Acordei no dia seguinte às 9 da manhã depois de ter engolido o calmante mais forte que havia no meu armário do banheiro; jamais conseguiria dormir por conta própria depois daquela história de filme de terror. Desci as escadas e encontrei meu pai preparando o café da manhã, mais uma vez era café com queijo quente, era a única coisa que ele sabia fazer. Quando eu enjoava de comer isso me aventurava e comia cereal de chocolate com leite, na nossa alimentação matutina não haviam muitas novidades já que ele não sabia cozinhar.
Sentei no balcão, encarando as costas do meu pai enquanto ele tirava o pão da torradeira.
— Bom dia, tomou seu remédio?— disse ele, sem se virar para me olhar.
— Tomei. Bom dia pai — peguei uma banana que estava na fruteira, descasquei e comecei a comer.
As palavras de Stella apareceram novamente na minha cabeça. "Meu querido tio, que matou a sua mamãe, meu querido tio, que matou a sua mamãe". Sim, o meu pai estava dirigindo naquele dia, mas foi um acidente, um terrível e fatídico acidente.
Quem ela achava que era para julgar os outros desse jeito? Bem não importava, ela estava morta. Mas Stella tinha um dom interessante e terrível, ela tinha a capacidade de entrar na mente das pessoas e se fazer ser ouvida mesmo que a pessoa não quisesse e lentamente ela estava conseguindo fazer isso comigo através de um site na internet.
Por isso eu fiquei surpresa quando essas palavras saíram da minha boca sem querer.
— Eu preciso ver as coisas dela — disse eu ao meu pai.
Ele congelou. Meu pai simplesmente parou tudo o que estava fazendo, ainda de costas para mim; por um momento achei até que ele tinha parado de respirar. Veja bem, eu e meu pai nunca falamos sobre minha mãe, nem quando ele saiu do coma, nem quando voltamos para casa, nem dois anos depois, nunca.
Por isso a surpresa quando depois de 5 anos eu pedi para ver as coisas da minha mãe, coisas que ficavam trancadas no antigo quarto dos meus pais, enquanto meu pai dormia no quarto de hóspedes desde que voltou do hospital anos atrás.
— Eu...bem, eu poderia saber porque? — sua voz falhou no final da frase dava para perceber que estava trêmula. Ele se virou e me encarou com os olhos marejados.
— Eu só preciso pai, preciso ver as coisas dela.
Dava para perceber que essas palavras doíam nele, porque nós tínhamos um acordo silencioso de não mencionar que a minha mãe existiu, porque sabíamos que falar em voz alta tornava real o fato de ela ter falecido.
Minha mãe era uma mulher maravilhosa, ela tinha os cabelos castanho-claro assim como os meus, e a minha boca também se parecia com a dela. Ela era uma mulher encantadora e doce, claro as vezes ela era bem brava, principalmente quando meu pai chegava tarde em casa do trabalho, mas a maioria das lembranças que eu tenho dela é dos conselhos que ela me dava e quando ela se deitava comigo na minha cama para me fazer dormir.
Ela era a melhor mãe do mundo, e por isso que quando ela morreu parecia que eu havia ficado sem chão, eu não sentia meu corpo, não sentia nada, apenas em um breve momento quando eu acordava de manhã e por uns poucos segundos parecia que estava tudo bem, e de repente o meu cérebro começava a funcionar e trazia a lembrança do acidente. E eu chorava, até que meu corpo se desligava novamente e eu voltava a não sentir mais nada. Por isso que eu pouco lembro dos meses depois do acidente em que eu precisei morar com Stella, pois as únicas coisas que eu fazia eram chorar e me desligar de tudo.
Meu pai colocou a mão no bolso de trás da calça e pegou sua carteira, ele tirou uma pequena chave de dentro dela e colocou em cima do balcão, na minha frente. Ele colocou o café em uma xícara, o queijo quente em um prato e me entregou, e sem dizer mais nenhuma palavra, pegou seu blazer, sua maleta e saiu para o trabalho.
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Filme Nº 7
Mystery / ThrillerVencedor do 1° lugar em Mistério/Suspense do Projeto Uma dose a mais. Sinopse: Em 3 de agosto de 1995, Stella Caprini cometeu suicídio na sala de Fotografia de sua escola. Logo após seu funeral, Nora, uma prima distante, recebe misteriosamente ace...