Dez

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No intervalo, saímos da sala e, antes de ir à cantina, resolvi passar no banheiro. Assim que entrei em uma das cabines e abri o botão da calça, ouvi pessoas entrando.

— E daí? — resmungou alguém. Era Nathaniel.

— Você vai deixar quieto? — perguntou outro garoto. Kentin.

— E eu vou tirar satisfação com quem? — Nathaniel ocupou a cabine ao meu lado. — Pode ter sido qualquer um. Sabe que aqui só tem um bando de fofoqueiros imbecis.

— Eu sei, mas... Sei lá. Como que alguém espalha uma coisa dessas? Isso nem é da conta deles.

— Exatamente. As pessoas são hipócritas. O que vai isso mudar na vida delas? — A descarga foi acionada e logo Nathaniel saiu.

— É só algo que eles querem fofocar e rir sobre.

— E me diz, qual o problema se fosse verdade? Ninguém paga nossas contas, ninguém estuda por nós.

— Só queria saber quem começou com isso...

— E você não tem ninguém em mente? — perguntou Nathaniel, soando irônico. — Talvez alguém chamada...

— Peggy — constatou Kentin. — Então... você não vai desmentir?

— Pra quê? Não vai mudar nada. Esses fofoqueiros não vão deixar de falar da minha vida fabulosa mesmo.

— Desse jeito até eu vou começar a achar que é verdade — brincou.

— Eu não ligo pro que você acha. — A voz de Nathaniel foi se afastando, e logo o banheiro ficou silencioso novamente.

Será que estão espalhando fofocas sobre Nathaniel? Bom, isso é óbvio só pelo jeito que ele falou... Será que alguém percebeu que ele está machucado? E aí saiu falando o que achava que tinha acontecido?

Saí do banheiro, pensativo, e fui para a cantina. Peguei minha comida e procurei meus amigos. Gabrielly acenou de uma mesa, mais a fundo do refeitório, e fui até lá, com todos eles me observando sentar.

— Que caras são essas? Alguém morreu? — perguntei, tentando brincar.

— Você não percebeu nada? — perguntou Gabrielly, com expressão preocupada.

— Tipo o quê?

— Tipo a escola inteira te olhando — falou Alexy.

Olhei ao redor e vi algumas pessoas, que me observavam, virando para outros lados. Haviam alguns mais corajosos, ou caras de pau, que continuaram. Virei de volta para meus amigos sentindo o rosto esquentar.

— O que tá acontecendo?

— Alguém espalhou coisas sobre você e o Nathaniel — anunciou Priya, baixinho, se apoiando na mesa para chegar mais perto.

— Que coisas? — indaguei, tentando conter o nervosismo.

— Bom, coisas básicas — respondeu Gabrielly. — Que vocês estão morando juntos, ou que estão se pegando, ou que vão a padaria igual uma família... Coisas assim.

— Esse povo deveria se ocupar mais com estudos — comentou Priya comentou, descontente. — Pelo menos sabemos a versão verdadeira.

Eu me sentia mal por esconder coisas de meus amigos, mas o assunto não era meu para eu falar abertamente. Então, contei o que ouvi no banheiro, da própria boca de Nathaniel.

— E quem é essa Peggy? — perguntou Rosa, como se tentasse se lembrar de alguém com esse nome.

— Não faço ideia, mas deve ser a maior fofoqueira da escola...

O Garoto da Calça Rasgada - Amor DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora