Nove

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Abri os olhos, me acostumando com a claridade aos poucos enquanto eu tentava me lembrar dos sonhos que tive. Eles me escapavam, apesar de estarem "na ponta da língua". Então, me lembrei do que Nathaniel havia me contado. Não foi um sonho. Ele realmente tinha me contado. Ele se abriu comigo.

Olhei para o lado, e a minha primeira visão foi a região dos olhos dele. Ele tinha tomado um espaço em meu travesseiro e seu rosto estava perto do meu, tranquilo. Me perguntei se ele tinha um sono tão sereno em casa quanto estava tendo aqui.

Meus olhos baixaram para sua boca entreaberta e uma vontade de beijá-la de novo me inundou. Eu sabia que era errado. Meu coração já estava batendo que nem louco graças àquela ideia.

E se ele sentir? E se acordar?

Me aproximei devagar, sempre observando seus olhos, para caso ele os abrisse, e depositei um beijo no centro de seus lábios. Senti sua respiração quente, assim como sua pele, e tive vontade de continuar ali, mas me contive e me afastei milímetros. Ele não havia se mexido, e mesmo sendo mais errado ainda, fui novamente.

Quase tive um ataque do coração quando sua boca moveu contra a minha, e eu me afastei no mesmo segundo, sentindo o corpo gelando dos pés ao topo de cabeça. Sobressaltado, percebi que ele ainda estava de olhos fechados, porém, fazendo um biquinho, como se estivesse sonhando.

Virei o rosto para cima, encarando o teto, sentindo os batimentos cardíacos machucarem minhas costelas. Respirei fundo algumas vezes, tentando me acalmar. Ele só estava sonhando, e eu sou horrível por ter roubado esses beijos.

Levantei, tomando o cuidado de não mexer a cama, e fui ao banheiro, com Dragon em meu encalço. Quando saí para o corredor, dei de cara com Nathaniel, que parecia apertado pelo jeito que estava com as mãos em punho sobre a região abaixo do umbigo. Dei espaço e ele passou, se trancando no cômodo.

Já na cozinha, prestes a começar a preparar o café, percebi que não tinha mais nenhuma baguete. Eu teria que ir à padaria. Deixei a cafeteira fazer seu trabalho e subi para me trocar.

— Aonde vai? — interrogou Nathaniel, encostado no batente da porta.

— Comprar baguete. Eu volto rápido.

— Eu vou com você — afirmou, indo diretamente para sua mochila.

Nathaniel pegou algumas peças de roupa de dentro dela, e sem rodeios, se despiu, ficando apenas de cueca. Engoli seco e me virei para meu guarda-roupa, mesmo já completamente vestido.

— Me empresta um desodorante? — pediu ele, se aproximando.

Sem olhar para trás, peguei o desodorante em aerossol e lhe passei por cima do ombro. Ele usou e me devolveu. Esperei um pouco, fingindo estar arrumando minha carteira.

— Vamos?

— Sim.

Descemos, coloquei um pouco de ração para Dragon, para distraí-lo, e saímos de casa. O bistrô ficava a menos de cinco minutos dali, e andamos sem pressa.

— Eu pago, tá? — falou Nathaniel, sorridente.

— Por quê?

— Eu já acabei com seu estoque de pão ontem.

— Hm... Tá bom.

Nathaniel pediu dez baguetes de queijo e alguns tipos de queijos. Como ainda íamos para a escola, aceleramos o passo. Assim que chegamos, fomos comer.

Observei Nathaniel rechear sua baguete com queijos e pensei em como aquele hematoma em seu olho chamaria uma atenção desnecessária.

— Você não quer passar alguma coisa nesse seu olho?

O Garoto da Calça Rasgada - Amor DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora