Uma passagem para dois mundos

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Ao ouvir tal nome, Dericka deixou o medo para trás. Ela sabia de quem era aquele rosto e poder. E o Guardião da Cidade da Luz enxugou as lágrimas da menina, para mostrar que ainda não era tempo de se preocupar com laços familiares.

Apesar de não entendermos o motivo de viajarmos quando estávamos próximos da vitória, a resposta foi que não cabia a nós decidir o destino de Kerolyn e Miguel. Para sermos capazes de varrer a sujeira que Hazej deixou, era preciso compreender um propósito maior do que o simples derramar de sangue.

— Os trouxe a Ivis, o caminho secreto para Cidade da Luz — disse Samuel. — Ninguém pode chegar aqui a não ser que eu conceda o desejo, da mesma forma que ninguém pode retornar, a menos que eu conceda o desejo.

— O que isso quer dizer? — perguntou Landon.

— Quer dizer que vocês precisam voltar para a Inglaterra. O destino está agindo em Rye neste momento. Se perderem de vista a energia telúrica, não haverá possibilidade de vitória.

— Então nós perdemos as coordenadas? — Leticia olhou de soslaio. — Eu senti a energia telúrica no Brasil, em São Paulo.

— Ela está se espalhando por todos os continentes, mas Rye tornou-se o seu epicentro. Por isso, vocês devem ir para lá agora, logo após aquela montanha, onde verão o portal — Samuel apontou com as mãos ferozes para o horizonte.

— E depois? — perguntei.

— E depois, Jodie, presumo que voltarão a mim. Vão e tenham cuidado, pois em Ivis o tempo não existe da forma que conhecem — Samuel me abraçou e começou a desaparecer no rastro de luz.

O topo da montanha não estava perto. Depois de andarmos centenas de quilômetros, uma trilha emanou em meio a relva. Nós a seguimos e fomos parar em um pomar de flores exóticas, onde doces pitaya se prendiam nos troncos azuis. Mais a frente, pássaros cantavam perto das cachoeiras onde me lavei.

Depois de comermos as frutas, decidimos jogar conversa fora. Dericka falou sobre os palcos que deixou e sobre a mãe Arnie Solino. Disse também a respeito do seu pai, o sr. Lazan, e do sonho que teve quando o próprio Samuel veio visitá-la numa noite. Landon fez questão de contar a vida que tinha em Las Vegas, como mágico, e dos truques que fizera aos montes. Letícia e Nicolas relembraram o período que passaram na escola militar e dos passeios que fizeram juntos. E quando me perguntaram a minha história, eu disse que, diferente deles, não fiz tantas amizades assim, mas Karol era como se fosse minha grande irmã.

Dericka, sabendo como é a dor de perder uma irmã, alertou-me a proteger Karol, porque Endlich buscaria todas as pessoas importantes para mim, para deslaçar os meus laços mais preciosos. E se eu não quisesse me perder na tristeza, era necessária uma resposta a altura.

— Jodie, você sentiu o mesmo que eu? — perguntou Nicolas.

— O que você sentiu? Que, naquele instante, não hesitamos em pegar as armas dos inimigos, não é? — eu disse — Foi como se... como se ela fosse útil demais para ser desperdiçada.

A espada de Miguel e o manto da invisibilidade de Kerolyn eram frutos do mesmo poder; objetos criados por Nímera, a mãe da Morte, patrona de todas as feiticeiras, e filha do Caos. Mas a Noite não estava ao nosso lado. Talvez ela fosse apenas uma mera espectadora do universo que vê e ouve tudo cautelosamente, até que possam colocar em risco o seu lar doce lar.

— Você agiu por impulso. Não queria fazer aquilo, só que, ao mesmo tempo, queria. Ou melhor, alguma força queria — Leticia deduziu. — Cada movimento que façamos está predestinado a acontecer. E ainda que não queiramos que aconteça, não há outra escapatória. Desde o momento que nos encontramos na Academia Militar, é a vontade de Liam ficarmos juntos.

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