Underwater | Segredos Revelados

Capítulo 22

Acordei tonta, como se tivessem batido minha cabeça dezenas de vezes contra algum lugar. Estava podre. A confusão também era minha aliada, definitivamente eu não conhecia aquele lugar.

A cama em que haviam me colocado era bem confortável. Uma colcha roxa e grossa me cobria. Uma cortina escura cobria a janela de onde uma fraca luz de fim de tarde passava pelas frestas. As paredes do quarto estava coberta com um papel de parede azul com estampa étnica. Ao redor não havia muitas coisas além de uma cômoda preta simples e um espelho grande em que ao me ver gemi.

Meu cabelo estava uma bagunça, sujo e desgrenhado. Eu não estava mais com minha roupa, agora uma camisa grande masculina cobria meu corpo, o cheiro não me deixaria enganar, aquilo era de Alex. Vi alguns arranhões em meus braços e por um momento quis voltar a inconsciência, mas lutei contra minha vontade e levantei-me.

Minhas pernas doíam e pareciam fracas nos primeiros passos, mas então lembrei que poderia me fazer melhor. Sentei novamente na cama, fechei os olhos e concentrei-me. Nunca havia percebido como a raiva obstrui-a o controle de meus poderes, nunca os senti tão claros como naquele momento. Pensei na água dentro de mim e como ela poderia me curar, imaginei ela correndo por meu corpo, fechando as feridas e levando toda dor embora. Era como ter água gelada correndo por minhas veias. Abri os olhos novamente, vi que as feridas em meus braços tinham desaparecido completamente, como se nunca tivessem estado ali. Levantei-me e minhas pernas pareciam novas em folha. Sorri, satisfeita comigo mesma. O cabelo era um caso a parte, precisaria mais do que a água em meu corpo para arrumá-lo, por isso ao sair do quarto procurei na primeira porta à minha frente um banheiro.

O banheiro era singular, assim como quarto. Tinha azulejos lilás e o vidro do box era azul. Uma escolha peculiar para combinar cores. Aquilo me cheirava à Violet e os produtos sob a pia me confirmaram minha suspeita. Haviam tintas temporárias para cabelo de várias cores.

Abri a torneira, mergulhando minha cabeça de baixo dela. Lavei toda a sujeira com um shampoo que parecia mais normal entre todos e escovei meus cabelos. Ao me olhar no espelho, me senti outra pessoa por dentro e por fora.

Agora era hora de traçar planos e me preparar, deixar de ser a menininha e tornar-me quem era para eu ser. Entendia que tudo pelo que eu havia passado era parte de um crescimento e amadurecimento e ia levar tudo em consideração em minhas escolhas futuras.

Saí do banheiro e segui até o fim do corredor estreito, que levava até a sala. Os sofás eram laranjas da cor da caminhonete. As cortinas amarelas mostarda e para o bem dos meus olhos, as paredes eram brancas.

Alex dormia de mau jeito em um dos pequenos sofás de dois lugares. Sua cabeça pendia de um lado e seu corpo de outro. Seu cabelo loiro completamente desgrenhado, como se não o penteasse a dias e sua barba a fazer, além da roupa amarrotada. O semblante, mesmo que dormindo, estava preocupado e eu sabia o motivo daquela preocupação, por isso resolvi acordá-lo.

Aproximei-me suavemente, sentei ao seu lado. Toquei levemente seu ombro e sem querer fui embalada por seus sonhos.

- Liv!

Estávamos em uma praia longa e deserta. Só nós dois. O sol batendo e esquentando nossa pele. O sorriso em seu rosto era contagiante.

A tanga estava estendida na areia e ele batia ao seu lado para que eu me sentasse, sentei-me.

Seus olhos estavam presos no mar, felizes e reflexivos.

- O que vamos fazer hoje? Cinema, teatro, um cine pipoca na sua casa...? - Ele se aproximou, dando-me um selinho. Assustei-me por um momento. O que éramos naquele sonho?