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Estava dentro do carro, estacionado perto do café da praia, há uns 10 minutos. Não queria sair dali porque não achava estar pronta para a conversa que estava para vir. Não estava preparada para reviver e relembrar toda aquela situação. Sinto o meu telemóvel vibrar, posado no lugar do passageiro. Pego nele e vejo que é uma mensagem da Maria a perguntar onde estou. Respiro fundo e ganho coragem suficiente para sair do carro e ir ter com o meu grupo de amigos. Ou o que costumava ser o meu grupo de amigos.

Assim que chego ao café, vejo que estão todos sentados na mesa do costume e dirigi-mo até lá.

- Estou aqui! – fi-los reparar na minha presença.

- Já não era sem tempo, miúda – Duarte diz, com a mesma rudeza de sempre, não sei como é que ainda me surpreendo – Senta-te – ordena-me e eu obedeço.

- Por onde é que andaste? Tu nunca chegas atrasada a lado nenhum – a Maria pergunta e consigo notar preocupação na sua voz.

- O meu pai ligou-me e perdi a noção do tempo – menti.

Ninguém estava com boa cara. Acho que estavam todos tão mal ou pior preparados do que eu, para ter aquela conversa. O Duarte cansou-se do silêncio constrangedor e foi o primeiro a falar, como já é habitual.

- Então o plano é ficarmos de boca calada e esquecermos completamente o que aconteceu.

O facto de demonstrar ser um ser assim tão arrogante e insensível em relação a um assunto tão delicado como este perturba-me a alma. Ele sempre foi assim?, pergunto à minha consciência.

- Eu concordo – Maria desvia o seu olhar de Duarte para mim e parece aguardar a uma resposta da minha parte. A sério, Maria?

- Como é que queres esquecer isto, mano? Isto não nos afeta só a nós, uma família pode ser destruída por causa da tua falta de responsabilidade – o Salvador pronunciou-se, dizendo exatamente o que eu esperava dele.

- A minha falta de responsabilidade? Que eu saiba estávamos todos naquele carro, a culpa é de todos.

- Tens razão – olham-me todos, confusos – Tens razão quando dizes que somos todos culpados. Eu também estava lá. Apesar de ter tentado avisar-vos, sem sucesso, fui burra o suficiente para entrar naquele carro e meter-me em toda esta confusão. Não posso limpar o meu nome e simplesmente deixar que vocês sejam responsabilizados por uma coisa sobre a qual eu também tive parte da culpa.

- Não é bem assim. Eu não fiz nada. Se se querem denunciar, denunciem-se a vocês próprios mas não me metam no vosso plano – Mas será que sempre que o Ricardo abre a boca só consegue dizer merda?

- Mas tu és assim tão burro, meu? A partir do momento em que presenciaste tudo o que aconteceu e não fizeste queixa, passaste a ser nosso cúmplice – este rapaz consegue mesmo tirar-me do sério e falo-lhe um pouco mais alto do que é suposto – Se formos ao fundo, tu vais connosco, vê se percebes isso, otário! – ele lança-me aquele olhar de morte, pensando que me assusta mas cão que ladra não morde.

- Minha otária, eu não tenho culpa que sejas uma flor de estufa mas estou-me a borrifar para o que aconteceu – Ok, agora apetece-me mesmo apertar-te o pescoço, Ricardo. É melhor fugires.

- Será que se podem acalmar os dois? Estão a chamar a atenção para nós. Comportem-se! – olho à volta e vejo que o Duarte tem razão. Algumas pessoas já tinham os olhos postos no nosso pequeno grupo. Duarte faz uma pausa – Ninguém vai fazer nada. Vamos todos parar para pensar um segundo no assunto e manter-nos quietos enquanto pensamos.

- Eu não tenho nada para pensar, Duarte. Eu tenho noção do que fiz e tenho de sofrer as consequências assim como todos nós. Metam a mão na consciência, por amor de Deus!

- Tu não vais fazer absolutamente nada, Mafaldinha. Vais ficar caladinha e vais-me deixar tratar disto sozinho.

