CAPÍTULO SEISEstevão passeou com seus olhos escuros e abrasadores pelo rosto pálido e nervosode María. Ele estava desconcertado com as mudanças físicas de María. Olheirascontornavam-lhe os olhos e os traços do rosto triangular e frágil indicavamque ela havia emagrecido, nos poucos dias que passara sem vê-la. Estevão juntouas sobrancelhas grossas formando uma expressão preocupada.- Você estápéssima.Ele devia estarcomparando-a com Krista, obviamente, sem nem perceber, dizia a consciência complexadade María.Estavadesesperadamente ciumenta e insegura, justamente em relação à mulher que haviaenganado. Krista é que fora traída, não ela. A vergonha daquela constatação adespertou de seu delírio e se transformou em ódio. Ódio de Estevão por tê-lafeito baixar tanto de nível.- Está doente?- interrogou Estevão.- Não, claro quenão! - refutou María energicamente, virando-se de costas para ele e tentandose recompor.Continuavavisualizando-o em sua mente e o coração não sossegava, aflito e acelerado.Bastou olhar ao rosto moreno e sensual dele, um breve contato com os olhos castanhoscor de mel, cheios de força e vivacidade, para que ela desejasse se jogar emseus braços. Por um segundo, uma fração de segundo, não importava o que fizera.Quis apenas perdoá-lo para poder ficar com ele novamente. Um ardor queimava-lhena altura dos quadris, e os seios estavam ultra-sensíveis, os mamilos rosados,túrgidos de prazer.Afrontada portal debilidade, forçou-se a se concentrar e o encarou destemidamente.- O que estáfazendo aqui? Como conseguiu entrar nesta sala? - perguntou, em tomrepreensivo. - Como me achou aqui?- Esta empresaé minha - informou Estevão. - Queria ver você e providenciei para quearranjassem um encontro com discrição.- Você é donodesta empresa? - María estava boquiaberta. - Foi por isso que me oferecerampara trabalhar aqui esta semana?- Se tem mesmoque continuar trabalhando... eu preferiria que não... - murmurou Estevão - Pensei: por que não trabalhar para mim?- Por quê? Poracaso acha que sou uma peça do seu tabuleiro de xadrez? E que isso é um jogo?Os olhosargutos semicerraram-se e brilharam mais intensamente:- Quero-a devolta. Sinto muito pelo desapontamento que causei a você. Definitivamente, issonão é um jogo.- Por acasoacharia o mesmo se eu estivesse grávida?María ouviu aspalavras desafiadoras saindo de sua boca e assustou-se com sua ousadia. Estavabrincando com uma revelação muito séria, a qual não estava preparada paracontar. No entanto, assim que acabou de falar, percebeuque agora seria obrigada a contar que engravidara.O silênciopairou no ar ameaçadoramente.O semblantedele se fechou. Os belos olhos escuros e vivazes se estreitaram, comdesconfiança.- Você estágrávida?A perguntacurta e grossa chegou ao coração de María com a velocidade de uma bala. Começoua suar frio e parecia que iria desfalecer.- Não - disse,automaticamente, escondendo seus reais sentimentos com um sorriso amarelo,quando na verdade o que queria era gritar que ela e seu bebé ficariam muito bemsem ele. Que nunca iriam precisar de um egoísta e sem coração como pai. Em vezdisso, informou, impassível:- Gostaria devoltar ao trabalho. Por favor, não me procure mais.- Por quantotempo vai continuar bancando a difícil? - Estevão falou entre os dentes comimpaciência e uma frustração crescente. Uma vez mais, ela estava secomportando de forma totalmente diferente daquela das mulheres que a tinhamprecedido. - Não vou voltar para Londres tão cedo. Pelo menos duas semanas.- E por queestá me contando isso? Está surdo? Quero que me deixe em paz.Antes que elalevasse a cabo sua intenção de voltar ao trabalho, Estevão avançou na direçãodela, a apanhou pelas mãos e roubou-lhe um beijo ardente, deixando-a quente,sem fôlego:- Chega dediscutir - disse ele, tomando fôlego após afastar-se, em tom de súplica: -Vamos para o meu apartamento.María cedeunovamente. Quando se deu conta, estava sobre ele, com os dedos cravados em seuombro e com a outra mão aberta sobre o peito de Estevão. A palma da mão estavaquente por causa do calor do corpo e das batidas compassadas de seu coração. Seesperasse mais alguns segundos, sabia que acabaria arrancando a camisa dele.Não era de admirar que ele a convidasse para voltar ao seu apartamento. Era umamulher fácil, disse a si mesma, com desgosto. Aquele beijo tão passionaldesencadeara uma reação de puro desejo que deixou seu corpo trémulo.- Não. Eu...Estevãoenvolveu ambos os pulsos de María para impedir que ela se desvencilhasse dele.- O que querque eu faça? Implore? - apelou ele.Com um esforçosobre-humano, liberou as mãos bruscamente e se afastou.- Você estácomprometido com outra pessoa.- Isso é apenasum negócio... você está na categoria prazer - murmurou com a voz rouca.Os olhos verdesde María brilhavam tanto que pareciam duas esmeraldas. Estava revoltada e comraiva.- Não quero ira lugar nenhum com você. Mereço coisa melhor.- Os heróis àmoda antiga estão em extinção, minha querida - desafiou-a. María não sabia se tremiade raiva ou de nervoso.- Pode ser...mas tenho certeza que restam alguns homens decentes e confiáveis. Até mesmoalguns com princípios, que não acham que o dinheiro que têm pode comprar tudo etodos. Um dia vou conhecer um homem que possa respeitar. E pode acreditar queesse homem não é você!Estevão ficouimóvel, o rosto sombrio. Não estava acostumado a ser insultado. Um brilhotemerário preencheu seus olhos.- Custe o quecustar, você vai aprender a me respeitar. Posso esperar. Sou paciente. Nofinal, sempre atinjo meus objetivos.- Pois isso nãovai acontecer, porque não vamos voltar a nos encontrar - afirmou María veementemente.- E, agora, vou voltar ao trabalho.Ao retornarpara o local de trabalho, María sentia-se fria e extremamente desolada. Ela oodiava e, ao mesmo tempo, o queria; e aquela situação era ameaçadora e a consumia.Pessoas sensatas aprendiam com seus erros e mudavam para melhor. Talvez, emseu caso, devesse mudar, literalmente, re-fletiu.Não tinha laçosfortes em Londres e a cidade era extremamente cara para se viver. Se fosseembora, poderia começar do zero, antes do nascimento do bebé. Se Estevão nãosoubesse de seu paradeiro, com certeza acabaria deixando-a em paz e ela nãoficaria tentada a viver uma relação que acabaria por destruí-la. Tinha poucodinheiro no banco, mas a avó lhe deixara cerca de 1.500 libras em umcofre dos correios.Seria obastante para cobrir as despesas com a mudança.Acharia o mesmose eu estivesse grávida?Aquela perguntamartelava na cabeça de Estevão. Até conhecer María Conway, Estevão haviaacreditado que um estilo de vida luxuoso e presentes caros eram suficientespara deixar qualquer mulher aos seus pés. Mas María era uma mulher complicada,desafiadora e, no entanto, em muitos aspectos, mais simples.Sabia que elaqueria um homem com quem se sentisse segura, que cuidasse dela como merecia.Então, fez aquela pergunta sobre gravidez e Estevão a recebeu mal. María, naverdade, estava fazendo uma simples pergunta para descobrir o nível de comprometimentoque ele tinha com ela, analisou Estevão. E estava esperando uma resposta sincera,porém ele não era homem de expor sentimentos, discutir a relação. Mais de umavez havia terminado relacionamentos só porque queriam entrar nessasdiscussões. Mas com María a história era diferente e ela requeria maistolerância e apoio. E precisava escutar que, não importava o que acontecesse,ele estaria lá para cuidar dela. Infelizmente, ela lhe tinha dado pouco tempopara que pudesse compreender a realidade de que apenas a sinceridade pura esimples a faria escutá-lo.- Sr.Petrakos...? - Um dos membros do conselho murmurou, depois de alguns minutosde silêncio incompreensíveis que estavam deixando os integrantes da reuniãobastante preocupados.Estevão oolhou, friamente:- Não meinterrompa. Não vê que estou pensando?Que diabos Maríaestava tramando?, perguntou-se, intensamente frustrado. Como ousava dizer a eleque não era um homem decente, digno ou merecedor de respeito? Apenas porquenunca sentira vontade de reproduzir não significava que não soubesse o que eracerto e apropriado. Algum dia, teria filhos, com Krista.De repente,passou por sua cabeça a imagem de uma menina mimada, geniosa, com uma expressãoentediada e petulante que apenas sorria quando se olhava no espelho. Emseguida, visualizou outra imagem igualmente atemorizante e um filho fútil ebobo. Se os genes de Krista triunfassem, o que seria do futuro do impérioPetrakos para as próximas gerações? Estevão não conseguiu reprimir uma careta.
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Amor sem fim
RomanceMaría idolatra Estevão Petrakos, um milionário que doou uma fortuna para a instituição de caridade que cuidava da irmã gêmea de María. Além de generoso e rico, Estevão é tão bonito que chega a ser um pecado. Quando María é contratada para um emprego...