Ponte para o céu

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Ao atravessarmos o subterrâneo, nós deixamos o Deserto de Vênus e caímos na tona de uma areia fina, onde vi Karol sentada, abraçando seus joelhos, enquanto tremia.

— Jodie! Ah, Jodie! Que bom que voltou! Você está bem? Eles lhe machucaram? Lhe fizeram mal? Como está se sentindo? — Ela disse, assim que me viu. Surpreendentemente, tinha me esperado por todo aquele tempo fora das fronteiras sobrenaturais, em busca do meu sinal de vida.

— Essa garota não parava de falar nem por um segundo. Implorou que a trouxéssemos para ver você — disse Landon. — Mas nós a deixamos aqui.

— É... que bom — respondi. — Obrigada por cuidarem dela.

Atrás de nós havia uma floresta e um mar de águas violentas correndo em sentido leste, quebrando as ondas longe da praia. Uma lua vermelha apareceu no céu avisando que a escuridão estava prestes a reinar. Quando cruzamos o outro lado das dunas, o sol se pôs e veio a noite.

— Que lugar é esse? — Dericka perguntou.

— Essa é a casa de Nímera, a domadora dos homens e mãe dos imortais — respondeu Endlich. — Nós estamos no coração do Triângulo Halac.

Belfast, Rye e São Paulo, por muito tempo, foram cidades diferentes. Sem muros, sem lendas e sem mistérios, posso dizer que eram apenas mais uma, em meio a tantas outras. Mas quando Hazej descobriu o tipo de energia que vinha de suas atmosferas, pensou que fosse a casa perfeita para morar. Dessa forma, ele construiu castelos, planos e passagens dignos de um poderoso e inteligente rei. Nas fronteiras de Befalst usou o mar de Revoglia com trincheiras para construir o submundo. Na pequena Rye sonhou com sua vingança. E dentro de São Paulo descobriu a ponte para o céu.

— É possível que os anjos caídos fiquem atrás do Apogeu, perto da torre Bora — disse Leticia —, porque este é o lugar mais alto entre todos os prédios de São Paulo. Dessa forma, eles chegariam ao paraíso pelas janelas do palácio de Liam, ao invés do portão celestial. Nossa missão é impedir que isso aconteça.

A Ilha de Revoglia estava tão sombria, como na primeira vez. O mar pressentiu nossa presença. O vento demonstrou sua força, expelindo tempestades de areias em nossos olhos. As águas foram subindo, as ondas ficaram maiores e mais temíveis, devido à influência da lua sangrenta no céu. Ergui a cabeça e comecei a olhá-la. Caminhei até as águas e me ajoelhei, sem tirar os olhos do corpo celeste. A energia vital do meu corpo cresceu e dominou a floresta, então, lembrei do que estava acontecendo. Era lua cheia e os poucos dias que vivemos não foram tão poucos assim. Finalmente eu estava completando dezoito anos sem morrer.

— Nick, não há mais volta, não é? — eu disse, mergulhando o rosto nas ondas. — Se não vencermos será o nosso fim. Mas de algum jeito tem de existir algum lugar, onde ninguém, nem Hazej, nem o samsara alcance-nos. E aí viveremos para sempre. Quem sabe não seríamos estrelas. Estrelas mais brilhantes, diferente dessas que estão no céu.

— Mesmo que existam mais estrelas no universo do que grãos de areia na terra, nós seremos as mais brilhantes entre todas — ele arquejou.

— Isso significa... significa a grandeza do amor, talvez — coloquei um punhado de areia entre os dedos, deixando que os grãos escapassem aos poucos. Antes que eu terminasse de dizer o que tanto queria, ele me beijou.

— Hum... — Landon sorriu, meio envergonhado. — Vamos.

Quando a morte chegar e eu não estiver mais nesse mundo, as pessoas se lembrarão de mim? Será que estou pronta para descobrir os segredos da imortalidade? Para controlar as chamas da vida, a materialização de corpos e minhas visões? Se cada poder nos reflete, eu sou aparentemente inofensiva, mas tenho dentro de mim chamas incessantes: a arte de domar o fogo. Os outros dons não são diferentes. As magias são feitas para o crescimento da alma. O teletransporte é o desejo da mente, a paz que procuramos. Basta apenas que eu sinta-me voando, deslizando os pés no vazio e aceite meu destino como uma escolhida. Tenho que cumprir o protocolo divino, mas não é fácil esquecer o mundo lá fora.

— Vocês sabiam, uma vez eu tive um sonho, onde vi uma criança de olhos cinzas e cabelos negros falando com um rio insípido — disse Karol. — E o rio despejava os segredos que havia escutado do mundo para ela, e ela se mantinha onisciente dos acontecimentos do mundo.

— Um rio que fala? — Dericka se interessou em saber. Mas logo tivemos que seguir, porque a garota viu nosso inimigo. Hazej não estava sozinho. Sempre esteve acompanhado, desde a rebelião na Cidade da Luz. Acompanhado de outros milhares de anjos com poderes e resistência sobrenatural, presos nos laços de seu comandante. 

Os Segredos da ImortalidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora