Sete

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— Quer dizer que você quer duas baguetes de queijo? — perguntei, mais querendo distrair Nathaniel, quando o encontrei deitado no sofá da sala.

— Que? Quem disse isso? — Ele me olhou, sobressaltado.

— Você. Enquanto dormia.

Pela primeira vez, vi suas bochechas ficando vermelhas. Ele se sentou, de olhos levemente arregalados de apreensão.

— O que eu falei?

— Nada demais. Você resmungou algumas vezes, achei que estava acordado, então perguntei se você queria tomar café, e você disse "duas baguetes de queijo". — Eu não consegui segurar o riso.

Ele pareceu envergonhado.

— Só isso?

— Sim. Só. — Talvez se eu falasse que ele estava quase chorando, ele sairia correndo, do jeito que é.

— Duas baguetes de queijo não é má ideia. — Deu de ombros.

— Tá certo, vamos comer.

Fomos para a cozinha, peguei o saco de papel onde estavam as baguetes de ontem e deixei na mesa, junto com a manteiga. Liguei a cafeteira, coloquei a água, o filtro e o pó de café, e quando me virei, Nathaniel já estava sentado, cortando uma das baguetes com a mão.

— Calma aí, né — falei, indo até a gaveta de talheres e tirando uma faca de ponta, uma redonda e duas colheres de café, e as deixei sobre a mesa. — Não vai esperar o café ficar pronto?

— Eu tô com fome... — Ele colocou um pedaço do pão na boca.

— Quando foi a última vez que você comeu?

— Hm... Ontem, no café.

— Da tarde?

— Não, da manhã.

— Você tá há vinte e quatro horas sem comer nada? — perguntei, espantado.

— Acontece — respondeu, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Como assim? Não tem comida na sua casa?

— Claro que tem. Eu só não fico lá pra comer.

— Por quê?

— Quanto menos tempo eu passo em casa, mais feliz fico.

Pensei em perguntar sobre aquilo, mas a cafeteira fez barulho, indicando que seu trabalho havia terminado. Deixei a jarra sobre a mesa e trouxe a garrafa de leite, um pote com alguns pedaços de queijo variados e duas xícaras. Também peguei o pote de açúcar e me sentei.

— Pronto, pode comer.

Nathaniel serviu-se de café e tomou um gole antes de passar manteiga em seu pão.

— Não coloca açúcar no café? — perguntei, fazendo uma careta.

— Claro que não. — Ele riu. — Café bom é café puro.

Me servi de café, açúcar e um pouco de leite, e tomei um gole.

— Sabia que pessoas que tomam café sem açúcar têm tendências psicopatas?

Ele ergueu uma sobrancelha e abriu um sorrisinho estranho.

— E você acha que eu pareço ter uma tendência dessas?

— Com esse rosto todo machucado, fica fácil acreditar que sim — brinquei.

Seu sorriso aumentou, deixando de ser estranho.

O Garoto da Calça Rasgada - Amor DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora