Já se passaram três meses desde que Lutah chegou ao Japão e agora vive comigo.
Seu japonês melhorou bastante, fiquei surpreso com o seu avanço.
Mas claro, existe momentos em que ele se confunde. Mas pouco a pouco as coisas estão se tornando mais fáceis. Talvez não tão fáceis.
-Tenho frio. -seus braços largos envolveram meu corpo.
Sinto calafrios e temia não ser pelo frio.
Lutah ainda não havia se adaptado ás mudanças de clima.
Me virei bruscamente afastando seu corpo forte do meu.
-Por que você não usa um agasalho? Toma, coloque esse para se aquecer. -tiro meu casaco e ponho sobre seu corpo desnudo.
-Não gosto de usar muita roupa. -resmungou, enquanto eu passava sua cabeça pelo o espaço da blusa.
Respiro fundo.
-Eu sei que você não gosta de roupas, mas também não gosta do frio, você vai ter que aprender a conciliar as duas coisas.
Ele encara o pano grosso do casaco parecendo pensar.
-Japão era agradável. Agora é muito frio.
Me levantei, caminhado até a cozinha, e como sempre ele me acompanhou.
-Por um acaso onde você morava o clima não mudava? -me sirvo de café, voltando à sala e sentando junto a ele envolta da mesa.
-Não. Quente. Frio.
Encaro ele confuso.
-Então o clima é quente?
-O clima é quente. -ele repete e passa a escrever em seu caderno.
Lutah se esforça muito.
Finalmente depois de longos três meses estávamos nos comunicando, mesmo que com algumas brechas, as vezes era difícil entender ele, Lutah muitas vezes não conseguia formar uma frase coerente com as palavras apreendidas, então era como se ele só as pronunciasse e deixasse a deriva no ar.
Algumas vezes eu entendia e em outras não.
-O verão está chegando, e será uma época perfeita para nadar. Então arrume suas coisas e vamos a praia! -a mulher na TV falava e Lutah a encarou calmamente o que era estranho.
Me lembro da primeira vez que ele viu a TV, havia se assustado como uma criança. Era engraçado. Mas agora ele se acostumou mesmo que não entendesse como funcionasse.
-Praia. -disse, encarando a TV.
É mesmo, ele ainda não havia conhecido, não tive oportunidade de levá-lo, estávamos muitos ocupados, eu com ele e ele com os estudos.
-Praia. Eu estive lá a muito tempo, se tivermos tempo o levarei.
O nativo sorriu se aproximou bruscamente e me olhou fixo.
Por mais que houvesse se passado três meses eu ainda não havia me acostumado com a sua proximidade, ele não entedia que não deveria se aproximar tanto.
-Tem muitas montanhas, muitos peixes, e animais bonitos.
Demorei um pouco para entender que as palavras desconexas que saiam sem parar da sua boca se referia ao lugar onde vivia.
Sorri.
-Realmente me parece lindo. Adoraria conhecer ela.
Lutah me encara, se afastando um pouco.
-Ryotsu vamos, será divertido!
Ele estava animado com a ideia então assenti.
-Sim, iremos um dia.
Era sempre assim, uma conversa que não parecia ter começo nem fim, por mais que agora ele me entendesse e eu o entendesse, havia um muro entre nós. Eu me sentia estranho ao seu lado, talvez fosse o modo como sua cultura abordava pessoas como eu.
Lutah estava sempre próximo ao ponto de me sufocar e fazer com que eu sentisse coisas estranhas em relação a ele.
Será que ele percebia o meu pelo arrepiado quando sem autorização ele me observava com seus olhos brilhantes?
Me desvio de meus pensamentos.
Olho para meu relógio de pulso.
Eram nove horas, acho que eu devia aquecer a banheira.
-Eu já volto. -disse, mas ele pareceu não ligar vidrado não TV.
Vou para o banheiro, mas antes que eu posso aquecer a banheira sua voz invade todos os cantos da casa.
-Ryotsu!
Volto as pressas com medo que tivesse acontecido algo.
-Lutah, o que foi?
-O que é isso? -aponta para TV perplexo.
Eram dois casais se beijando.
-Vejamos, é uma novela. -digo paciente, achando graça no modo como seus olhos via com fascínio algo tão peculiar.
Me encara e nega com a cabeça, apontando para o casal.
