Capítulo 5

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CAPÍTULO CINCO


Estevão acariciou as costas de María até chegar à nuca e ao cabelo, e a puxou deforma delicada, mas decidido, para que o encarasse. O olhar quente en­controu odela com uma força que era pura sensuali­dade.- Prometo quenão vai se arrepender da minha companhia - declarou com voz rouca e sensual. -Vou lhe proporcionar uma vida com a qual nunca so­nhou.- Não precisame dar nada - declarou María, tentando decifrar o real significado das palavrasdele. Porém, não conseguia se concentrar, pois algo bem mais poderoso e físicodominava seus pensamentos e sua atenção.Suavemente, Estevãobrincava com o laço que prendia o penhoar de María. Ela prendeu a respira­ção,antecipando o que viria em seguida. Os seios es­tavam rígidos de desejo, os mamilosrosados e ma­cios estavam túrgidos nas extremidades. Entre suas coxas, sentiaalgo palpitar com mais intensidade. Ela se retesou, envergonhada pelaprofundidade de seu desejo.- Espero quenão tenha objeções a que eu lhe ofe­reça um pouco de prazer... - Provocou ele,forte­mente excitado e se deleitando com o efeito explosi­vo que ela exerciasobre sua libido.- Prazer éb-bom - gaguejou María, enquan­to ele abria o penhoar, revelando a fartura dosseios alvos.- Macio comoveludo.A voz dele erarouca e sensual, enquanto esfregava ambos os bicos dos seios de María com opolegar e o dedo indicador. Com um gemido de satisfação, preencheu as palmasdas mãos com os seios exube­rantes e deliciosos.O prazer tomouconta dela por inteiro, extraindo de seus lábios entreabertos sons e gemidos devaria­dos tons.Com ummovimento fluido, ele se afastou um pou­co e se despiu. O coração de Maríabatia forte e as pernas estavam trêmulas. Apoiou a cabeça no traves­seiro eficou admirando-o. Estava exageradamente curiosa e não conseguia parar de olharpara ele. Estevão permanecia tão confiante despido quanto em seu terno.E aquelaautoconfiança era tão sensual quanto a elegância de seu corpo rijo e másculo.Descartou a úl­tima peça e, então, voltou rapidamente para a cama. Suavirilidade fez María salivar.Regozijando-se,com os olhos arregalados de as­sombro, que ela tentava, sem sucesso, disfarçar,Estevão usou a língua para fazer uma incursão pene­trante por entre os lábiosdela, e uma contração involuntária tensionou os músculos abaixo dos quadris de María.Ele enterrou a boca no torço dela antes de descer e, com os dentes, tocar-lhede leve os mami­los. Ela gemeu, arquejando. Um desejo ardente e de­liciosoavivava o doce calor em seu ventre. Agarrou-se aos ombros dele, e, quando Estevãose levantou le­vemente para beijá-la na boca, María aproveitou para explorar otorso musculoso, traçar a pelagem fina e macia do peito que conduzia ao sexorijo dele.- Mostre-me doque você gosta - sussurrou ela. vacilante.Estevão lhedisse sucintamente e teve grande pra­zer em ser seu guia. Ela se dedicou comesmero e ino­cente entusiasmo à nova experiência. Foi uma aluna tão dedicadaque Estevão se viu forçado a concluir o exercício muito mais rápido do queimaginara.Alguns segundosdepois, ele conseguiu recobrar o controle e a beijou com sofreguidão.- Você me tirado sério, pedhi mou.Fazer amor comele havia intensificado seu desejo e seu grau de frustração. Estremeceu nasegurança dos braços dele, ciente da sensação quente embaixo de seu ventre.Quando ele se deslocou, ela trincou os dentes para abafar um grito. O desejoera tão intenso que pressionou o rosto contra o ombro de Estevão,embriagando-se com o perfume familiar da pele dele. Ele mudou de posição,abrindo-lhe as coxas e acariciando-a. O aumento repentino da temperatura a fezmover rapidamente os quadris para a frente e para trás. Para completar o estadode puro êxtase em que se encontrava María, Estevão fez uso da boca, comhabilidade e erotismo, procurando deixá-la ainda mais excitada.- Estevão...por favor.- Se ainda estáfalando é porque não conseguiu desfrutar o suficiente.A intimidadeque existia ali era um doce tormento que a deixou fora de si, tamanha asatisfação. Uma ânsia desesperada a dominava e a pressão aumenta­va. Sentiamuito calor, e no instante que a sensação irresistível se transformou em umatortura libidinosa, o clímax a fez ter convulsões, e María se entregou aoêxtase.Estevão nãoperdeu tempo em encaixar o corpo sedento de forma que encontrasse passagem nacar­ne sensível dela. E o fez com uma precisão implacá­vel. Ela respondeu comum gemido febril e descon­trolado.Eleintensificou a penetração e uma excitação in­tensa a envolveu. O movimentopoderoso de Estevão enviava pequenas ondulações de prazer por todo o corpo de María.Ele lançava-se com ímpeto, com movimentos rápidos e decididos. Surpreendida,pois acreditava que não pudesse ocorrer novamente, María atingiu mais uma vez oclímax.Estevão saiu decima de María e deitou ao seu lado, abraçando-a com ternura. Depois, apanhouuma das mãos dela e beijou seus dedos.- Foimaravilhoso.Não havia umúnico músculo que não estivesse do­lorido. María estava exausta depois de tudoe da in­tensidade de prazer. O ar condicionado estava conge­lando e atranspiração em seu corpo a fez tiritar.- Está comfrio? - perguntou Estevão.- Sim.Estranho, não? - murmurou ela.Ela estavaquieta demais, pensou ele. Talvez esti­vesse sentindo-se desvalorizada? Comosua experiência de vida lhe dizia que suas amantes sempre esperavam receberpresentes, pensou que aquele era o momento de mostrar o guarda-roupa completoque havia mandado comprar para ela.- Vou apanharalgo para você vestir - Estevão disse, saindo da cama.- Esqueci de trazerum agasalho. - Na verdade. María preferia ter tido a coragem de sugerir que ocalor do corpo dele e as carícias logo a aqueceriam novamente. Porém, ainsegurança ameaçava tomar conta de seu ser novamente. Agora que o que haviaacontecido se transformara em um caso amoroso, percebia que não fazia idéia decomo era viver esse tipo de relacionamento. Queria a certeza de que o queexistia entre eles não era casual. Ao mesmo tempo, sabia que estava sendoprecipitada e carente, criando muitas expectativas antes da hora. Não ousariapôr tudo a perder com perguntas e cobranças.Estevão entrouno closet e abriu as portas.- Venha aqui...quero mostrar uma coisa. María se levantou e vestiu a camisa que Estevão haviadespido. Perguntou-se o que haveria para ele mostrar a ela dentro de umguarda-roupa. Ao entrar, ficou em estado de choque.- Todas estasroupas aqui são suas.As sobrancelhasdelicadas arquearam-se e María não disfarçou o desconforto.- Como assim,minhas? Estevão deu de ombros:- É um presentepara você. Amanhã virá uma equipe de modistas para aceitar o que não ficar bom.Espantada com oque ouvia, María abriu uma das gavetas e passou os dedos sobre lingeries deseda e renda. Como ele ousava comprar-lhe roupa íntima? Trincou os dentes,irritada. Ficou observando o resto do vestuário pendurado no cabide e notou queas eti­quetas eram de um estilista muito famoso. O rubor surgiu em seu rosto.- Não acreditoque você realmente ache que é certo fazer esse tipo de coisa - disseseriamente, cruzando os braços. - Posso não ter roupas da moda, mas isso nãosignifica que quero que você as compre para mim!- Meu únicointuito era agradá-la.- Por acaso foivocê que as escolheu? Por acaso sabe quais são as minhas cores preferidas? -per­guntou, abruptamente.- Não - ele foiforçado a admitir, mordendo os lábios com impaciência. Qual era o problemadela? Por que não estava grata, como tantas outras mulhe­res haviam estadoanteriormente? Por que era tão di­fícil satisfazê-la?- Não faz idéiade quais são minhas cores favori­tas nem está interessado em saber. Quer que mevista como um bibelô para o seu bel-prazer, não para me satisfazer.Faíscasdespontaram nos olhos negros de Estevão.- Não éverdade.