão chateado. Você tem ideia do que eu passei essa semana sem ti ver, sem saber o que tinha acontecido pra você não me querer mais, pra entender o que fiz de errado... Uma conversa, poucas palavras teriam evitado tudo... Mas o que mais me entristece é a sua desconfiança. Nunca te dei motivos pra desconfiar de mim, sempre te dei provas do meu amor...

Essas palavras foram adagas afiadas perfurando meu coração. Ele tinha toda razão, era um homem como poucos, jamais me deu um menor motivo sequer pra ter dúvidas com relação a nós. Fui uma tola e não sei como me redimir. Ele continuou falando.

- E quem disse que você não é mulher pra mim? O que você pensa que eu sou? Algum maníaco sexual? Eu sei que sexo faz parte da natureza do homem, só que nem todos agem descontroladamente. Eu não sou do tipo que transa por transar. Sexo pra mim é uma coisa pra ser fazer com sentimento. Eu não transo, eu faço amor intensamente. Alias, não sei se conseguiria dormir com outra mulher sendo que você não sai da minha cabeça.

- Miguel você já pensou em fazer amor comigo? - Perguntei com tremor na voz e muito constrangida.

- Sim! Respondeu. – Penso nisso todos os dias. Te desejo demais meu amor. Penso no dia que você vai ser minha esposa, que vou dormir e acordar contigo, que vamos nos amar muito, que vamos ter filhos e construir uma linda família.

- Ah Miguel! Será que um dia poderei ser isso tudo pra você? Tenho medo de não corresponder as suas expectativas e ainda tem o problema... Deixei as palavras soltas no ar. Baixando o olhar para que ele não visse minha dor escancarada no meu rosto.

- Antônia meu amor o que aconteceu pra te deixar assim?

- Não consigo falar sobre isso ainda. Desculpa, mas até lembrar me dói. Sinto tremores por todo o corpo quando relances aparecem em minha memória.

- Tudo bem então. Um dia irá me contar?

- Sim, prometo que um dia contarei toda a minha história. E agora qual a sua resposta? Você me perdoa por ter agido com uma idiota? Por ter desconfiado de você e te magoado?

Miguel me olhou fixamente, ponderou sobre sua resposta. Vi em seus olhos. Depois deixou o olhar percorrer meu corpo. Olhou pra minha boca e depois para meu peito que subia e descia ao compasso da respiração acelerada. Passou por minha cintura e por fim observou minhas pernas que tremiam e apertavam-se levemente. Ele sabia que tinha o poder de me desconcertar só com olhar. Via meu rubor e, de certa forma, via minha excitação. Eu não podia negar que apesar de tudo Miguel me excitava.

- claro que sim meu amor! Eu te perdoo, porém terá que me prometer que falará comigo sobre o que quer que aconteça. Que não esconderá mais nada de mim e que nossos problemas serão resolvidos por nós dois e juntos. Me prometa Antônia que confiará em mim como eu confio em você.

- Eu prometo! De hoje em diante vou conversar com você sobre tudo o que me afligir. Só peço um pouco de paciência comigo.

- Tudo bem eu vou esperar seu tempo. Só quero que não demore muito porque te quero como minha esposa e sei que só será possível quando você conseguir lidar com o que te aconteceu.

Passamos o restante do dia namorando e conversando sobre a nossa semana. Miguel ficou paralisado quando disse que passei a semana em uma praia sozinha. Questionou se não me preocupo com minha segurança. Só se tranquilizou quando eu disse que mal sai do quarto. Mesmo assim ele quis saber se fiquei de biquíni alguma dessas vezes. Respondi que não. Não estava no clima pra praia. Queria ficar só e pensar em tudo, em nós. Quando Miguel se preparou pra ir embora meu coração se esvaziou, e ficar longe dele estava cada vez mais difícil. Foi quando algo surgiu dentro de mim e me fez pensar em uma proposta.

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