Onze

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Depois de sofrer, me acalmar e sofrer mais um pouco, e ser encarado por um Nathaniel que tinha terminado a prova antes de todo mundo, consegui terminar. Não fui o último, mas também não fui o segundo.

Nathaniel foi para fora me esperar, e eu corri para entregar minha folha e guardar meu material. Saí, fechando a porta atrás de mim com uma força desnecessária, e corremos para fora da escola como se lêssemos a mente um do outro. Agora era a minha vez de deixar Nathaniel cheio de curiosidade.

— Fala logo qual sua ideia do século — soltou ele, ansiosamente.

Começamos a andar e eu sabia que não ia conseguir segurar a língua até em casa.

— Eu nunca expliquei direito, mas eu sou emancipado dos meus pais. Eu sou responsável por tudo, reuniões escolares, assinatura de faltas, essas coisas. E, como tecnicamente moro sozinho, cuido de tudo em casa. De tudo não, mas grande parte. Então, por lei, meus pais me sustentam. Eu tenho uma conta bancária, onde eles depositam dinheiro para eu pagar contas, comprar comida e tal... — O rosto dele começou a se iluminar, e eu sorri. — Entendeu onde quero chegar?

— Eu posso me emancipar dos meus pais e eles vão continuar me sustentando — concluiu, maravilhado. — Eu posso morar em outro lugar!

— Sim. Eu só não pensei em como você vai convencer seu pai a aceitar isso, mas...

— Convencer? — perguntou, incrédulo. — Eu vou ameaçar ele.

— Quê?!

— Calma, não no sentido de morte. — Ele olhou para a rua, parecendo surpreso consigo mesmo. — Eu digo que, se ele não aceitar, eu vou denunciar ele pra polícia. Ele estaria perdido se fosse preso... Ia perder o emprego e sua pose de "chefe de família" e não teria outra alternativa a não ser aceitar...

Comecei a sorrir, feliz por finalmente ter tido uma boa ideia, e ainda mais por Nathaniel ter aceitado com tão bom gosto.

Nathaniel se virou para mim, abrindo o sorriso mais feliz do mundo, e pulou em mim, me dando um abraço de urso no meio da calçada. Me recusei a pensar nas pessoas que estavam vendo a cena e apenas o abracei de volta, sentindo seu cheiro bom, por mais que fossem os aromas que eu já estava acostumado. Era completamente diferente vindo dele.

Assim que me soltou, Nathaniel segurou meu rosto com as duas mãos, muito próximo. Meu coração acelerou de uma forma absurda.

— Você é incrível, sabia? Vou te dar um crédito.

— E eu faço o que com isso? — brinquei, com um pouquinho de sarcasmo, tentando quebrar o gelo que minhas bochechas causavam.

Ele deu risada, ainda com resquícios de seu relaxamento do fim de semana longe dos problemas, e bagunçou meu cabelo. Desviei dele, também rindo, e tentei ajeitar os fios enquanto voltávamos a andar.

— Vai falar com seu pai quando?

— Hoje mesmo. Quanto antes resolver isso, melhor.

Paramos no meio do caminho onde nossos trajetos mudavam de direção.

— Me mantenha informado, tá? — pedi.

— Pode deixar. — Nathaniel virou, prestes a andar, mas me olhou de novo. — Obrigado de novo, por tudo.

Sorri, batendo uma continência rápida, e fui para casa.


Eu estava prestes a ter um ataque. Não tive notícias de Nathaniel, e nem a presença do próprio. Nem mensagem, nem ligação, nem sinal de fumaça. Já era quarta-feira, e nem Armin ou Kentin tinham notícias, apesar de também estarem preocupados. Sempre que tentávamos ligar no número de celular de Nathaniel, caía sempre na maldita caixa postal.

O Garoto da Calça Rasgada - Amor DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora