Capítulo 7

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CAPITULO SETE María estremeceuao ver o rosto assustado de Estevão com a descoberta.- Sim, mas...Estevão seconcentrou nela com uma intensidade impetuosa que a fez se sentir horrível,como um cri­minoso condenado por um crime hediondo.- É essa amentira de que estava falando? María fez que sim com um gesto relutante da ca­beça.Estevãolevantou uma das mãos energicamente e voltou a baixá-la. Seus olhos escuros,agora, estavam carregados de ira.- Pois não estáperdoada.- Sei que anotícia é um choque para você...O sentimento derevolta atormentava Estevão, que se gabava de seu autocontrole e frieza. Já eraruim o suficiente que ela tivesse desaparecido. Pior ainda era ter sumidoquando estava carregando uma criança que também tinha o seu sangue. Aquilo odeixava fu­rioso. Todos aqueles meses desperdiçados, pensou, quando poderiamestar juntos e bem.- É muito maisque um choque...María retirouos cachos acobreados que lhe caíam sobre a face oval e ergueu o queixo:- É umdesastre? Foi assim que você classificou a possibilidade de eu estar grávida.- Isso não éjusto. Está voltando ao passado, quando mal nos conhecíamos, para fazerreferência a um comentário casual? - rebateu Estevão tão rapi­damente quanto avelocidade da luz.- Eu não sabiaainda, mas você estava noivo. Tudo bem, aceito que o que tínhamos era casualpara você, e, obviamente, não ia querer que eu tivesse um filho seu. Por quenão admite que o fato de eu estar grávida é a pior coisa que poderia teracontecido em sua vida? - disse María com uma expressão de so­frimento.A face morena ebela enrijeceu.- Não venha medizer o que eu penso ou o que sinto - disse ele com raiva. - E não inventedescul­pas para si mesma!María reagiucom um olhar defensivo:- Não estou...- Está, sim. Eisso faz com que sua atitude tenha sido ainda mais inaceitável. E daí que euachasse que você não estava grávida? Você estava, e no instante que issoaconteceu tudo mudou para nós.- Como?Estevão aestudou vagarosamente. Afastou-se para que pudesse olhá-la melhor. O relevo quetinha o es­tômago, antes tão reto e rígido, rapidamente estava se tornandomotivo de fascinação para ele. Não se lem­brava da última vez que haviaobservado uma mulher grávida. Nunca tinha tido o menor interesse. Mas agora eradiferente - ela agora representava o papel principal naquela história.Lá no fundo desua psique masculina uma onda primitiva de satisfação o incendiou, junto com aadmiração que sentia com as mudanças no corpo de María: ele era um homemfértil. Ela carregava sua semente no ventre.- Esse filho émeu - destacou ele. - Desde o início eu tinha o direito de estar envolvido emqual­quer decisão que fosse tomar.María estavacompletamente incomodada e de­sejava que ele parasse de olhar para a suabarriga da­quele modo diferente tão novo e estranho.- Não é assimque vejo as coisas.- Então émelhor começar a ver do meu jeito. Veja a confusão que já aprontou! - acusou-a Estevãoenfática. - Como pôde ir embora sem ao menos ter me contado que estavaesperando um filho meu? É repulsivo que tenha me excluído de algo que sem­prevai ser de meu interesse.- Não apronteiconfusão nenhuma! - Os olhos verdes brilhantes estavam desafiadores. Apertou ospunhos, pronta para a briga. - Achei que estivesse fazendo um favor para você esua noiva.- Que absurdo!- Estevão vociferou. - Fugiu sem dar notícias, porque eu estava noivo? Esse foio meu castigo e a sua vingança?- Não éverdade. Não sou tão vingativa e egoísta a esse ponto.- Agora, aprimeira coisa que pode me dizer é onde esteve durante todo esse tempo - exigiuele, em tom severo.- Me mudei paraSouthend, mas tive um proble­ma com o dono do apartamento que estava alugando eprecisei me mudar outra vez.