Underwater | Segredos Revelados

Capítulo 19

 Ele não parecia passar dos quarenta anos. E no momento em que ele pronunciou o nome humano de minha mãe, estanquei no lugar em que estava. Talvez, por uma questão psíquica entre sereias, eu sabia os nomes humanos de cada um que eu havia conhecido, exceto por algum que escondiam essa informação, como Kenon, Kax e Scarlate. Por isso, eu sabia o nome humano de minha mãe, mas isso não explicava como ele a conhecia. Dei um passo para trás, afastando-me do homem e sem querer aproximando-me da mesa com o corpo sem vida.

— N-não – respondi com uma voz fraca e que gritava fragilidade.

— Então quem é você? – Ele havia se recuperado do espanto inicial. – Não devia estar aqui.

Assumi uma postura que se não me salvasse, pelo menos me garantiria tempo. Não conseguia me concentrar o suficiente para pedir ajudar naquele momento. Droga.

— Diga-me você, quem é você? – Perguntei com uma leve impertinência.

Ele sorriu animalescamente, fazendo-me arrepiar.

— Meu nome é Lorenzo.

O nome suscitou algo em minha memória, algo que me fez temer ainda mais.

— Como entrou aqui? – Perguntou dando um passo alarmante em minha direção.

Recuei, sentindo o metal frio em minhas costas.

— Pelo alçapão. Estava com uns amigos... fizemos uma aposta de quem conseguiria entrar.

Lorenzo revirou os olhos. Sim, ele achava que eu era mais uma drogada e aquilo não poderia ser melhor.

— Deu sorte que não bato em garotas e tenho pena de viciados – ele pegou em meu cotovelo a fim de me puxar.

Aquele toque me fez ter uma visão. Uma visão rápida e reveladora.

Lorenzo estava com o marido da princesa, na cabana da praia. Eles se abraçaram e mesmo sem som pude identificar o que ele disse: Irmão. Tão rápida quanto veio se foi. Senti uma vertigem ao ser arrancada tão rapidamente dela.

— Não vai ter uma overdose aqui garota.

Voltei da visão e estava sem foco, tudo muito embaçado, sentia que iria desmaiar mas não podia nem pensar na possibilidade de ficar desacordada.

— Quem está aí? – Perguntou uma voz que conhecia muito bem. Um calafrio percorreu todo o meu corpo, um medo pungente comprimiu meus pulmões.

— Uma viciada. Nada com que se preocupar – Lorenzo apertou mais meu braço fazendo minha raiva acender.

— Deixe-me vê-la.

Tentei me desvencilhar inutilmente, sabia que se usasse meus poderes ali, estaria morta.

— Por onde ela entrou? – Perguntou o homem de minha visão, o mesmo que olhava para o mar com satisfação.

— Pelo alçapão. Está tão velho que a tranca deve ter quebrado.

Lorenzo fez com que eu ficasse prostada na frente do homem. Mantive a cabeça baixa, não queria olhar nos olhos dele.

— Levante a cabeça, docinho – sua voz se tornou maliciosa, fazendo meu estômago se revirar em asco.

Não levantei, sentia a raiva pulsar em meu corpo como um ser vivo.

O homem puxou meu queixo com os dedos frios, fazendo com que eu o encarasse.

Ele abriu um sorriso medonho. Seus olhos negros cintilavam.

— Ela é mais que uma viciada – ele tocou minha bochecha, deixando seu polegar deslizar por minha face. – Belos olhos de sereia, realeza.