Capitulo 1

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PRÓLOGO

Rodeado por convidados célebres e aduladores, em sua festa de noivado, Estevão Petrakos sentia-se apri­sionado como um leão em um picadeiro circense. A bisavó acenou para que ele se aproximasse. A senho­ra era conhecida por sua franqueza e Estevão suspei­tava que ela estava ansiosa para dar sua opinião sobre a noiva. Era um dos homens mais ricos do mundo, mas havia aprendido a dar valor à riqueza de uma pessoa genuinamente honesta.

Pequenina, Dorkas Petrakos lançou os olhos ne­gros e perspicazes sobre o belo bisneto, quando ele sentou ao seu lado.

- Krista é uma jovem muito bonita. Todos os ho­mens presentes estão morrendo de inveja.

Estevão ergueu o rosto arrogante e naturalmente bronzeado ao ouvir o óbvio e esperou pelo comentá­rio mordaz que viria em seguida.

- Mas que tipo de mãe ela será para os seus fi­lhos? - perguntou Dorkas.

Estevão estremeceu por dentro, pois nem ele nem Krista estavam preparados para um passo tão grande assim. Na verdade, ele nunca havia pensado na noiva como uma mulher com instintos maternais.

Talvez tivessem filhos em alguns anos. Porém, se isso não acontecesse, Estevão não hesitaria em arran­jar um sucessor apropriado para herdar seu poder e fortuna entre sua extensa lista de familiares. Quando o assunto era filhos, ele não tinha nem um pouco de sentimentalismo.

- Você acha que isso não tem importância, que sou ultrapassada, fora de moda - a velhinha comen­tou, com um toque de irritação. - Mas a verdade é que Krista é fútil e egoísta.

Ele endureceu sua feição, teimosamente. Uma crítica tão dura sobre sua futura esposa não era bem-vin­da. Sabia que a noiva adorava ser o centro das aten­ções e que não conseguia passar por um espelho ou câmera sem fazer uma pose. Abençoada com lindos olhos azul-turquesa, Krista tinha uma beleza singular e passou a chamar a atenção da mídia desde a adoles­cência. Herdeira do império eletrônico Spyridou, fi­lha única de pais muito cuidadosos, Krista era muito mimada. Era óbvio que a bisavó nunca a entenderia.

Não poderia haver duas mulheres com tão pouco em comum. Filha de um pescador, Dorkas cresceu em meio à pobreza e se aferrava aos valores simples da vida. A recusa em aceitar os padrões esnobes de seus descendentes e a língua afiada faziam dela um estorvo e um constrangimento para a família. No en­tanto, Dorkas e Estevão tinham um forte laço afetivo, formado, inesperadamente, durante a adolescência rebelde e conturbada de Estevão, que quase chegou à autodestruição.

- Você não diz nada, mas se perdesse todo o seu dinheiro e suas mansões, carros e aviões, amanhã, acha que Krista continuaria ao seu lado? - pergun­tou a bisavó, bruscamente. - Pois eu acho que ela desapareceria em um passe de mágica!

Ao se levantar e sair de perto da avó, Estevão qua­se soltou uma gargalhada, pois pensou que em uma situação dessas Krista seria nada mais que um estor­vo, um poço de autopiedade e recriminação. Sem dú­vida, ela era o produto de um ambiente luxuoso e ra­refeito. Será que a avó realmente acreditava que exis­tiria uma mulher indiferente e incorruptível frente à fabulosa fortuna dos Petrakos?

Acenou para o chefe da segurança, Nemos, pedin­do que garantisse sua privacidade, e foi até o terraço. Desfrutou do ar fresco enquanto refletia sobre a nu­vem negra que havia alterado seu humor. Afinal, não tinha dúvidas sobre seu casamento com Krista Spyri­dou. Por que deveria? Todos a consideravam o par perfeito para ele. Ela possuía berço e era excelente anfitriã.

Ambos pertenciam ao mesmo mundo privilegiado e exclusivo, e ela conhecia as regras do jogo. Não im­portava o que acontecesse, não haveria divórcio. As­sim, o império Petrakos estaria protegido para a pró­xima geração.

Amor sem fimOnde histórias criam vida. Descubra agora