- Que tipo deproblema?Ela mordeu oslábios.- Ele me ligavae dizia que queria me ver e me as­sustou.- Se soubesse,teria resolvido isso rapidamente - disse Estevão entre os dentes. - Por que nãome ligou?- Não foi nadademais. Mas... a segunda mudan­ça me deixou sem dinheiro e, além disso, ficoumais difícil arranjar emprego. Comigo assim, não tinha muitos lugares ondepudesse trabalhar.Estevão desviouo olhar e foi até a janela. Estava profundamente ofendido por ela não tê-loprocurado para pedir ajuda. Cada palavra que María proferia aumentava seudesprazer. Nunca uma mulher havia agido como se ele não fosse digno deconfiança.- E o queaconteceu com seus princípios tão no­bres? - ele a ridicularizou. - Tem tantoorgulho de seu bom caráter. Para onde ele foi quando você sumiu sem me dizerque era a mãe do meu filho?O desconfortode María aumentou.- Realmenteachei que estava fazendo a coisa certa.- Acreditei emvocê quando falou de seus princí­pios. Confiava em você. Mas você me traiu,mentiu para mim.- Estavavivendo um momento de muita instabi­lidade emocional. Me sentia muito culpada -mur­murou María, tomada pela tristeza. - Mas, agora, vejo que se fui a causa dotérmino do seu noivado, não devia ter ido embora depois que descobri que es­tavagrávida.Estevãoenrijeceu todo o corpo. Aquela associação de idéia o deixou perturbado. Elaestava indo rápido e longe demais com essa história.- Uma coisa nãotem nada a ver com a outra. Não terminei com Krista por sua causa - informouele. secamente. - Quanto a isso pode ficar sossegada. Não tem por que se sentirculpada.A respostadebochada e insensível magoou María. Ficou tão abalada com a rejeição descaradade Estevão que não conseguiu fitá-lo. A dor intensificou-se e, junto com ela, asensação horrível de humilhação. No instante em que tinha descoberto que Estevãoe Krista haviam terminado o noivado, encon­trara o pretexto que precisava paraprocurá-lo.- Não mintamais para mim. Ainda tenho muita consideração por você, pedhi mou - concluiu Estevão,voltando a apreciar o pequeno corpo de María. Enquanto a olhava, a raiva porela ter sumido foi ce­dendo aos poucos. Mesmo grávida, ela permaneciaprimorosa. Já estava começando a se acostumar com a nova forma do corpo dela.Na verdade, já encontra­va as curvas volumosas e o perfil mais corpulento que ohabitual, bastante aprazível.María, poroutro lado, sentia-se mais do que frá­gil. Era apenas uma mulher com quem eletinha dor­mido, que engravidara, e agora queria entrar para a família. Não eranem um pouco especial para ele. Sua testa, de repente, ficou molhada de suor.No entanto, de alguma forma, ele havia se tornado especial para ela. Apavoradacom a idéia de vomitar na frente dele, esforçou-se para bloquear a ânsia quesentia. Respi­rou fundo, lutando contra o mal-estar e a tonteira, mas acaboudesabando sobre uma cadeira.- Estevão, eu... - O ataque de náusea piorou, María se levantou em um movimento repentino,na tentativa de sair do local e procurar o banheiro mais próximo, mas, derepente, tudo escureceu ao seu re­dor, e ela desmaiou.Por um segundo,Estevão a observou apavorado, mas não tardou em reagir. Apertou oalarme em seu re­lógio de pulso para chamar seus seguranças e se aga­chou paracolocá-la em uma posição mais confortável.María recobroua consciência e soltou um gemi­do por causa dos flashes das câmeras que aestavam cegando.- O que... oque está acontecendo?Estevãoapressou o passo ao subir as escadas da entrada do edifício cujas portas jáestavam abertas para que passassem. Em seu colo estava María, que ele apertouainda mais enquanto rompia a barreira de fotógrafos.- Os paparazziestão aqui - grunhiu Estevão. - Estavam esperando do lado de fora do hotel enos se­guiram. Bando de abutres!- Onde estamos?- Em umaclínica particular. Quero que faça um exame completo.- Mas fui aomédico hoje.- Ele nãoajudou muito - disse Estevão com veemência.- A culpa foiminha, pois não comi nada desde o café-da-manhã - confessou ela. - Me ponha nochão, por favor. Posso andar.Ele a pôs nochão, com muito cuidado, mas quando María tentou se equilibrar sobre os pés, acabeça voltou a girar e teve que agarrar a manga da camisa de Estevão para nãocair.- Você falamuito e age pouco - censurou-a Estevão voltando a apoiá-la. - Por que não medeixa fazer o que sei fazer melhor?María tardou aperceber que havia outras pessoas ao redor: Nemos e sua equipe, e uma juntamédica. Parecia que todos estavam olhando para ela.- Como, porexemplo, sair mandando em todo mundo? - provocou.Estevão ficoumais descontraído com aquela pro­vocação e deu uma risada. Ele inclinou a cabeçapara mais perto de María e sussurrou ao ouvido, com um sorriso debochado:- Faço muitascoisas melhor que outras pessoas, glikia mou.- Como seexibir?Apesar daspessoas ao redor, estava incrivelmente tentada a envolver os braços ao redor deEstevão e abraçá-lo com força. Queria capturar aquele momen­to e aquelalembrança, para desfrutar no futuro, quan­do ele já não estivesse por perto.Com ele, Maríahavia aprendido quão vulnerável podia ficar. Ao deixar Londres, tinhaacreditado que estava tomando a decisão mais sensata para uma si­tuação muitoruim. Porém, não houve um dia durante aquelas semanas que não tivesse pensadoem Estevão, sentido sua falta e desejado estar nos braços dele.Estevãoacomodou María na maca do elegante consultório, para que fosse examinada. Emseguida, se voltou para o ginecologista, que já os estava aguar­dando.Enquanto eraexaminada, María disse acreditar que não havia nada de errado com o cansaçoexagera­do e a falta de apetite.- Posso ouvirdois corações batendo - disse para ela em voz baixa. - Quase com certeza estáes­perando gêmeos.María ficou semar por alguns segundos e, ao lembrar da irmã gêmea, Suzy, aos poucos voltou asorrir.Estevão andavade um lado para o outro do lado de fora do consultório, quando ela reapareceu,sentada em uma cadeira de rodas.- Também nãoquerem me deixar andar sozinha. Só preciso fazer uma ultra e logo estareilivre... Não se preocupe, estou bem.- Isso quem temque saber são os médicos. Quero estar presente na ultra-sonografia.Quando o médicoligou o monitor, ambos ficaram hipnotizados pela imagem incrível que apareceu,em terceira dimensão, do útero de María.- É um bebé...- murmurou Estevão encantado. Ele achava que só seria capaz de ver uma mancha natela e ficou surpreso com o rostinho bem definido à sua frente.- Ai, que lindo- declarou María, emocionada. Estevão apertou as mãos dela.- Vamos ter ummenino?- Quer sabermesmo? - perguntou o médico.- Claro -respondeu ele ansioso. - Esse é um menino...- Já dá paraidentificar tão cedo? - Estevão olhava o monitor maravilhado. - Então, vamoster um meni­no. Mas o que o doutor quis dizer com "esse".- Estouesperando gêmeos - contou María, notando que ainda não tinha revelado o pequenodetalhe, e se sentindo mal por ele estar descobrindo na­quele momento.- Fica difícilidentificar o sexo do outro com os bebés nesta posição, mas estou quase certoque o ou­tro bebé é uma menina - respondeu o médico.- Theos mou...gêmeos. - Estevão estava em es­tado de choque e olhou fixo para ela. Com opolegar e o indicador acariciou o pulso de María e voltou a atenção para aclaridade das imagens em movimento.- Estãosaudáveis? - perguntou María ansio­samente.O carinho querecebeu aliviou o peso na consciên­cia. O médico lhe pediu que não se aborrecesse,que comesse mais e dormisse bastante.Estevão estavadeslumbrado. Duas crianças, um menino e uma menina, seu sangue. Estava surpresocom a satisfação que sentia e mesmo com a ansiedade de vê-los nascer logo.Sempre havia acreditado que não se importava se tivesse filhos ou não. Porém,no instante em que os rostinhos apareceram na tela do monitor, algo mudouradicalmente dentro dele. Do orgulho egoísta surgia um forte sentimento deproteção com relação a María e aos bebés que ela levava no ventre.- Vou levarvocê para casa agora. Vai comer como o médico recomendou e, então, descansar. -Estevão acabou de pronunciar estas palavras e a limusine estacionou na entradada clínica. As luzes dos flashes dos paparazzi chamaram a atenção de María, queentrou rapidamente no carona do automóvel.- Meuapartamento na cidade não é longe daqui.- Não, porfavor. Não acho que seja uma boa idéia. Prefiro ir para um hotel.- Não sejaboba. - Estevão a interpelou, incré­dulo.María refletiu,desanimada:- É verdade quepreciso do seu apoio financeiro neste momento. Ficaria muito grata se pudesseme ajudar a encontrar um lugar para morar. Um lugar que eu possa pagar. Queropoder me manter sozinha.- Mas você nãoestá sozinha. Não tenho nenhuma intenção de perder você de vista, pedhi mou.María o fitoude relance e foi pega de surpresa pelos olhos astutos e carregados de fortesentimento de posse que pesavam sobre ela. O coração pareceu encolher-se dentrodo peito. Não conseguia manter a sensatez ao lado dele. Na verdade, sempre secom­portava como uma tola, imatura e fraca. Mas agora que estava grávida erahora de acabar com tamanha vulnerabilidade. Seus bebés precisavam de uma mãemais decidida, que agisse como uma mulher adulta e inteligente. - Estevão...você vai me escutar por um minuto? Preciso da minha independência. Não mesentiria à vontade no seu apartamento. Você dormiu comigo e acabei engravidandoacidentalmente. Essa é a única razão por que ainda estou aqui com você, agora.Não precisa fingir que há algo além disso entre nós.Estevão nãogostou nada do que ouviu. Ela estava se afastando dele, justo quando queriaatá-la a ele.- Mas é claroque existe algo além disso entre nós.- Não, nãoexiste.María pareciater um nó na garganta, porque tão cedo não esqueceria a declaração sincera deque ela não tinha tido nada a ver com o fim do noivado dele com Krista. María oamava. Estava perdidamente apaixonada por ele. Mas ele não sentia o mesmo porela. Tinha que aprender a conviver com essa realida­de, e quanto menos tivesseele por perto, melhor.- María...Se não ficasseem seu apartamento, refletiu Estevão, seria sempre um motivo de preocupação.Como saberia onde ela estava, com quem, ou se estava cui­dando bem de si mesmae dos bebés?- Espero quevocê se interesse por nossos filhos e que quando eles nasçam possamos noscomportar como pessoas civilizadas - murmurou ela, com os olhos vermelhos eirritados por causa das lágrimas que insistiam em cair. Baixou a cabeçapara disfar­çar, pois não queria que Estevão percebesse.Ele estavaprestes a informá-la que qualquer ameaça de ir embora com seus filhos novamentee afastá-los de seus cuidados seria um ato de injustiça e desagregação que elese recusava a aceitar. Mas algo aconteceu que o fez mudar de idéia. Uma únicagota de lágrima caiu sobre a mão fechada de María. Ele congelou. Ela enxugou osolhos e fungou.