Capítulo 10

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O oposto. Era tudo o que aquele lugar era do reino de meus pais. Senti-me sufocada primeiramente. Era escuro como se estivesse ainda mais fundo no oceano. Não tinha muita cor. Apenas preto, verde musgo e vermelho. Muito vermelho. Todas as plantas aquáticas eram da cor de sangue. As construções eram escuras, completamente opostas do branco que me recebeu na cidadela real. Apesar disso, a estrutura parecia ser a mesma, a mesma praça no centro, as mesmas ruas que levavam ao centro… era um espelho invertido. Pude ver o castelo nada convidativo se erguendo no alto. As torres negras eram intimidadoras.

— Eu sei, parece mais a entrada do castelo do Conde Drácula – Alex disse olhando ao redor com uma ruga que eu sabia que era de preocupação.

— Nem quero ver como é o estilo da minha tia – comentei. – Vamos para onde?

— Não precisamos ir, vieram nos buscar – Alex maneou a cabeça e eu vi ao longe dois tritões enormes vindo em nossa direção.

Envolvi minha mão no braço de Alex foi um ato quase automático. Quase.

“Acompanhe-nos” – disse um dos guardas, sua voz parecia uma navalha.

Seguimos em silêncio. Meu olhar recaiu sobre os dois tridentes afiados dos guardas. Meu estômago se contraiu de nervoso.

Logo entramos em uma pequena vila. Não havia ninguém ali, as casas pareciam inabitadas. No final da vila, após a praça, começava uma colina íngreme e no final dela havia um palácio gótico, todo negro.

Quando chegamos ao topo dois guardas guardavam a porta principal. Trajavam negro da cabeça a… cauda.

Olhei para trás, vendo a imensidão negra abaixo de nós. Parecia que a vida não habitava aquela terra.

“Não tem mais volta” – Alex se manifestou em minha mente.

Não virei completamente a cabeça para olhá-lo.

Não quero que tenha.

Era um corredor enorme com um alto teto que era ornamentado com figuras mitológicas em preto. Havia também diversos lustres de cristal posicionados entre os vãos do teto oval. Alex segurou minha mão e seguimos juntos em silêncio.

Os guardas pararam em uma grande porta negra. Observei enquanto seus músculos se tencionavam ao empurrar a pesada porta. Era a sala do trono enorme como a do castelo dos meus pais, mas tão inversa quanto. Percebi pelo enorme assento que era posicionado no centro, era de madeira pois havia entalhes de rosas vermelhas em seus braços e envolta de seu encosto. Sentada estava uma mulher com uma incrível cauda que era mesclada entre vermelho e preto. Ela sorriu ao me ver e eu senti um temor como nunca sentira na vida. Seus olhos passaram de mim para Alex, mas não durou muito e ela fixou seus olhos azuis gelo em mim novamente. Sua boca vermelha púrpura se abriu em um sorriso.

— Olá, Agathe – sua voz parecia emanar frieza. – Estava esperando por você.
    Ela não havia envelhecido nada, era a mesma mulher que eu havia visto ao tocar em Sellat. Sua pele era clara com um tom de coral, seus lábios vermelhos e seu cabelo negro. Sabia que ela escondia os olhos coloridos atrás daqueles olhos azuis gelados, talvez um ato de rebeldia, mas algumas outras coisas haviam mudado também. Suas escamas continuavam com os tons vermelhos, mas onde na minha visão era arroxeado, agora era tomado pelo negro.
— Scarlate – cumprimentei-a. Estranhamente meu corpo reagia como se quisesse se curvar a ela, mas resisti. Olhei para Alex e vi que ele fazia o mesmo.
    Ouvi as portas sendo fechadas atrás de nós e controlei meu semblante para não demonstrar o desespero que começava a se insinuar dentro de mim.
    Quando viu que eu não faria a mínima força para nadar até ela, prontamente nadou até mim, parando a menos de um metro.
— De perto você é ainda mais parecida com sua mãe – sua voz não demonstrava a habitual frieza ao falar da irmã. Perguntei-me o porquê.
— E vocês não podiam ser mais diferentes.
    Ela riu, sua risada fazendo com que eu me arrepiasse e tão rápido quanto começou, parou. Sua atenção estava em Alex e temi por ele.

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