VII - L y i n g i s u g l y

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—Como assim não sentiu dor? Você foi espancada! — Pierre bateu a mão no volante prateado do carro parado em meio à tantos outros carros.

—Não sei, apenas não senti dor.

Lua não poderia contar sua natureza, Daniel sempre falou que poderia ser perigoso. Ela nunca contou para Eduardo, e se fosse por Daniel ela nunca contaria a ninguém. — Mas ela sabia que nunca mais iria ver aquele homem que não amedrontava a menina. O que ele poderia fazer?

—Mas posso te contar um segredo? — Perguntou Lua, olhando para Pierre que tinha o foco na estrada e por momento algum virara seu olhar para a pequena ao seu lado.

Para Pierre seria muito divertido ter a menina na sua casa, ela era tão bobinha que chegava a ser engraçado. E seria legal também descobrir mais sobre aquela menina loira dos cabelos tão cacheados.

—O que quer contar?

—Bom, — Lua olhou para ao seu lado onde pela primeira vez viu a praia. Pessoas com roupas curtas e entrando na água salgada. Sentiu inveja. — eu não sinto dor alguma. — Disse baixo.

Sua voz foi um mero murmúrio onde apenas Pierre pode ouvi. Esse na qual Pierre quase não ouviu de tão baixo.

Mas como ela não sentiria dor? É claro que ela sentia dor, sentiu vontade de rir, e riu.

Sua risada agradou os ouvidos de Lua, não era uma risada exagerada nem alta, era baixa e calma. Mas ao mesmo tempo divertida ao ponto de fazer a menina entortar sua boca em um sorriso de canto. — Ela gostaria de ouvir essa risada todos os dias se fosse preciso.

—Claro que você não sente dor. — Ironizou o mais velho ainda achando grassa.

Lua entendeu a ironia.

—Eu estou falando sério! — Afirmou a menina. — Quer que eu prove? — Ela ainda tinha o sorriso torto em sua boca e Pierre sabia que a menina estava provando para ele sua verdade.

—Tudo bem, o que pensa em fazer? — Perguntou olhando pela primeira vez dentro do carro para a menina.

Lua sem responder pegou a caneta que estava no porta luvas, objeto esse que Lua encarava desde que entrou no carro. — Pensou em como sentir dor com aquela caneta e a resposta foi óbvia. E sem pensar duas vezes a caneta foi quebrada ao meio, deixando cacos de plástico na forma de uma lâmina bem afiada. A loira passou aqueles retalhos em sua perna depois de ter subido um pouco sua saia.

O corte foi profundo e sangrava bastante, mas ela não ligava.

Pierre estava com medo do que aquela menina poderia fazer e quem em sã consciência faria aquilo? Ninguém! Agora ele ficou mais interessado ainda na menina.

—Quem é você? — Perguntou dessa vez aflito.

—Lua. — Respondeu sorrindo.

O carro parou na frente de uma casa, ela era castanha e tinha flores roxas espalhadas pelo jardim da casa, a porta era de madeira e as janelas também. Tinha alguns detalhes em branco mas eram poucos e um caminho de pedra até a porta.

Lua desceu do carro junto com Pierre e observou melhor a casa, ouviu os pássaros e analisou o barulho dentro dela. Não tinha não tinha ninguém, pois não ouvia-se barulho dentro dela. Ela gostou do jardim e principalmente das flores roxas que cobria o jardim.

—O que achou da casa? — Perguntou Pierre encostando no carro.

—Eu gostei, achei muito bonita. — A menina entortou a boca num sorriso sem mostrar os dentes como Daniel havia ensinado para a pequena.

Os dois entraram e Lua passou por todo aquele canteiro de belas flores bem tratadas. Não imaginava Pierre daquele jeito cuidando de flores tão delicadas como bolas de algodão. Sorrio com seu pensamento.

—Bom, já que você está suja deixo você tomar banho primeiro, mas só por hoje hem! — Disse Pierre sem nenhuma feição no rosto.

—Onde é o banheiro aqui?

