Olhar limitado

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Desde que nasci eu sempre fui frágil e sozinha, e na maior parte da minha vida um quarto miserável foi o meu mundo inteiro. Minha visão era limitada a quatro paredes de aço eu não podia conhecer o mundo lá fora, não sei como são as coisas do outro lado, as flores, as árvores... eu não sei como são os olhos das pessoas até porquê aqui todos usam uma máscara branca e amedrontosa. Eu estou inerente em um "mundo" sozinha onde nem mesmo sei quem sou.

Meu maior desejo é sair daqui e conhecer o mundo que eu nunca tinha experimentado antes, eu quero ir além dessas paredes quero sentir o ar fresco, ver as pessoas e poder ser feliz verdadeiramente, quase sempre me pego imaginando no que eu poderia ser, no que me tornaria fora daqui, dentro de mim há um grande vazio, mas dentro desse vazio está cheio. cheio de dor, revolta e tristeza.

Bom, a minha história não é nada feliz, na verdade eu nem tenho uma história. desde que me entendo por gente, esse buraco horrível foi tudo que meus olhos viram até hoje. Minha rotina é monotona, nada muda nunca.

O sistema é simples, me servem uma comida três vezes ao dia e é tão ruim que facilmente gruda se arremessa-la contra a parede, se é que pode chamar isso de comida. particularmente eu chamo isso de 'a coisa' enfim... eles me servem em 3 horas diferentes do dia; manhã, tarde e noite apenas! eu sou obrigada a comer caso contrário morreria de fome... mas você deve estar imaginando, "não seria mais fácil morrer do que continuar vivendo nessa situação?!" acredite... já tentei mas eles me obrigam a comer ou caso contrário as consequências não são nada agradáveis, eles torturam até ficar inconsciente, morrer é proibido por aqui.

Meu nome é 0036-CB estranho, não? é assim que eles me chamam, dizem que esse é o meu nome, embora eu saiba que isso é uma espécie de codigo de identificação, 0036 é o meu número de chegada CB significa; Cela de baixo, afinal, são 2 andares. mas eu tomei a liberdade de criar um nome pra mim mesma; Annie, achei em um livro, dos poucos que me permitem ler... é um nome que vem do hebraico e significa Graciosa e sonhadora esse foi o principal motivo de minha escolha, pois eu acredito em meus sonhos e sei que ficar presa não é o meu proposito.

– Hora da comida, vamos... levanta-se e coma!

É... chegou a hora de comer A coisa, argh!
é sempre assim... passam jogam essa coisa nojenta e dizem para comermos e em 15 minutos voltam e recolhem os pratos vendo se realmente ingerimos essa porcaria! se ao menos tivesse uma forma de jogar isso fora...

Os agentes responsaveis por cuidar de nós não podem conversar conosco nada além do necessário, isso seria contra as regras do instituto.

– Passando recolhendo os pratos dentro de 2 minutos!

Ah, a maioria das vezes que falam com a gente é através de caixas sonoras... como eu disse eles evitam ao máximo a interação entre agentes e "pacientes".

Bom, eu já comi a coisa, a força pra ser sincera...
eles já recolheram os pratos.
tudo parecia normal, o silêncio é continuo até que...

– AAAAAAHHHH, socorro eu não quero ficar aqui! por favor me tirem daqui!!! eu quero minha mãe!!

Esses gritos me deixaram apavorada e triste ao mesmo tempo... apavorada porquê gritos não são comuns por aqui e triste porquê sei que é um novato, sei que a sua vida acabou por aqui e seu destino agora é viver dentro dessa cela para toda eternidade.

Existem 2 celas ao lado da minha, âmbas estão desocupadas... não quero tirar proveito da situação do novato mas... espero que ele fique em alguma das duas celas ao meu lado, assim eu terei com quem conversar.

Estrela de PapelOnde histórias criam vida. Descubra agora