- O Duarte tem razão. A miúda está viva e é o que interessa – A sério, Constança? Mas será que hoje todo o mundo decidiu abrir a boca para dizer porcaria?, olho-a, confusa – Não me olhes assim. Tu sabes que é o melhor para todos.

- Mas vocês estão todos bem da cabeça? Está uma vida em risco por nossa causa e vocês só conseguem pensar no vosso umbigo! – elevo novamente a voz.

- Não te aviso novamente, Mafalda, é melhor baixares a bolinha – outro que me lança o seu olhar de morte que não causa nenhum efeito em mim. Ou melhor, causa-me nojo – Olhem à vossa volta. Vejam o que é que esta merda está a fazer ao grupo – Duarte olha-nos, um por um – Eu digo que devíamos, realmente, esquecer tudo o que se passou e voltar aquilo que éramos e esperar que todos tenham o seu final feliz.

- Sinceramente não vos estou a reconhecer hoje – são as minhas últimas palavras, antes de me levantar da mesa e sair do café. Depois de passar pela porta sinto o vento a bater-me na cara e respiro fundo. Começo a andar até ao carro quando sinto passos atrás de mim.

- Mafy, espera! – é a Maria.

- Por favor, não me digas que concordas com tudo aquilo que ele disse.

- Mafalda, eu vinha a conduzir aquele carro, porra. Se alguém descobrir o que aconteceu, quem achas que vai sofrer maior parte das consequências? O meu pai deserda-me se alguma vez descobrir o que aconteceu naquela noite. Expulsa-me de casa. Expulsam-me da faculdade e vou viver para debaixo da ponte.

- Eu compreendo a tua posição mas temos de fazer alguma coisa. A culpa não foi só tua. Estavam seis pessoas naquele carro, naquela noite. Eu nunca vou conseguir esquecer isto, tu vais?

- Não, claro que não. Mafalda, nós conhecemo-nos há imenso tempo. Sempre foste a minha melhor amiga. Tu não podes falar com ninguém. Vais arruinar a minha vida por um capricho teu – ela olha-me com o seu olhar forçado de 'gato das botas' e pega na minha mão, acariciando-a.

- Foi ele que te pediu para usar o truque das melhores amigas comigo? A sério, Maria? Porra, para de pensar só em ti por um segundo! Não consegues ver que o Duarte também só está a ser tão carinhoso contigo porque te quer de boca fechada? Abre os olhos, miúda, de uma vez por todas! Já o devias conhecer melhor, que merda!

- Ele gosta de mim. Ele gosta de mim e preocupa-se comigo, coisa que esperava que tu também fizesses.

- Eu preocupo-me e é por isso que quero resolver isto. Quando mais tarde contarmos a alguém pior vai ser para nós.

- Eu percebo, a sério que percebo. E sinto-me culpada, por tudo. Tu conheces-me. Isto tem-me perseguido todos os dias desde o momento que aconteceu. Mas Mafalda, por favor, por favor, não faças nada. Pelo menos não agora. Pensa sobre o assunto. Hoje estamos todos de cabeça quente e não vamos resolver nada assim. Promete-me. Promete que vais pensar no assunto.

Fico a pensar por uns segundos mas decido responder - Eu prometo – por muito errado que possa achar toda esta situação, é do meu grupo de amigos que estou a falar e não consigo atraiçoá-los desta maneira.

- Obrigada, linda. Até amanhã – Maria abraça-me e volta para dentro do café sem olhar para trás.

Eu caminhava até ao meu carro quando fui distraída pelo som das ondas. Apesar de ainda estarmos em setembro o dia não estava muito bonito. O céu estava cinzento e a praia estava deserta. Descalcei as minhas sapatilhas e fui até à areia, sentando-me na mesma. Tinha a cabeça a mil e só conseguia pensar naquela noite de verão, onde todo este drama começou. Era mais do que eu conseguia aguentar e as lágrimas começaram a escorrer sem eu dar conta.

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DRAMA, DRAMA, DRAMA! EU AVISEI!

FIQUEM ATENTOS!

P.S. - Atenção que a ação tem início em setembro de 2016, um pouco antes do início das aulas.

My Favourite Mistake | ASOnde histórias criam vida. Descubra agora