—Terceira porta no corredor virando à direita. — Parou e continuou em seguida, — pegue uma de minhas blusas da minha gaveta, meu quarto está na porta ao lado. — Disse por fim depois foi para outro cômodo.

Com certeza era loucura o que Pierre estava fazendo, convidando uma estranha para se "hospedar" em sua casa? O que houve com ele? O mesmo não é daquele jeito nem om os sócios mais importantes, nem com senadores, nem com ninguém.

Quando seu filho chegasse de viajem ele iria simplesmente surtar, talvez pior, mandaria a menina para a rua novamente. — Mas quem mandava em tudo ali era ele, não faria sentido seu filho se estressar, Pierre faz o que quer e quando quer.

Seu filho não tem que se envolver em nada em sua vida particular, e seria assim a partir daquele dia.

Já Lua estava vestindo uma camiseta preta que encontrara na gaveta, foi a primeira camiseta que viu na frente pois não queria se dar o trabalho de procurar outras blusas. A peça de roupa de Pierre ficou como um vestido em Lua, já que ele era muito alto em comparação a pequena dos cabelos cacheados.

Em passos lentos e delicados — passos esses, na qual Lua sempre invejou de Daniel e sempre tentou imitá-lo, sempre se repreendendo quando dava um passo barulhento que rangia no chão de madeira de seu quarto. — Como o esperado, Pierre não notou os passos da menina, muito menos sua presença. O mesmo se encontrava encostado numa bancada de um cômodo que parecia ser a cozinha. O homem apoiava seus cotovelos no balcão e olhava para o nada.

Estava pensando em como falar com seu filho e como explicar o motivo da menina estar sobre seus cuidados. Estava pensando também no tanto de trabalho que tinha e em como resolver todos aqueles processos e casos de seus clientes.

Pierre era um advogado conhecido mais ou menos na cidade. Geralmente o homem pegava mais casos de adolescentes que supostamente bateram o carro dos pais ou pedidos de divórcio de pessoas que apenas queriam curtir a vida. Pegava esses casos pois eram esses únicos que lhe apareciam. Pessoas de maior idade, ou pessoas mas sérias não ousavam o consultar por causa de sua aparência.

—Pierre? — Lua chegou em sua cozinha vestindo apenas aquela blusa larga em seu corpo, Pierre teve vontade de rir com aquela cena cômica mas preferiu fica quieto. — Terminei o banho, obrigada por me ajudar.

Pierre gostava da voz da menina, uma voz doce e suave que transmitia paz a quem escutasse aquele som. Poderia ficar horas apenas ouvindo o canto daquela voz tão baixa.

—Tudo bem, não é todo dia que eu encontro alguém tão legal na rua. — Entortou os lábios num sorriso que não mostrava os dentes. — Mas, me conte sobre você.

O mais velo puxou o braço esquerdo da menina delicadamente levando-a até sua sala de laser. Lá se encontrava uma televisão pendurada na parede que era pintada de cinza bem clarinho, tinha dois raques do lado da televisão onde havia vários discos.

—Ok, o que quer saber sobre mim? — Lua perguntou sentando-se comportada e delicada no sofá enorme negro.

Pierre tinha tantas perguntas que não sabia nem por onde começar, mas preferiu fazer a pergunta que mais chamava-lhe atenção e que o deixava com medo de ter uma louca em sua casa.

—Por que você insiste em dizer que não sente dor? — Perguntou e viu o cenho da mais nova sendo enrugado.

Lua por sua vez não sabia se falava ou se mentia sobre sua verdadeira natureza, pensou. Mas sabia que Daniel não gostava quando a menina mentia então resolveu falar a verdade.

—Bom, meu tio nunca me contou donde eu vim, e nem o porquê de mim ser assim. A única coisa que sei é que não sou como os humanos, o sol me irrita e não digo sentimentalmente, quero dizer fisicamente. Eu não sinto dor mas eu fico com hematomas e sangro como uma pessoa normal...

—Como? — Interrompeu Pierre.

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Era uma vez...Onde histórias criam vida. Descubra agora