- Por favor,não! - murmurou ela aborrecida, afastando-se como se Estevão tivesse uma doençacontagiosa, quando ele tentou reconfortá-la com um abraço.Estevão ficouextremamente frustrado com seu sentimento de impotência. Ela tremia, claramentede­sapontada, e ele não podia envolvê-la ou oferecer conforto. Então, deu-lhe um lenço para que ela enxu­gasseas lágrimas. Ela assoou o nariz de uma maneira que o teria feito rir se fosseem outra circunstância.As lágrimas,que Estevão sempre havia tratado com indiferença e considerado como mais umaarma feminina, tiveram um impacto perturbador, nos olhos de María. Ela o fez sesentir como um idiota. Estava cansada, infeliz e grávida de seus filhos. Nãoqueria desapontá-la ou forçá-la a fazer nada. Pela primeira vez na vida,controlou a personalidade forte e refreou seus argumentos e sua impaciência.Para o bem de María, decidiu que iria com calma e a levaria para um hotel.No diaseguinte, María acordou depois de uma longa noite de sono, sem sobressaltos.Com uma suí­te inteira só para ela, tivera uma boa refeição, um ba­nhodelicioso de banheira e uma cama confortável, que permitiram que ela logoadormecesse. Tinha chorado bastante durante o banho e descarregado asfrustrações e os medos. Fora dormir exaurida e ali­viada.De pijama,havia acabado de tomar café-da-manhã quando alguém tocou a campainha. Achavaque era a camareira que voltava para tirar a mesa do café e abriu a porta semverificar pelo olho mágico.- Pelo visto jásabe quem sou. Posso entrar? - perguntou Krista Spyridou.Maríaempalideceu e, em seguida, ficou verme­lha de vergonha. Foi Krista quem fechoua porta e en­trou graciosamente no quarto, sentando-se na cadeira mais próxima,totalmente à vontade. María não conseguia tirar os olhos da mulher na suafrente. Os cabelos louros eram exuberantes e macios, exatamente como nas fotos.Os olhos azul-turquesa faziam um contraste belíssimo com a pele morena e sem fa­lhas.A perfeição de Krista era de tirar o fôlego. E María ficou alguns instantes semar.- Vejo que estáconstrangida - notou Krista com uma pose de dar inveja. - Mas não precisa. Te­nhoa solução para os nossos problemas.- Não sei o quedizer. Você deve me odiar.- Por quê? Senão fosse você a se meter na cama dele, teria sido outra qualquer. Estevão fazo que quer e nem sonharia em mudar sua natureza. Já me sinto privilegiada emfazer parte da vida dele. Ele é um ho­mem muito especial - murmurou Krista comum sorriso apático. - Mas essa sua gravidez, sim, repre­senta um problema.- Como sabe queestou grávida?- Ainda não viuas fotos que saíram nas revistas? Foram tiradas ontem, do lado de fora daclínica. Aliás, não foram nada generosas com você. - Krista deu uma risadasarcástica. - Enfim, tudo que esteja relacionado a Estevão Petrakos viranotícia.- Desculpe-me,mas não quero discutir minha vida pessoal com você.- Se realmentese importa com o futuro dos seus filhos, vai me escutar.María gelou.- Como sabe queestou esperando gêmeos? Krista a fitou, impávida.- O que acha? Estevãome contou...María ficoubastante abalada com a informação e enojada com a idéia de que Estevão tivessediscutido a vida particular com aquela mulher. Também estava bastanteintimidada com a loura deslumbrante em seu terno azul-claro, com brincos dediamante e corpo de sereia.- Tenho umaproposta para lhe fazer - conti­nuou Krista.- Não quero sergrosseira... mas o que tudo isso tem a ver com você?María buscavadesesperadamente manter a dig­nidade.- Pelo que sei,você e Estevão não estão mais noi­vos.- Estevão e eusomos muito íntimos. Já termina­mos antes, mas sempre reatamos. Essa situação émuito desagradável e fico feliz de poder ajudar Estevão a resolvê-la.María fechou ospunhos e por pouco não partiu para cima da loura insolente. Sentia-se completa­mentehumilhada.- Então váfalar com ele sobre isso.- Não, isso éentre nós duas. Estou disposta a adotar seus filhos assim que eles nascerem.- Não podeestar falando sério!