Amigo dele, Inimigo meu [Parte III]

Capítulo 56

Estávamos na metade do caminho quando sinto uma dor muito forte, e sou obrigada a parar e sentar na calçada. Minha barriga estava torta e doía, muito mesmo.

"Vamos ao hospital" ele diz assustado "Agora"

"Não é necessário, eu só preciso ir para casa" falo me levantando com sua ajuda

"Seus pés estão inchados" ele diz ainda mais assustado

"Ultimamente eu estou toda inchada" arranco a sandália dos meus pés e ele faz questão de carregar para mim

Fomos andando calmamente, estava a menos de quatro quadras quando ele encontra um amigo de bicicleta e pede emprestado. Eu nunca havia feito isso. Subo na parte de carona da bicicleta e lá fomos nós. Me senti uma criança, com aquele vento gostoso batendo no meu rosto, com aquela brisa, com aquele cenário.

Chegamos na pousada e ele me ajuda a ir até o quarto. Ele era mais atencioso do que eu poderia imaginar. Me coloca com cuidado na cama, fecha as janelas, liga o ventilador e sai do quarto. Volta alguns minutos depois com um creme de massagem em mãos e com a mãe dele.

"O que aconteceu, menina?" Ela pergunta calmamente enquanto se senta ao meu lado

"Estou sentindo muita dor" falo tentando me acalmar

"Você está com quantos meses?"

"Cinco, quase seis"

"Então não pode ser agora o nascimento" ela diz se levantando "Você não quer ir no hospital então não podemos obrigar"

"Eu durmo aqui no quarto contigo hoje se você quiser, durmo no sofá lá fora, na sacada. Aí qualquer coisa você me chama e nós vamos imediatamente ao médico"

"Não precisa de preocupar comigo"

"Nós já estamos preocupados. Me desculpe, mas você tem apenas dezessete anos e está aqui sozinha?"

"Sim" respondo triste, lembrando que estava definitivamente sozinha

"Não tem pais? Um namorado? Avós? Amigos?"

"Não" respondo fria "Vim do Brasil para cá pois quis esquecer tudo. Todos eles morreram. Todos os meus familiares e o meu namorado"

"Morreram?"

"Morreram" repito

*

Não demorou muito para que ele voltasse, com colchonetes, roupas de cama e um travesseiro.

Ele avisa que vai tomar banho e eu peço seu celular emprestado, já que o meu eu deixei lá. Eu tinha uma câmera fotográfica comigo, com ele tirei fotos de todos os meus hematomas, as marcas deixadas pelas agressões do Derik. Depois de registrar aquilo utilizo o celular dele para ir ao Google. Estava nervosa em não saber notícias sobre ninguém, sem saber se havia alguém me procurando.

Ex-namorado da modelo Melissa Thompson é preso nessa tarde como suspeito do desaparecimento dela

Vazam fotos de diversas marcas de agressões na modelo Melissa Thompson

Thomas Albuquerque diz que sua filha sofria ameaças

Ele sai do banho e imediatamente eu desligo o celular. Derik estava sendo culpado por sequestro, sendo que não foi ele. Mas ele merece. Merece por ter me agredido e me ameaçado.

"Você está bem?" Ele pergunta saindo do banheiro já vestindo sua roupa de dormir

"Estou" falo sorrindo e sinto uma lágrima no meu rosto mas logo a limpo

"Tudo bem então" ele diz abrindo a porta da sacada

"Dorme aqui dentro" falo me levantando "Pode arrumar a cama aqui"

*

Já se passou uma semana desde a minha chegada aqui, e fico feliz em dizer que ninguém sabe e nem desconfia quem sou. Afinal, aqui não sou mais Melissa Thompson, sou apenas Mell.

O garoto, que agora se tornou meu amigo, se chama Leon. Já fiz algumas amizades aqui, e já estou me adaptando.

Alguém bate na porta e eu, por preguiça de levantar, já mando entrar. Era Julie e Leon.

"Vamos assistir um filme?" Eles perguntam já colocando sacolas com doces em cima da mesinha e me mostrando os filmes alugados

"Vamos!" Falo animada

Enquanto eles vão ajeitando as coisas eu peço licença para ir até a sacada. Sento na cadeira e fico olhando para o mar, pensando em como estou hoje. Pego meu celular e novamente escrevo o nome da minha mãe no google notícias.

Mariah Thompson tenta suicídio após sumiço da filha, Melissa Thompson, que estava grávida de seis meses

Antony Koch, empresário e ex-namorado da modelo desaparecida Melissa Thompson, é preso com drogas

Justin aceita dá entrevista sobre o sumiço da afilhada, Melissa Thompson

Sem pensar duas vezes eu clico e espero carregar. Eu queria saber o que o Justin tinha para dizer

"Como todos estão?"

"Terrivelmente mal" ele diz sorrindo triste

"O que aconteceu com Mariah e Thomas? Como estão?"

"Mariah, como todos sabem, tentou suicídio a dois dias, e está no hospital ainda. Misturou remédios, bebidas alcoólicas e drogas. Ela está acabada, sem chão, e não consegue nem falar direito. Thomas está tentando aguentar tudo"

"E o resto do pessoal?"

"Demi e Alicia não estão nada bem, Selena quase não sai, pois esta direto no hospital com Mariah. O Antony ... Está tentando superar. E também tem a Anna,  filha do Derik, que está sob cuidados da Demi. Ela pergunta a toda hora pela Mel e sempre pergunta se ela foi morar com a mãe dela" Justin diz isso chorando

"E você?"

"Eu amo demais a Mel, e a entendo. Eu entendo sua vontade de sumir, sua vontade de tentar tudo novo, e numa dessas vontade se envolveu com um psicopata. Eu estou aguentando firme para ajudar também o Thomas, mas a realidade é que estamos destruídos. Eu tenho fé que ela ainda irá aparecer. Peço para que nos ajude em orações, ninguém aguenta mais"

Eu já estava chorando como uma criança, minha mãe poderia morrer por culpa minha. Minha cabeça está rodando, mas não quis desistir de tudo. Eu preciso ser feliz. Thomas irá ajudar minha mãe e ela irá superar.

"Eu vou ter minha filha, vou refazer a minha vida e vou ser feliz. Minha família sou eu e ela. Acabou"