- Se não gostade mim do meu jeito, não há nada que possa fazer! - proferiu María comveemência, desafiadora. - E, pelo menos, tenha a sensatez de perceber quegastar milhares de libras com alguém como eu, só porque me levou para a cama, éalgo bas­tante ofensivo! Não precisa ficar me lembrando que é milionário.Aquela acusaçãodeixou Estevão furioso. Jogando as mãos para o alto em um gesto irritado, elevoltou para o quarto, possesso.- Pare de falarcomo se minha riqueza fosse um defeito.- Com certeza éuma barreira entre nós. Não sou uma prostituta que você precisa comprar comroupas e presentes. É assim que está me fazendo sentir!- Theos mou...você é impossível! - exclamou Estevão, mais frio que um iceberg. - Um presentenão é um insulto e deveria ser aceito com graça e edu­cação. Sou um homemgeneroso e a sua atitude, sim, é ofensiva. Você não tem modos. E por falarnisso, nenhuma prostituta se esforçaria tão pouco para me satisfazer!A crítica aatingiu em cheio. Aslágrimas brotaram e arderam no canto dos olhos, visto que não estava acostumadacom discussões tão violentas. E jamais lhe haviam dito que não tinha boasmaneiras. No en­tanto, sentia que era errado aceitar um guarda-roupa tãoabsurdamente caro. Caso vestisse aquelas roupas compradas por ele, a sensaçãode inferioridade só au­mentaria. No entanto, quem sabe, aceitando os pre­sentese vestindo-se de acordo com o mundo de Estevão, a enorme disparidade social efinanceira não se­ria amenizada e ele se sentiria mais confortável?, uma voz emseu interior sugeriu. Afinal, o que era certo fazer... o que era errado?Atordoada comtantos pensamentos conflitantes foi até o terraço tomar ar e se acalmar. O arfrio da noite a fez se encolher em um dos sofás. Alguns minutos depois uma dasempregadas apareceu e lhe ofereceu um luxuoso cobertor de caxemira.Do quarto, Estevãoficou observando María co­brindo-se com o felpudo e quente abrigo que ele havia mandado para ela. Enrijeceu os maxilaresem evidente sinal de insatisfação. Ninguém discutia com ele muito menos umamulher. O que a tornava tão beligerante? Tão crítica com relação a ele?Com uma posturaprontamente decisiva e perspiscaz que o tornava tão temível no mundo dos negócios Estevão abriu a porta da varanda e saiuatrás de María. Sem hesitar, pois estava acostumado a supe­rar qualquerobstáculo, inclinou-se, pegou-a no colo e voltou para o quarto.María deu umgritinho, por causa do susto que le­vou.Deixou-a nacama e a encarou desafiadoramente. Com o peito nu e uma calça jeans surrada,ficou ali parado alguns segundos sem tirar os olhos de María. Então, disse,apertando suas bochechas com de­licadeza:- Achei quefosse vibrar com o novo guarda-rou­pa.María fez carade criança abandonada e ficou he­sitante:- Medesculpe... não pensei pelo seu ponto de vista.- Também não vio seu lado. Você é diferente do resto das mulheres. Mas é por isso que a querotanto.Estevão roçouos lábios molhados sobre os dela, como uma carícia, e depois intensificou obeijo. O gosto sedento do beijo dele a deixou sem ar. Pensamentos perturbadoresque a estavam importunando, aos poucos, amainaram.Estevão deitouo corpo forte e poderoso sobre ela. demonstrando-lhe sua excitação. Um arrepioa asso­mou, deixando-a ardente. De repente, o desejava de­senfreadamente, comuma ferocidade desvairada...No diaseguinte, María se espreguiçou e buscou Estevão com uma das mãos. O lugar aoseu lado esta­va vazio, e ela abriu os olhos. A porta do banheiro não estava detodo fechada e pôde ouvi-lo no banho. Olhou o relógio com um sorriso satisfeitoe vagaroso. Eram quatro da tarde.Mais cedo,naquele mesmo dia, Estevão havia voa­do com ela a Marrakech para ocafé-da-manhã em um fabuloso e tradicional hotel. Depois, a levou para co­nheceruma das mais populares feiras do Marrocos, também naquela cidade. Tinhamretornado para o castelo nas montanhas na hora do almoço. No terra­ço, onde foiservida a refeição, eles se sentaram sob as árvores e desfrutaram do arprimaveril do deserto.Bem antes de oúltimo prato chegar, eles já haviam saído da mesa para fazer amor.O telefonetocou na cabeceira da cama. Havia no­tado que Estevão nunca deixava de atendera qual­quer ligação. Após um segundo de hesitação, ela al­cançou o aparelho e oatendeu. Uma enxurrada de pa­lavras estrangeiras a fez perceber que suaintenção de ser prestativa fora em vão.- Perdão ... emque posso ajudá-la - perguntou María em inglês.- Quem é você?Alguma secretária nova? - A mulher do outro lado da linha perguntourispidamen-te. - Passe-me para o meu noivo.María franziu atesta, confusa:- Seu noivo?Quem gostaria de falar com ele?- Krista. Quemmais? - A mulher respondeu com escárnio. - Vamos, chame logo ele... Não tenho odia todo!María pôs otelefone na cama com a mão trêmula. Descobriu que não estava conseguindorespirar di­reito. Curvou-se como se tivesse levado um soco no estômago. Deviahaver algum mal-entendido, pen­sou. Talvez a mulher estivesse brincando oumentin­do, por alguma razão. Afinal, Estevão não seria capaz de enganá-la deforma tão vil. Seria? Não podia ser tão ingênua. Podia? Percebeu, com o coraçãoaperta­do, que nunca havia perguntado se ele tinha alguma mulher. No entanto, Estevãosabia que ela acreditava que ele fosse solteiro.Levantou-se evestiu o penhoar de seda turquesa que havia posto mais cedo. Enquanto amarravao laço sobre a cintura com mãos trêmulas, pelo fone que ha­via deixado apoiadona cabeceira, ouvia a mulher que continuava falando com irritação e raiva.Estevãoapareceu com uma toalha enrolada na cin­tura. Ela apontou para o telefone:- Krista estána linha.Ele ficouimóvel por apenas uma fração de segun­do e os traços do rosto elegantementebronzeado e belo não o traíram nem por um instante. No entanto, naquele momentoMaría soube que não havia ne­nhum mal-entendido, nenhuma piada ou mentira: ohomem por quem havia se deixado apaixonar louca­mente estava comprometido comoutra mulher. A temperatura do corpo despencou e ela começou a suar frio. Ochoque era tamanho que o estômago co­meçou a provocar desconforto em María.Estevão lançouum olhar arguto para ela. Estava pálida. Ele não conseguia se concentrar naconversa com Krista, que, como sempre, estava relacionada com um dos temasextravagantes e inapropriados da festa de casamento. Não tardou muito aencerrar a conversa e dispensar a noiva. Pôs o telefone no gan­cho e se voltoupara María.- Não era destamaneira que você deveria saber sobre Krista - lamentou ele. - Mas até você virpara cá, acreditava que já soubesse da existência dela. Meu noivado é doconhecimento de todos.- Mesmo assim,tinha que ter me contado.A voz quase lhefaltou, pois a cada palavra que ele pronunciava, o pesadelo se tornava aindamais real e mais difícil de suportar.- Tinha aintenção de contar a você quando vol­tássemos para Londres.- Depois de terse divertido à vontade? - ironi­zou ela, sentindo-se extremamente humilhada. -Há quanto tempo está noivo?- Há uns doismeses. Não vi razão para introme­ter esse assunto entre nós.María estavadecepcionada demais com a desco­berta e apenas conseguiu balançar a cabeça,incrédula com o argumento dele. A conversa tinha sido um ver­dadeiro nocaute,pois a reação dele estava sendo inver­sa ao que ela havia imaginado.Estevão nãoestava se desculpando ou inventando desculpas. Na verdade, nem ao menos assumiao pró­prio erro.- Quero quepense a respeito e considere o fato de que o que tenho com Krista não tem nadaa ver com a relação que tenho com você.Uma risadacáustica e mortificada saiu da boca seca de María:- Não precisoque me digam isso. Posso não ser muito sofisticada, mas mesmo uma pessoa comoeu sabe a diferença entre um anel de noivado e o equiva­lente a um fim desemana promíscuo e sujo!O corpoenérgico de Estevão se enrijeceu.- Não foi issoque aconteceu entre nós.- Não sei o queaconteceu entre nós, pois desde o primeiro dia tenho vivido uma mentira -anunciou María violentamente. - Por que me envolveu nesta situação tão sórdida?E para que quer ficar noivo se não pretende ser fiel?- Talvez porquefidelidade não seja tão impor­tante para algumas pessoas como é para você -reve­lou Estevão. - Só posso garantir que minha cons­ciência está tranquila comrelação ao meu noivado.- Bem, oproblema é seu ... e da sua noiva, que deve estar tão desesperada que aceitouessas condi­ções. Mas, pelo menos, ela teve escolha.María o olhava,admirada com a expressão im­passível dele e com a teimosa recusa em admitir quehavia cometido um erro.- Eu não tiveessa chance. Você mentiu para mim...- Não conteinenhuma mentira - insistiu ele.- Mentiu aoomitir a verdade.Placasvermelhas coloriram as bochechas de María, tamanha era a raiva que sentia.- Ontem ànoite, você sabia que eu não imagina­va que estivesse noivo, pois deixei claroque não estaria com você se não fosse solteiro. Mas você prefe­riu ficarcalado.- Tínhamosacabado de fazer amor. Não vi senti­do algum em desapontar você aqui, tão longede casa.Foi naquelepreciso momento que María perdea a paciência, pois ficou claro que Estevão eramuito teimoso.- Em outraspalavras, pôs seu conforto em pri­meiro lugar e decidiu que seria melhor mefazer de tola. Em nenhum momento se preocupou se eu estava traindo meus valoresao me envolver com um homem que está planejando casar com outra mulher. Ou se ofato de saber que nossa relação não é algo especial e único me deixa enojada!O rosto bonitodele estava rígido, contrariado.- Claro que mepreocupei. Mas não dá para viver a vida toda seguindo regras tão rígidas.-Principalmente se essas regras se chocam com os desejos do sr. EstevãoPetrakos, não é verdade? - María o confrontou. - Tenho bons motivos pararespeitar os valores que escolhi seguir.Estevão aanalisou com olhos brilhantes e in­tensos.- Há muitotempo não desejo uma mulher como desejo você. Desistir da nossa história nuncafoi uma opção.- E,obviamente, estamos falando apenas de sexo, pois meu irresistível poder desedução não é su­ficiente para impedir que você se case com outra pes­soa. Ocurioso é que antes me acusou de não saber me comportar. Não acha que tinha odireito de saber que seria apenas um caso passageiro, um fogo de palha? Se tivessealgum respeito por mim, não teria me tratado maneira!- Você estáequivocada. O que senti por você foi atração explosiva. E não acredito quenegar sentimentos torne alguém uma pessoa melhor.Com estaréplica pungente, Estevão foi até o closet e pegou uma roupa limpa para vestir.- Conversaremossobre isso quando estiver mais calma. Acho que discussões são perda de tempo ede energia.- Não meimporta o que acha. Quero apenas que me arranje um jeito de sair daqui o maisrápido possível. - Ela ergueu o queixo e reuniu todo o seu orgulho paraesconder a dor que sentia. - Também não vou me importar se tiver que ficarhoras no aeroporto operando pelo próximo vôo para Londres.- Isso éloucura. Por que vai embora? Não faz sentido dizer que o que existe entre nós écasual - insistiu Estevão veementemente. - Quero você na minha vida.- Sinto dizerque esse é um daqueles raros casos em que você não consegue o que quer.Os olhos verdesde María cintilavam cheios de censura.- Não voudeixar você ir embora.- Não temescolha.Maríaescancarou a pequena mala que havia levado e começou a guardar os poucos itensque trou­xera de casa. Ela o odiava, porém a aterrorizava o fato de que a imagem angustiante dele nos braços de outramulher a torturava lentamente. Para se manter sã, tratou de permanecer ativa eprática.Estevãoobservou-a empilhar seus pertences. Não gostava de confrontos emocionais. Nãolidava com emoções, ponto final. Nunca havia se metido em con­fusões amorosasou em promessas e muito menos deixado se levar por histórias com finais felizespara sempre. Mas sabia que ela acreditava naquilo tudo e que a tinha magoado.Preferia dar um tempo para que ela se acalmasse. Não acreditava que ela fosse,sim­plesmente partir e abandoná-lo.Uma horadepois, Hamid o informou que María estava no salão principal com a bagagem. Estevãofi­cou olhando para a tela do computador e se deu conta de que não havia feitonada durante todo aquele tempo.Vestida com umablusa branca e uma saia jeans e com os gloriosos cabelos presos na nuca, elaestava de pé, em frente à janela.- Entendo queesteja decepcionada, mas acho que poderia ser mais flexível - disse Estevãoterna­mente.- Estevão ... -sussurrou María, interrompendo-o. - Ser flexível é apenas uma forma diferentede dizer ser usada por você, e não sou masoquista. Mas já cheguei à conclusãoque tudo o que aconteceu en­tre nós não foi inteiramente culpa sua. Tenho minhaparcela de culpa também.Os olhos cor deébano semicerraram-se.- Como assim?María queriacontar a ele sobre Suzy, porque es­tava convencida de que seria a última vezque o veria.- Para que vocêentenda, tenho de voltar nove anos no tempo, que foi quando vi você pelaprimeira vez. Tinha 14 anos.Estevão estavaintrigado.- A primeiravez? Como? Onde?- Você visitouminha irmã gêmea na clínica para crianças.Ele franziu atesta, desconcertado.- Em umaclínica?- O nome delaera Suzy... e, não, você não repa­rou em mim em nenhuma das visitas. Era apenasuma das fãs no meio das pessoas em volta do carrinho de chá. Minha irmã tinhaleucemia e pouco tempo de vida. Um dia, você voltou com o cantor da banda fa­voritadela. Suzy ficou exultante. Você era o ídolo dela e naquele dia se tornou o meutambém, por ter sido tão generoso e bondoso com ela.Estevão estavachocado com o que ela lhe dizia. Também perdera uma irmã gêmea quando eraadoles­cente, mas era um assunto proibido para ele. Além disso, aquelarevelação havia conseguido penetrar sua armadura de homem frio e calculista.Ele era o herói dela. Aquilo era mais doloroso que uma surra.- Sua irmã,Suzy, morreu?María fez quesim, estampando a tristeza nos be­los olhos verdes.- Sinto muito.Durante anos visitei centenas de crianças. Infelizmente não me lembro dela -admi­tiu ele.- Faz muitotempo. Não esperava que se lembras­se. Apenas queria que soubesse que mesmo quetudo dê errado entre nós, no campo pessoal, sempre serei grata por você ter feito minha irmã tão feliz enquantoestava viva.- Não quero suagratidão, pedhi mou. Esse tipo de gratidão é algo que nunca quis de ninguém.- Mas, pelomenos, espero que isso explique o motivo que me fez ter agido tãoimpulsivamente, quando, finalmente, tive a chance de falar com vocêpessoalmente. Tinha essa falsa imagem da sua pessoa - uma imagem imatura,infantil. E sei que acabei causando a impressão errada também.- Theos mou ...Não diga isso, não é verdade.- Preciso ir.María não sepermitia voltar a encará-lo. Hamid já lhe havia avisado que o helicóptero aaguardava para levá-la até o aeroporto. Estevão tinha o poder de deixá-la débile hesitante, mas estava determinada a ser forte e ir embora com dignidade.- Você não mecausou nenhuma impressão erra­da - rebateu ele. O sotaque estava mais carregadodo que de costume. - Quando vi você, o estrago já estava feito. Meu instinto decaçador é muito forte e quanto mais você resistisse mais eu a desejaria. Medesculpe por ter magoado você. Mas pense bem antes de ir embora e dar as costasao que temos juntos. Algo tão especial não se encontra com facilidade.- Mas foi umafarsa - rebateu ela, com tanta amargura que precisou lutar para esconder.Estevãoobservou o helicóptero partindo. O perfil imponente e solene estampava purafrustração. Foi até o bar e serviu-se de uísque. A partida de María haviadesencadeado reações adversas e desconfortá­veis nele.Talvez fosseaté melhor que ficasse um tempo sem vê-la. Afinal, não era nenhum herói, e nemtivera a ilusão que fosse. Pensou que seria típico de María Conway se entregara um homem apenas se ele fosse um maldito herói!E, no entanto,ele havia se comportado como um cafajeste, pensou, com a consciência pesada.Tinha se aproveitado da inocência de uma virgem que o vira, evidentemente, sobum prisma adolescente e apaixonado. Recordou-se dos olhos cheios de vida de María,quando ela o viu no primeiro dia, na sala da reunião. Perguntou-se o que teriade fazer para trazer aquele brilho de volta, e não tinha dúvidas da sua ha­bilidadepara alcançar aquela meta.No entanto,terminar com Krista não era algo ne­gociável, ponderou. A escolhera para sersua esposa, e não era homem de voltar atrás. Só havia vaga para o papel deamante. María teria que entender e acei­tar isso. Daria a ela a chance de sefamiliarizar com o conceito da palavra condescendência. Recusava-se a pensar napossibilidade de que ela acabasse se mos­trando teimosa e contestadora.Depois dealgumas horas de atraso no aeroporto, María conseguiu retornar a Londres em umamanhã cinza e úmida. Sentiu falta da luz vívida do sol quase tanto quanto afalta de Estevão. Ele havia feito com que um avião da Petrakos a levasse atéLondres. Du­rante o vôo, por causa da tripulação, teve que prender o choro emanter os olhos secos. Ao chegar em casa, pensou como o apartamento que alugaraera descon­soladamente frio e escuro.Não tardou emadvertir-se de que aquele era o mundo real. O seu mundo real. Agora entendiapor­que o Marrocos parecera um conto de fadas. Como pôde iludir-se achando queseria algo sério e duradouro? A relação afetiva não tinha sido mais que umaffaire passageiro, e ela, um objeto de desejo fortuito do milionário gregopara quem uma única mulher, claramente, nunca seria suficiente. Ele a tinhaesco­lhido porque ela fora inacreditavelmente fácil.No diaseguinte, foi despertada pela entrega de um magnífico buque. Disse para simesma que não iria ler o cartão, e apesar da beleza das flores ter lhe causadolágrimas nos olhos, ainda assim, as jogou no lixo.Recusou-se acair no equívoco de acreditar que amava Estevão. Como poderia amar alguém quemal conhecia?Tinha queesquecê-lo, e logo. Mas o desejo por ele a consumia como uma dor constante. Nãosabia como exterminar o impulso veemente e impaciente de pelo menos ver o rostode Estevão uma vez mais. Como conseguiria algum dia perdoar-se pelos erros queco­metera?Disposta avoltar a trabalhar e ansiosa para ganhar mais dinheiro, passou na agência deempregos para dizer que estava livre novamente. Por sorte, tinha tra­balhonaquela noite, em um supermercado. Quando acabou seu turno, estavaverdadeiramente cansada. Mal conseguia andar pela rua no caminho para casa. Oque era bom, pois o cansaço a impedia de pensar.De repente,notou que uma limusine a seguia. O chofer parou no acostamento e abriu a portapara que ela entrasse.- Por favor, váembora! - pediu ela em voz bai­xa, rezando para que nenhum de seus colegas detra­balho estivesse vindo, mais atrás.O automóvelcontinuou seguindo-a até em casa, e quando ela subia as escadas, Nemosapareceu, carre­gando um enorme baú cheio de roupas.- Nemos ... porfavor - murmurou ela, fatigada. - Não quero isso.Ele deixou obaú em frente à porta de entrada do edifício de María.- O sr.Petrakos nos mandou apanhar a senhora no trabalho e lhe entregar estas roupas.María implorouque ele tirasse o baú de perto e ele assentiu, levando-o de volta para o carro.- Ele aindaestá no Marrocos? - Não conseguiu controlar a curiosidade.