Casamento Imortal

626 247 38
                                    

Na verdade, eu descobri que não é o que permanece, mas quem permanece lá. Depois das Colinas fica o Templo, a casa de todos os anjos imortais. Aquilo era confuso e cheio de mistérios, ainda assim, não tirava a felicidade das nossas terras, onde a paz vinha do sul ao oeste.

— Lia, você veio à Cidade da Luz muito antes de nós. É certo que teve tempo para brincar nas fronteiras das Colinas, sem saber que não era permitido — disse Leticia.

— Sim, brinquei. E por curiosidade, decidi dar uma espiada do outro lado. Então, meus amigos disseram "saia daí, garota", "aonde está indo?", mas eu continuei...

— A cerimônia vai começar daqui a pouco — respondi. — Acho melhor irmos embora.

— Jodie, ela ainda não terminou. Deixe que nos conte seus relatos — Leticia bateu as pernas em mim. — Lia, você foi nesse lugar proibido, no Templo de Liam?

— É... eu fui. E meus amigos imploraram "vamos brincar de pique-esconde somente por aqui". Mas eu não obedeci e entrei no Templo... então, aqueles anjos grandes e cheio de asas impediram que uma descendente de Adão e Eva ultrapassasse as fronteiras das Colinas — a garota fez uma tremenda cara de espanto. — Puxa, foi assustador! Mas por quê? Por que está tão interessada nisso?

Porque um dia eu também vou entrar na casa de Liam para conversar pessoalmente com o Grande Rei —  Pensou Leticia.

Sete palmos de distância da Árvore da Vida, o Rio Sagrado cortava o horizonte. Debaixo da copa, observamos o início da cerimônia. Um total de vinte pessoas preparavam a celebração cuidadosamente. Algumas semanas antes, nós ficamos sabendo quando e o porquê da festa. A passarela de shaggy e o altar foram montados primeiro. Milhares de acentos vieram depois. Doze lustres de bronze foram acesos. Cinco meninas vestidas de branco traziam as bandejas e os copos especiais. Quando nos viu, a princesa Liz desmanchou a empolgação, mas não demorou muito para que a felicidade corresse seu rosto novamente. Ela se aproximou e falou desse jeito:

— Vocês estão na rua 13, jardins celestiais. Venham para cá.

— Onde fica o fim da muralha? — Leticia quis saber.

— Ao norte — a garota enrugou a testa, desconfiada.

Uma multidão apareceu para ver a mudança da monarquia divina. Os que estavam a frente do rio se reuniram cordialmente, com idades e gêneros opostos, fazendo o que fosse necessário. Sem angústia e desespero. Os leões dormiam com as crianças e as crianças se aninhavam em seus colos. As mariposas voavam em volta da luz dos candeeiros. As aves de rapinas dividiam o mesmo terreno. Os gaviões com as águias e as águias tão perto dos falcões. A Cidade da Luz era tão grande que existia espaço para quase tudo e todos, com casas espalhadas e modernas e outras mais antigas.

— Vão para o palco — alguém disse para nós —, e bebam da graça do Grande Rei.

Nós tiramos os tênis e subimos a passarela. Mais curiosas do que alegres, as pessoas aplaudiram nossa entrada triunfal. Duas velas foram acesas, as taças foram enchidas de licor puro e as harpas ruíram.

— Irmãos, Hazej ameaçou nosso país, nosso lar e nossas famílias, mas o destino desses jovens guerreiros nos deu alívio de novo! — bradou Liz. — Até quando, vós perguntam. Até quando a profecia vai deixar de se cumprir? Eu digo que não se preocupem, porque, hoje, eis que trago os sóis que brilharão para sempre! As nossas estrelas da esperança!

Os aplausos, dessa vez, vieram mais fervorosos. Os garçons trouxeram as taças e fizeram as reverências. Nós bebemos, agradecemos e sorrimos, com a sensação que estávamos onde sempre foi nosso lar.

— Parabéns. Foi uma bela festa — mamãe apareceu de surpresa. — Daqui uns dias teremos outra, não é?

— Sra. Alice — Nicolas sorriu para ela.

Os Segredos da ImortalidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora