Minha mente entrou em um turbilhão de pensamentos, eu não tinha controle sobre ela. Lembranças surgiam, revelando-me coisas que eu nem mesmo lembrava. Primeiro eu era um bebê no colo de minha mãe verdadeira e sua voz me ninando com uma canção em grego antigo. Depois eu já era uma menina com oito anos na praia, o grito de raiva com minha mãe adotiva e a raiva que se agitou dentro de mim, uma raiva típica de minha espécie. Então, as vozes em minha cabeça, meu nome verdadeiro: Agathe. O sonho da praia a voz que me disse em grego antigo: Η θάλασσα είναι ο προορισμός σας, O mar é seu destino. Depois eu na biblioteca e as palavras mudando e se transformando na mesma frase do sonho. Minha ida à praia, o sussurro que dizia: Ελάτε στο σπίτι, Venha para casa, Σας χρειαζόμαστε, παιδί μου, Nós precisamos de você, minha filha. A cena que Alex havia me mostrado e então silêncio, mais nada, apenas minha voz em minha mente. Era covardia, mas eu não queria abrir os olhos. Eu não queria ver. Ainda sentia a mão de Alex envolta de mim e ao contrário do que eu pensava, a água ao meu redor não estava gelada, na verdade, eu mal podia senti-la. Era como o ar quando eu estava em terra. Fora algumas correntes mais fortes, a água apenas estava ali e eu precisava dela.
Depois de um tempo, que pareceram horas, mas poderiam ter sido apenas segundos, abri os olhos. Alex me encarava, mas ele estava diferente. O cabelo loiro era o mesmo, mas sua pele bronzeada estava meio azulada e em alguns lugares como ombros, se olhasse bem, havia alguma transparência que exibia escamas por baixo. Seus olhos estavam mais azuis que nunca, seus braços fortes ainda estavam lá, mas suas pernas... se tornaram uma cauda azul esverdeada que começava na altura da sua cintura mesclando-se naturalmente com sua pele e descendo, terminando em uma barbatana azul, mas quase translúcida. Impressionantemente, aquilo não me assustou.
Olhei para mim, as nuances ruivas de meu cabelo flutuavam ao meu redor. Ergui meu braço para ver, ele estava com um tom bem claro de azul como o de Alex e em alguns lugares conseguia ver escamas. As escamas esverdeadas de minha cauda, diferente das de Alex, começavam em meus seios descendo em formato de V até chegar em minha cintura e então davam a volta em mim cobrindo onde estariam minhas pernas até os meus pés e terminava em uma barbatana meio esverdeada, mas meio transparente também.
Alex segurou minha mão.
"Você está bem?" – Sua voz perguntou em minha mente.
Assustei-me e ele sorriu.
"Estou" – pensei não sabendo como direcionar a resposta a ele.
Ele assentiu, o que demonstrou que ele havia escutado.
" Você é linda, Agathe" – Não sabia se podia corar embaixo da água, mas se pudesse teria com certeza.
"Você também não é nada mal" – sorri.
Ele riu e ouvi sua risada, o que me surpreendeu, achei que ouviria ela na minha mente.
"Está pronta, princesa?" – O título causou certa estranheza em mim e ele pareceu perceber. – "Você parece não gostar que eu te chame assim, mas aqui em baixo é extremamente necessário."
Fiz uma careta.
"Entendo, mas por favor, quando estivermos só nós dois quero que me chame de Liv apenas.""Seu desejo é uma ordem, alteza."
Ele fez uma referência que me fez rir.
"Vamos lá."
Ele me puxou pela mão, mas eu resisti.
"O que foi? Temos que ver seus pais."Exatamente por isso eu estava resistindo, mas também era porque eu não sabia como dirigir meu próprio corpo.
Soltei a mão de Alex e tentei dar uma volta e surpreendentemente foi extremamente natural, como andar. Sorri e apesar do frio na barriga dei a mão para Alex novamente.
"Calma, Liv. Eles já te amam e sabem da pessoa maravilhosa que você é. Te observaram durante toda sua vida" – estávamos nadando com pouca velocidade, mas em meu íntimo eu sabia que podia alcançar grandes velocidades e também sabia que Alex só estava indo devagar por minha causa.
"Como nunca os notei?" – Procurei em minha mente alguma lembrança em que eles aparecessem, alguma esquina, algum mercado... nada.
"Magia, Liv."
Assenti entendendo, devia ser difícil me ver crescendo e não se aproximarem de mim, mas talvez tivessem feito isso para o meu próprio bem. Resolvi deixar essas perguntas para eles em vez de Alex.
"Outras sereias conseguem ouvir nossa conversa, mesmo que ela aconteça em nossa mente?"
"Sim, pense nisso como um rádio, estamos em uma frequência geral, qualquer um pode sintonizar nela também, porém você pode ter uma frequência privada com alguém, basta se concentrar. Se tivermos tempo, podemos praticar alguma hora."
Agradeci e disse que iria cobrar, ele sorriu e depois disso ficamos quietos. Observei tudo que estava ao meu redor. Estávamos muito no fundo, e estava tudo muito escuro, mas acho que minha visão de sereia era bem melhor que a humana pois ainda assim consegui ver um cardume de peixes coloridos passando à um metro de nós. Olhando para frente não conseguia ver nada ainda, mas Alex disse que estávamos chegando à Atlantis. Um dos peixes coloridos se desviou do grupo e nadou até mim, percebi que suas escamas eram de todas as cores do arco-irís.
"Que lindo!"
"Seus olhos são das mesmas cores" – disse Alex.
"Meus olhos são verdes" – falei para ele, até me senti meio chateada por ele não ter notado.
"Não agora, a realeza tem os olhos coloridos".
"Todas essas cores?" – Perguntei segurando o peixe que se esfregava em mim como um gato.
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Underwater | Segredos Revelados
FantasiaE se sua vida fosse uma mentira? Olívia Sebastian vê sua vida desmoronar aos 18 anos. Vozes a perturbam, dizem coisas, revelam segredos do passado, as verdades de seu povo. Os dezoito anos de sua vida não passam de uma mentira, fruto de um encanto...