Não por escolha.

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Júlio Narrando.


Me tranquei no quarto durante o resto daquele dia e boa parte do domingo.

Eu sabia que eu estava errado, sabia que eu devia tê-la mandado embora e não ter falado nada daquilo, mas uma parte muito egoísta minha pediu pra eu não deixa-la ir embora, porque eu precisava estar perto dela mais uma vez, só mais uma vez.

Quem precisava se torturar com aquilo? Vê-la tão perto e não toca-la era como ter todo o chocolate do mundo e não poder comer nenhum.

E a pior parte era saber que ela também estava com o coração partido e o motivo dele, era eu.

Ninguém estaria com o coração partido se não estivéssemos apaixonados.

Mas estávamos.

- Posso entrar? – o Michel bateu na porta e eu limpei uma lágrima que escorria pelo canto do olho.

- Fala. – eu disse vendo-o com um prato de comida em uma mão e um suco na outra. – eu não quero comer Michel.

- E quem disse que é pra você? – ele perguntou e sentou na cama de frente pra mim. Me deu o copo de suco. – coloca ai na mesinha pra mim. – pediu.

Fiz o que ele pediu e em seguida fiquei esperando pra saber o que ele ia falar, mas o silencio reinou enquanto ele comia as primeiras garfadas da comida.

- Fala logo. – pedi impaciente.

- Teu pai. – disse e me olhou. – ta aí e quer falar contigo.

Algo em mim se acendeu e de repente minhas pernas começaram a tremer.

- Eu só quero te lembrar. – a voz do Michel veio pra me trazer racionalidade, ele era a única pessoa que conseguia fazer isso – que por mais raiva que você esteja do seu pai, ele ainda é seu pai e pai do seu irmão também. – avisou.

Balancei a cabeça assentindo e me levantei.

- Onde ele tá? – perguntei.

- Tua mãe não queria que eu falasse e pediu pra eu vir aqui pra não te deixar sair do quarto. – avisou. – mas eu acho que você precisa conversar com ele pra esclarecer as coisas e pelo menos dizer o que tu pensa. – assenti, porque eu também pensava assim. – ele tá na cozinha.

Desci as escadas com calma e entrei na cozinha, minha mãe se assustou e se colocou na frente de um Marcelo de costas.

- Fica calmo. – ela pediu me olhando.

- Eu to calmo. – respondi parado no mesmo lugar. – o que te faz pensar que eu não estou? – a encarei.

Era verdade, eu estava calmo e triste.

O Marcelo se virou pra mim com o rosto molhado pelas lágrimas e eu pisquei de tédio.

Aquelas lágrimas não me comoviam.

Minha mãe não saiu do meio de nós, provavelmente ela ficou com medo que eu perdesse a cabeça e fosse pra cima dele, de novo.

- Você não me comove. – falei.

- Não é pra comover você. – ele respondeu no mesmo tom e limpou o rosto com um guardanapo que tinha na mão.

- Como você tá se sentindo Marcelo? – perguntei encostando na mesa e cruzando os braços enquanto o encarava. – satisfeito agora? Feliz? Contente, talvez?

A Dama e o VagabundoOnde histórias criam vida. Descubra agora