- Em Atenas ...a trabalho.Não devia terperguntado; onde Estevão estava ou o que fazia não era mais problema seu.Ficou felizquando a agência de empregos telefo­nou avisando que havia uma vaga temporáriade uma semana em uma grande companhia de seguros. Mais tarde, a vizinha, filhada sra. Evans, pediu que María ficasse algumas horas com a mãe, pois precisavasair. Contente, porque poderia se distrair um pouco e esquecer temporariamenteos problemas, María desceu para a casa da senhora para lhe fazer compa­nhia.No apartamentohavia televisão a cabo e a senhora Evans insistiu que María ficasse à vontadepara es­colher o programa que desejasse.Com o controleremoto, zapeava pelos inúmeros canais quando se deteve em um deles, perplexa. Aprimeira coisa que viu foi a foto de Estevão com um título abaixo anunciando odocumentário sobre a vida amorosa do milionário grego. O programa já ha­viacomeçado, mas María teve tempo de ver uma loura incrivelmente bela entrando noconvés de um imenso iate branco. A partir dali, não conseguiu mais despregar osolhos da televisão e, ainda assim, nada lhe causava mais sofrimento queassistir aquele pro­grama.Sentia vergonhada sua curiosidade mórbida de sa­ber quem era Krista. O que descobriu sobre elae a re­lação com Estevão apenas a deixou mais ressentida e humilhada. Ao ladode Krista Spyridou, com o cabe­lo louro e perfeito, a aparência de supermodeloe lin­damente maquiada, María via a si mesmo como uma pobre coitada em guerraconstante com a balan­ça. O que mais a impressionou foi o fato de que umamulher tão linda como Krista não fosse suficiente para satisfazer Estevão. Seráque ele era um mulherengo inveterado? Incorrigivelmente viciado em ex­periênciasnovas e desafios?Porém, ao longodo documentário, descobriu que Estevão conhecia Krista desde a adolescência, ecada comentário sobre as fotos do casal fazia com que o coração de María secontraísse. Eles realmente pa­reciam ser o casal perfeito. Ambos eram gregos,lin­dos, ricos e sofisticados. María sabia que não tinha nenhuma daquelasqualidades e perguntou-se como havia conseguido chamar a atenção de Estevão.Apesar de doloroso, tinha de admitir que ele se preocupava verdadeiramente comKrista. Do contrário, porque um homem com tantas opções e com tanta expe­riênciairia escolher se casar com ela?Assim que saiudo trabalho, no dia seguinte, María foi direto à farmácia e comprou um teste degravi­dez. Estava à beira de uma síncope. O resultado não tardou a sair:positivo.Subitamente,sentiu-se nova demais e muito assus­tada. Havia conseguido fazer tudo errado:engravida­do na primeira relação sexual com um estranho. E para piorar, o paida criança, Estevão Petrakos, não li­gava a mínima para ela e, certamente, nãoqueria que tivesse um filho dele. E, naturalmente, Krista Spyri­dou tampoucoiria querer.María ficou selamentando duramente por um bom tempo, tomada pela culpa e pelo desconsolo. Sa­biaquão miserável se sentiria se o homem com quem fosse se casar engravidasseoutra mulher. Krista, que era uma vítima naquela história, ficaria arrasada ehumilhada se descobrisse. Além disso, seria um constrangimento em dobro porcausa da opinião pú­blica, visto que eles eram conhecidos na mídia. Caso aimprensa descobrisse que Estevão havia engravida­do uma de suas funcionáriastemporárias, no mesmo dia a história seria capa de todas as revistas de mexe­ricose dos jornais sensacionalistas.Uma onda amargae dolorosa, cheia de arrependi­mento, a invadiu. Como iria sustentar aquelacriança que crescia em seu interior? Com o que recebia, mal conseguiaalimentar-se direito. Bebés precisavam de vários cuidados e roupas. Uma crecheera financeira­mente inviável. Como iria conseguir trabalhar e cuidar do filho?E se não fosse capaz de se manter em um emprego estável, a criança teria ofuturo prejudi­cado e ficaria sem referência, um exemplo em que se espelhar,pois estariam sempre vivendo em condi­ções de pobreza e necessidade.Ao meio-dia foichamada pelo gerente-geral ao primeiro andar. Ele parecia um tanto nervoso. Sepor um lado estava preocupada que tivesse feito algo er­rado, por outrosentia-se grata por poder sentar em um lugar confortável e aquecido.Quando a portase abriu, levantou-se, surpreen­dida. Um gemido surdo saiu de seus lábiosentreaber­tos pelo fato inesperado: Estevão estava bem à sua frente.- O que estáfazendo aqui? - María balançou a cabeça, incrédula.


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