Capítulo 7.

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Era Dezembro, em uma tarde daquelas frias que nem o aquecedor ligado adiantava.
Lutah estava parado olhando vidrado para a janela, os dedos tocando delicadamente o vidro enquanto um suspiro maravilhado saia pelos seus lábios.

-Porque chove branco Ryotsu? -disse ele ao se virar para mim, com um sinal enorme de interrogação estampando em seu rosto moreno que estava se empalidecendo pela falta de sol.

Eu tentei não rir  com a pergunta, afinal não era a mais tola delas.

"Por que as casas são para cima?"
"Por que a água pode ficar quente e fria?"
Por que não a fruta nas árvores?"

Lutah vinha me enchendo de inúmeras perguntas, sempre curioso sobre tudo, fascinado por tudo.

-Porque o coração bate Lutah?  Porque à dia e noite? Sabe eu  não tenho todas as respostas. Sou só um homem.

Seu olhar era de o intriga, incompreensão e logo, novamente curiosidade.

-Então quem tem todas as respostas?

Deixei meu café de lado e me levantei do sofá para pode encarar com ele a neve que caia complacente no chão distante.

-Ninguém, você não acha que seria um pouco sem graça sabermos de tudo o tempo todo? -perguntei ao encarar seus olhos dispersos.

- "Wang si teeod No -as palavras me surpreenderam, fazia um tempo que eu não o ouvia falar sua língua nativa. Era mais estranho que a primeira vez que eu a ouvi.

"Naja" a palavra ainda ressaltava em meus pensamentos.

- Isso não é justo, sabe que não entendo sua língua.

Ele assentiu, talvez pensando em como traduzir suas palavras.

-Lutah disse, precisamos de resposta. A aldeia precisa.

Sorri.

-Tudo bem Lutah, você me convenceu. -me viro correndo rapidamente até meu quarto ligeiramente bagunçado, procurando roupas grandes e felpudas para mim e Lutah.
Voltando de imediato para a sala pequena e coberta pelo sua cor pálida e sem vida eu vi ele se destacando entre as cortinas com minha blusa regata, os cabelo soltos, as marcas pretas e vermelhas pelo corpo e a cor de pele que muitos consideram uma tentação.
Joguei as roupas para ele me desviando dos pensamentos um tanto impróprios.

-Vamos atrás de respostas. Vista seu casaco, luvas, toca e tampe qualquer parte do seu corpo que conseguir, porque acho que você nunca vai sentir tanto frio na sua vida. -me vi animado com a súbita ideia de poder mostrar ele, uma das maravilhas do mundo.

-Vamos sair, na chuva branca? -seu rosto se alarmou.

-Sim. Não me diga que tem medo? -desafiei ele com o olhar, o que foi o suficiente para que o índio teimoso passa-se a vestir suas roupas.

-Guerreiro não ter medo.

-Claro que não. - Reviro os olhos, como Lutah era orgulhoso.

Pegamos o elevador para o andar do estacionamento, ele entrou no carro sem relutância embora eu podia ver quando seus ombros encolheram no momento em que saímos do estacionamento do prédio para a rua quase toda coberta de neve.

Ele não me encarou em nenhum momento que eu dirigia pelas ruas, seus olhos encaravam fascinados as luzes da cidade, a neve no chão, as pessoas indo e vindo.

E por fim quando eu parei o carro em frente ao parque Lutah não se moveu, ficou sentando no banco ao meu lado talvez temendo a "chuva branca".

Resolvi sair primeiro e mostrar que não havia perigo. Dei a volta  em meu carro vermelho  e fiquei a alguns metros da janela de Lutah o chamando.

-Saia logo daí Lutah. Vem ver a "chuva branca"! Lutah! Seu medroso! -Eu ri e dei as costas para sua imagem trancado no carro. -Se não sair eu vou andar por ai, totalmente sozinho e sem proteção! -Reprimi o riso.

Esperei até que Lutah saísse do carro, e de fato ouvi a batida da porta a se fechar mais ele não se aproximava e quando olhei para trás me deparei  com ele parado encarando o céu na noite fria como se fosse um enorme enigma e tremendo quando um floco de neve caiu sobre seu rosto.
Suas mãos se estenderam para receber na palma os pequenos pontos brancos que ele encarava em silêncio até que enfim derrete-se.

Lutah piscou perplexo e encarou mais um vez o infinito céu azul, depois a mim e então sorriu.

-Chuva branca ser fria e vira chuva do céu… -ele parou em um instante franzindo o rosto. -Quando cai na mão.

Não resisti a me abaixar e formar uma pequena bola de neve em minhas mãos.

-Lutah, chuva branca também vira chuva do céu quando cai no seu rosto. - No momento em que seus lábios se preparavam para uma previsível pergunta ele ficou coberto pela neve sem entender.

E eu não queria que entendesse, queria que pudesse sentir, ouvir as risadas que ecoavam pelo parque e visse os brilhos das estrelas como muito mais do que inúmeras perguntas.

E então seus olhos brilharam e sem jeito ele tentou fazer a mesma bolinha branca que o acertou, e depois da quarta tentativa na qual ele já havia sido bombardeado por várias das minhas bolotas de neve ele conseguiu me acertar.

Eu, Ryotsu um homem de vinte e oito anos estava correndo pela praça no meio da noite com um nativo, brincando de guerra de neve como uma criança e como a muito eu não fazia.
Eu, Ryotsu um homem de vinte e oito anos nunca até agora tinha percebido o quanto eu estava sozinho antes de Lutah aparecer.

Eu acho que minha vida nunca voltaria ao normal, porque eu estaria mentindo se eu dissesse que ele não estava mudando nada em mim.

A minha vida estava de cabeça para baixo.
Para começar quando e acordava eu sabia que quando meus olhos fossem abertos ele estaria ali, deitado ao colchão ao lado com  seu olhar doce me desejando bom dia. Eu sabia que ele estava me vendo, me vendo de um modo que só ele via as coisas.

E novamente ele estava me vendo e sem perceber estávamos perto demais.

Ele sorriu para mim com um brilho no olhar que fez a minha sanidade cair em zero e sem perceber eu estava me aproximando cautelosamente de seu rosto como medo do que eu poderia estar prestes a fazer. Acho até que nunca tive tanto medo, porque eu queria beijar Lutah.
Enquanto eu pensava nesse desejo insano, Lutah se aproximou e me beijou. O problema é que quando eu pensei em beijar ele, eu realmente pensei em um beijo então já era tarde demais quando eu abri a sua boca calmamente com a minha, e já era tarde demais quando pedi passagem com a língua, e já era tarde demais quando subi na pontas do pés para me aprofundar mais em seu beijo inexperiente e definitivamente já era tarde demais quando senti meu corpo ser entrelaçado e meus pés serem tirados do chão.

Posso dizer que Lutah finalmente entendeu o que era um beijo.




Pela luz da sua Alma (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora