Capítulo 11

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Eu achei que a coisa mais esquisita que eu poderia encontrar no castelo de Scarlate era qualquer coisa, menos aquilo. Gêmeos. Não eu que nunca tivesse visto um casal de gêmeos, mas eu nunca havia visto um como aquele. Um tritão e uma sereia entraram pela porta e sua aparência era algo como eu nunca havia visto antes. Seus cabelos eram loiros claríssimos, quase brancos, assim como seus cílios e sobrancelhas. Suas peles eram pálidas como se fossem albinos. Seus olhos tinham a íris em um tom tão claro de azul que pareciam pedras de gelo. O contraste de suas peles claras e suas caudas negras era de tirar o fôlego, como se de repente alguém tivesse mexido no contraste da visão. Era uma beleza exótica de se admirar.

O Rapaz se aproximou e fez uma pequena reverência debochada. Era claro como sua postura declarava que o meu sangue real era irrelevante ali.

— Princesa.

A garota não fez gesto nenhum, apenas nos olhou com uma frieza de gelar os ossos.
Meneei a cabeça cumprimentando-os.
— Eu sou Alys – Alex apresentou-se.
O desprezo no olhar da menina foi pior que sua indiferença.
— Sabemos quem você é – ela disse em uma voz de menina, como se não a usasse muitas vezes.
— Eu sou Kenon – disse o tritão – e essa é minha irmã Kax.
— Prazer em conhecê-los? – Infelizmente saiu mais como uma pergunta que uma afirmação.

Kenon riu, como se eu tivesse falado alguma tolice.
— Vamos, Kenon – chamou Kax. – Sabe que nossa rainha não gosta de esperar.
— Sim, irmã.
Ele olhou para nós com certa arrogância.
— A rainha não trata seus "hóspedes" com tanta delicadeza, mas parece que você é a parte da família que ela gosta – Kenon realmente fez aspas ao falar hóspedes. Ele queria dizer que na verdade éramos prisioneiros? – O jantar está pronto, viemos levá-los.

Acompanhamos eles em silêncio, não que a menina estivesse muito interessada em alguma conversa. Sua postura gritava indiferença, toda vivacidade parecia ter ficado com o irmão, que não parava de me encarar. Isso me incomodou muito e não demorei para perceber que a Alex também. Ele simplesmente se colocou na minha frente, impedindo a visão de Kenon para mim. Achei fofo ele sentir ciúmes em tal situação, onde tinha certa chance de o prato principal do jantar serem nossas cabeças.

Assim que saímos do quarto comecei a contar quantas vezes tive que bater a cauda, tendo assim alguma noção de localidade, quando chegamos a uma porta vermelha relativamente grande e Kenon anunciou que havíamos chegado, eu já estava em duzentas "caudadas".

O salão de jantar era a coisa mais viva que eu tinha visto naquele lugar. Apesar da cor vermelha em excesso, os detalhes em ouro deixava tudo muito elegante. A sala era oval, com teto abaulado e vitrais com desenhos de sereias mitológicas, tecnicamente diferente de nós em aparência. A mesa se estendia por quase toda a sala, em uma madeira, ou algo parecido com isso, escura. As cadeiras pareciam também serem estofadas e seu material parecia ser ouro, ou algo tão duro quanto. Contei apenas duas portas, uma de onde havíamos entrado e outra provavelmente para a cozinha. Senti-me sufocada.

Scarlate estava sentada em uma das pontas da mesa, agora usava uma coroa feita de conchas com que não estava mais cedo, mas fora isso parecia a mesma. Seu bom humor ácido parecia ter se renovado com nossa ausência. Com um aceno de mão duas cadeiras de afastaram da mesa e com a cabeça indicou para que eu e Alex sentássemos um de cada lado seu. Kax sentou-se ao meu lado e Kenon ao lado de Alex. Minha garganta se apertou de medo daquele jantar. Um sentimento ruim me tomou e perguntei-me se aquele não era sempre o sentimento ao estar ao lado de Scarlate. Perguntaria a Sellat se foi sempre assim, isso se eu ainda voltasse para casa viva.

— Tragam os pratos – ela ordenou.

No mesmo instante cinco sereias entraram pela porta que eu imaginava ser da cozinha com cinco pratos na mão. Elas eram todas parecidas. Olhares vagos, cabelos presos em coques, e caldas cinzas, apagadas. Totalmente diferente da beleza fria do mundo de Scarlate ou das cores vivas que eu tinha visto no povo da cidadela real, mas nada grotesco como o pessoal que encontramos na feira. Era só como se elas quase não existissem.

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