Balões voam?

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  Puxa... a probabilidade de ele cair em alguma das celas ao meu lado são mínimas, é melhor eu não criar expectativas... afinal... os gritos pararam de ecoar, ele provavelmente foi para a cela do andar de cima.

   – não, nãooooo, não quero ficar aqui, por favor, eu não sou uma aberração como pensam, tenha misericórdia.

     Fiquei contente e triste novamente, ele ainda está aqui e essas duas celas são as únicas que estão vazias... eu acho... mesmo não querendo criar expectativas, é tudo que eu podia sentir agora.

   – Olha garoto se você não se comportar, as coisas vão ficar pior!! sente-se aberração!

      nesse momento fiquei quieta e me afastei da parede na qual estava com os ouvidos, sentei-me no chão e fingi que nada estava acontecendo, caso o agente me visse bisbilhotando, as coisas não ficariam legais pra mim. mas contudo eu estava muito feliz, eu tinha certeza de que a cela dele seria logo ao lado, mal posso esperar para conhecê-lo.

    ouço um barulho de cadeados e chaves, era fatídico que estava o trancando na cela, eu saltitei de uma alegria instantânea EU AGORA TENHO COMPANHIA, em todos esses anos foi a coisa mais feliz que me aconteceu.

   Embora eu soubesse que ele estava ao lado, não seria tão simples assim, se comunicar seria bastante difícil e arriscado, há muito tempo eu já estive nas celas do andar de cima e o som era impenetráveis pelas paredes de aço, mas de alguma forma as coisas eram diferentes nas de baixo, dava pra ouvir mas consequentemente nossas celas é bem mais perto da diretoria do instituto deixando nossas vozes mais notáveis.

Já se passará 5 horas após sua chegada, e os agentes haviam se silenciado, provavelmente estavam ocupados ou fazendo alguma outra coisa ou simplesmente dormindo, então eu me aproximo da parede onde há um pequeno buraco de entrada de ar

– Olá, você está ai? - digo eu entusiasmada esperando por resposta.

Ele: sim, estou!

Claramente percebo que ele está chorando, mas já era de se esperar estranho seria se ele não chorasse. ele perdeu a vida, não é mesmo? vendo ele tão triste decidi tentar acalma-lo;

– Sei como você está se sentindo, se isso serve de consolo estou aqui desde que nasci.

Ainda chorando e quase não podendo falar ele responde com arrogância;

 Bela forma de tentar me acalmar, dizendo que morrerei aqui pra sempre, até me tornar uma velha como você!

E então nesse momento, abaixei minha cabeça e respondi com lágrimas nos olhos;

– Acha mesmo que eu escolhi apodrecer em uma cela? Sei o que está passando, eu senti tudo isso que você está sentindo por 14 anos e ainda sinto, você não é o único que está sofrendo por aqui, todos nós estamos! e a propósito eu tenho apenas 15 anos.

Eu realmente fui bem idiota em tentar acalma-lo falando que ele morreria aqui, mas minhas intenções foram as melhores e também foram poucas as vezes que tive contato com outros seres humanos, me sinto mal, acho que estraguei a oportunidade de ter um amigo, eu sou deprimente.

– Levantem seus sub-humanos, hora de comer.

Coitado dele, vai hoje experimentar a pior comida de sua vida hahahahahahahahahahaha.

*7 minutos depois*

– Hey garota? está ai?

Confesso que fiquei surpresa pelo fato de ele vim falar comigo, pensei em ignora-lo, mas eu não vou me dar esse direito, afinal é a única companhia que tenho.

 Sim, sim, estou aqui!

Um silêncio tomou conta do espaço, mas após alguns segundos ele respondeu;

 Você é surpreendente, te admiro.

 porque me admira?

 mesmo presa aqui a 14 anos, eu te ouvi rir, é surpreendente conseguir sentir alegria em um lugar como este.

Então eu me estabilizei em um canto, e refleti pensando em uma resposta pra dar a ele;

 É acho que é o que me resta, chorar não vai mudar as coisas, rir é bom de vez em quando, mesmo nas horas mais difíceis, mesmo com todo isso que me ocorre eu consigo encontrar a felicidade em mim, nem que seja um pouco, mas que fique claro que foi a primeira vez que eu ri.

 primeira vez? como assim?

 deixa quieto é complicado... me diz, qual o seu nome?

 Meu nome é Carl! e o seu?

– Annie, ou 0036-CB, mas por favor me chama de Annie.

 0036-CB?

 Sim, é como se fosse um código que eles nos dão para nos identificar.

– Entendi!

Ao perceber que os agente estavam patrulhando eu falo sussurrando e desesperada para Carl;

 Hey, Carl, não fale mais nada, eles estão nos corredores.

Eu não obtive resposta, mas acho que ele se calou justamente porque eu disse pra se calar.

Já é tarde, tenho que ir dormir...
Enquanto estava na cama tudo que eu conseguia pensar era no Carl e nas milhões de coisas que eu perguntaria no dia seguinte, a principal delas seria;

"Os balões voam?"

Estrela de PapelOnde histórias criam vida. Descubra agora