Capítulo 8

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No dia seguinte, tia Vick continuava agindo como se nada tivesse acontecido, o que estava me deixando louca. Ela não era assim, nunca foi de ficar calada diante de alguma idiotice que eu aprontasse, nunca!

No café da manhã estávamos eu, ela e o tio Pitter sentados à mesa em um silêncio desconfortante, e mesmo depois de Maggie me aconselhar deixar tudo como estava – eu havia ligado para ela mais cedo – resolvi acabar com aquilo de uma vez por todas.

─ É...

─ Era John que estava no seu quarto ontem, Sarah? – tia Vick surpreendeu-me ao perguntar, de repente.

─ É... – limpei a garganta – Era sim, ele veio ver como eu estava. Desculpe se a acordamos ontem.

─ Está tudo bem. – disse, simplesmente. Eu sabia que ela tinha um sono leve desde que adoeci, e que qualquer barulho a noite era motivo de preocupação.

─ Escuta, tia. Sobre ontem... – ela, mesmo conversando comigo, parecia não me dá nenhuma atenção e continuando a tomar seu café como se eu não estivesse falando. O que, infelizmente, me fazendo explodir. – Dá para parar de agir assim? – segurei seu braço fazendo-a olhar para mim. – Que droga! Já chega de agir como se nada tivesse acontecendo!

Naquele momento tive raiva de mim mesma, não poderia ter agido dessa forma nesse dia, eu estava tão exausta sobre tudo que estava acontecendo comigo que não medi minhas palavras nem minhas ações. Minha tia me encarava com olhos arregalados e lacrimosos, fazendo meu arrependimento aumentar mais ainda.

─ Desculpe, tia... – murmurei com a voz baixa, envergonhada. – Por favor, eu... – não consegui continuar a frase e saí correndo dali.

─ Sarah! – ouvi tio Pitter me chamar, mas eu não o dei atenção. Só queria sair dali.

Não sei o que aconteceu depois que eu saí porta afora, a não ser o fato de eu ter magoado minha família e de que daquele dia em diante nada seria como antes.


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Fui para a casa da Maggie esperando encontrar alguém para desabafar, mas ela não estava lá. Pensei em ir para a casa de qualquer outra pessoa menos para a minha, mas ninguém mais além da Maggie sabia sobre mim, então resolvi apenas andar por aí a procura de um lugar para pensar. Acabei parando no parque da cidade.

Pensar é apenas uma forma de dizer, pois, quando se quer acalmar seus sentimentos e o seu coração, chorar parece quase inevitável. Estava tudo tão calmo e silencioso que me senti à vontade para derramar quantas lágrimas fossem necessárias para acalmar meu coração, e acabei descobrindo que apenas as lágrimas não eram o suficiente. Ele parecia querer que eu encontrasse sozinha uma forma de acalmá-lo... Como se eu não já tivesse problemas o suficiente!

Refleti sobre o que havia acontecido hoje cedo e também nos últimos dias, parei um pouco para ouvir meus pensamentos e meu coração, mas estava tudo tão confuso.

Resolvi observar o parque, ainda era cedo, mas mesmo assim já tinha algumas pessoas aproveitando o início do verão. Pessoas que nem faziam ideia do que estava acontecendo comigo.

Uma velhinha passeando com seu cachorro, mães aproveitando o começo do dia para passear com seus bebês, crianças brincando no parquinho, pessoas correndo... Como eu queria ser qualquer uma dessas pessoas, sem se preocupar com doenças ou como esse fato refletia nos outros!

O que eu estou dizendo? Essas pessoas também têm seus problemas, suas vidas!

Acabei deitando-me na grama observando o céu, que parecia refletir bem as maravilhas do verão. As nuvens eram poucas, mas flutuavam vagarosamente como quem não tem problemas ou preocupações. Eu as invejava, queria poder ser assim como as nuvens, apenas viver no mundo levando a vida livre de tormentas. Fechei os olhos e respirei fundo.

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