- Seria amelhor solução para todos. Estevão e eu vamos nos casar, como sempreplanejamos, e cuidar das crianças. É perfeito!Sentindoaversão por cada uma das sugestões, María ficou olhando para a loura sorridentee se perguntando se seria verdade que Estevão iria voltar para Krista, queparecia muito segura de si. Não havia por que não acreditar que ela tivessebons moti­vos para fazer tal afirmação.- Estevão sabeque está aqui?Krista ergueuuma das sobrancelhas com arrogân­cia.- O que acha?O coração de Maríase encolheu e sentiu um ca­lafrio. Com certeza, Estevão ainda permanecia inti­mamenteligado a Krista para que ela soubesse tanto sobre María.- Obviamente, Estevãose sente responsável por seus filhos.- Pois nãoprecisa. Vou me virar sozinha - de­clarou María belicamente.- Mas ele nãovai aceitar isso - protestou Krista.- Ele é umPetrakos e está acostumado a ter o con­trole de tudo. Não entende o que issosignifica? Se ele achar que você não é a mãe ideal para os filhos dele. vaitirar as crianças de você. - María estremeceu.- Você não faz idéiano que se meteu. - Krista Spyridou balançou a cabeça impacientemente. - Estevãoé muito poderoso e impiedoso quando quer conseguir algo. Se eu adotar as suascrianças, ele fi­cará muito satisfeito e vai garantir que você nunca maisprecise trabalhar ou se preocupe com dinheiro novamente.- Nunca abririamão dos meus filhos! - disse María com mágoa e raiva. - E nenhum dinheiro nomundo vai me fazer mudar de idéia.- Eu cuidariadeles como se fossem meus. - Krista continuava falando, com o mesmo tom de voz calmoe indiferente à atitude de repulsa de María. - Estou tentando ajudar você... atodos nós. Se não tomar cuidado, vai acabar perdendo seus filhos de qualquermaneira. Não acha que eles estariam melhor se fossem criados por uma família? Oque você tem para oferecer a eles? María escancarou a porta:- Por favor,saia daqui. Não estou disposta a dis­cutir mais sobre esse assunto.Krista deixou ocartão de visitas sobre a mesa.- Esse é onúmero do meu telefone. Seja sensata e faça a coisa certa. Um dia seus filhosirão lhe agra­decer.Após a saída deKrista, María ainda demorou al­guns minutos para se acalmar. Sentia-seameaçada, intimidada.Teria Estevãoenviado Krista como mensageira? Estariam conspirando contra ela? A cabeçalatejava de tensão. María amontoou a roupa que havia guar­dado no armário devolta na mala. Estava indo embo­ra, sem rumo nem prumo. Porém, precisava seprote­ger e proteger seus filhos. Mais do que qualquer outra coisa, os bebésprecisavam de amor, e nada compen­saria esse sentimento ou a falta da mãedeles.Só de pensar emKrista tomando seus filhos María sentiu-se nauseada. Ela não demonstrou nenhumaemoção durante a conversa com María, um assunto que teria deixado a maioria dasmulheres totalmente alteradas. Arrepiada com a lembrança do diálogo que teve detravar com Krista, entrou no elevador e saiu para a rua.Estevão estavano meio de uma reunião com os acionistas da empresa quando recebeu uma ligaçãode Nemos.- Não a percade vista... nem por um segundo! - Estevão o advertiu em grego, de forma dura. -Não deixe que nada aconteça a ela.Furioso, Estevãose levantou bruscamente, e saiu da sala de conferência sem dizer uma palavra. Maríaestava fugindo novamente. Não podia acreditar. Era uma afronta imperdoável e Estevãoestava bas­tante afetado pela notícia.Qual era oproblema dela? O que mais ele poderia fazer? Aprisioná-la? Claramente, ter dadoa liberda­de de María escolher ficar em um hotel havia sido um grave erro.Agira como o sr. Sensível e agora es­tava arcando com as consequências. Tinhasido uma tática desastrosa. Agora teria que ser durão e fazer com que Maríaentendesse que para tudo havia li­mites.Sentindo umaira nunca antes experimentada, Estevão entrou em sua limusine.


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