-Você talvez esteja se referindo ao beijo?
-Beijo? -diz as palavras sem realmente saber o significado. -Os japoneses fazem isso, o que é?
Para um instante, poderia ser que ele não soubesse sobre beijos? Que a tribo dele não tem esse costume? Que estranho, sempre imaginei que o beijo fosse algo instintivo. Inevitável para o ser-humano.
-Hm. Bem, o beijo não é algo exclusivo do Japão, em grande parte do mundo esse contado é comum, como explicar. O beijo é uma demonstração de afeto, você faz isso com alguém que gosta.
Ele me encara, mas não diz nada, era como a primeira vez que nos falamos, por mais que ele ouvisse, não compreendia.
Me aproximo dele.
-Lutah, na sua tribo, como vocês demonstram o afeto? Como mostra que gosta de alguém?
Deixei que ele absorve-se as palavras e entreguei o dicionário com sua palavras nativas.
Ele folheia as páginas hesitante, mas aponta para o que seria uma demonstração de afeto.
Coração... Passe?
-Alma. -ele diz.
Então eu compreendo.
A passagem de alma, eu já havia ouvido falar nisso antes.
Mas mesmo assim não entendia como isso funciona.
Sorri. Em relação aos costumes dele eu realmente era alienado.
Lutah me encarou de um jeito cauteloso e segurou minhas mãos. Dei um sorriso largo com o gesto e Lutah me encarou profundamente.
Hesitou por um momento antes de beijar cada uma das palmas das minhas mãos e soprar fraco entre elas.
-Te dou... -ele levanta o olhar. -a minha alma.
Com as mãos de outra pessoa você oferece a sua alma.
Acabo me sentido estranhamente constrangido.
Sorrio sem graça.
-Incrível. Isso foi realmente romântico, se for sempre assim tenho certeza que terá uma fila de mulheres atrás de você. Isso até mesmo me fez corar.
Lutah não estava rindo ou sorrindo, seus olhos caramelos estavam me penetrando de uma forma hipnotizadora, então não percebi quando sua mão acariciou minha bochecha e ele se aproximou de meu rosto.
O toque dos seus lábios nos meus era suave como uma beijo de uma criança inocente.
Não houve aprofundamento, ele só ficou parado sobre minha boca enquanto eu finalmente absorvia o que estava acontecendo.
-O que pensa que está fazendo? -o empurrei.
Lutah me encarou inocente e disse as palavras sem malícia.
-Beijando.
-Uhmm, certo, está certo... Mas por que estava me beijando?
Eu corei e tentei evitar o seu olhar.
-Queria fazer.
Dou um passo para trás, ele havia entendido errado, não posso o culpar, não faço a mínima ideia de como sua mente funcionava.
-Tudo bem Lutah, eu também gosto de você. -digo e seus lábios finos se curvam em um sorriso encantador.
Me arrepio.
Mas que diabos!
De repente Lutah estava se aproximando de novo, e coloco minha mão sobre sua boca.
-Espera! Isso, é um gostar diferente! Não é esse gostar!
Seus olhos me encaram... irritados?
Ele se afasta.
-Diferente. O que é?
Bagunço meu cabelo frustrado, a onde eu fui parar.
-Escute bem, não se pode fazer isso entre dois homens. Claro que muitos homens fazem, mas nós não fazemos. Homens não gostam de demonstração de afeto com beijo. Entendeu?
Lutah me encara, pisca os olhos e abaixa o olhar.
-Mas eu gosto, o que devo fazer?
Ele me parecia uma criança mimada as vezes.
-Como fazer entre homens? -ele pergunta.
Arfo.
-Geralmente um aperto de mão. Ou passar os braços ao redor dos ombros ou...
Sinto seu braço enlaçar a minha cintura e seu rosto ficar a centímetros do meu.
-Isto é melhor. -sussurra antes de selar nosso lábios em um beijo rápido.
-Espe... Eu disse que não pode! PARE!
Isso não podia estar acontecendo!!
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Pela luz da sua Alma (Romance Gay)
Romance(Uma história pequena, mas que escrevi com muito amor, espero que gostem.) Lutah é um índio nativo, que recebe uma bolsa para apreender os costumes de uma outra cultura. Ryotsu é um homem de 28 anos solteiro que se vê obrigado a cuidar de um até...