🌸 2 🌸

838 31 7
                                    

As lágrimas caíam e eu deixava-las cair. Estava demasiada cansada para as tentar impedir. Limitava-me a inspirar pelo nariz e expirar pela boca.

- Posso ajudar-te em alguma coisa? - um rapaz pergunta-me. Estava sentado na areia, ao meu lado e não tinha dado pela sua presença até falar comigo. Estendeu a sua mão até mim, e percebi que me oferecia um lenço de papel. Não lhe respondi e apenas lhe tirei o lenço da mão. Ele lançou-me um sorriso fraco. Assoei o nariz e limpei os olhos às mangas da minha sweater.

- Não tens de ficar aqui a olhar para mim, neste estado lastimável... - solucei.

- Não sou do tipo de abandonar as pessoas quando elas precisam de conforto. Queres falar sobre o assunto? - limitei-me a negar com a cabeça e ele continuou a olhar para mim - Eu não vou sair daqui - declarou - Quando te sentires preparada, podes falar.

Fez-se silêncio até eu decidir responder ao que ele me disse anteriormente.

- Eu não vou contar os meus problemas a um estranho.

- Às vezes somos os melhores para desabafar. Sendo que eu não te conheço, não te posso julgar e vou limitar-me a ouvir-te e fingir que tens razão naquilo que dizes - desta vez eu sorrio com as suas palavras - Mas se esse é o teu problema então eu sou o André...

- Eu sei - não o deixei terminar a frase.

- Sabes?

- Sei. Digamos que és bastante famoso por estas bandas - dei uma pequena gargalhada.

- É verdade. Não o posso negar. Chama-se talento - riu - E tu és...

- Chamo-me Mafalda.

- Mafalda. Ok. Então, Mafalda, agora que já não somos estranhos, podes contar-me o porquê de estares nesse estado? - ele sorri novamente para mim. Damn, que sorriso. Cala-te, Mafalda!

- Digamos que eu estou metida num problema. Eu e uns amigos meus. Fizemos uma asneira. Grave. Um pouco grave... - tenho suavizar a situação apesar de saber que era, na verdade, bastante grave - Eles não se querem responsabilizar e eu sinto que devia fazer alguma coisa quanto a isso mas, ao mesmo tempo, não quero fazer nada contra a vontade deles.

- E já tentaste falar com eles sobre o assunto? Saber o que acham...

- Claramente. Eles não me ouvem. Nunca me ouvem. Conhecemo-nos há imenso tempo mas, por algum motivo, sinto que eles se estão a esquecer destes anos de amizade por causa do que tem estado a acontecer.

- Pois. Compreendo. Acho que se for assim uma situação tão grave deves realmente falar com alguém mas obviamente que também não sou ninguém para te dizer o que fazer. Podes tentar falar com eles de novo...

- O problema é que isto não nos afeta só a nós. Outras pessoas saíram magoadas de toda esta situação.

- Falando assim até parece que assaltaram um banco ou sei lá - ele ri-se e eu olho para ele sem saber o que dizer - Por favor, diz-me que não assaltaste um banco...

- Não, não assaltei nenhum banco - acabo também por rir, apesar da situação ser tudo menos engraçada - Não foi assim tão grave - Porque é que estás a mentir, Mafalda?

- Então não percebo o que é que possas ter feito de tão grave...

- Pois mas também não precisas de saber - Ok isso foi demasiado rude, Mafalda - Desculpa, não queria parecer rude.

- Não faz mal - ele ri-se e eu junto-me a ele. Ficamos uns segundos a olhar um para o outro até eu decidir desviar o meu olhar para o mar.

- Costumas vir aqui muitas vezes? - pergunta-me, passado algum tempo.

- Nem por isso mas acho que vou começar a vir mais.

- Só para ver se te encontras mais vezes comigo - ele ri-se e eu apercebo-me do que acabei dizer.

- Não... Eu não... Não foi isso que... - gaguejei.

- Estava a brincar contigo - parou de rir - Mas acho que fazes bem em voltar aqui. Geralmente é onde venho quando quero fugir dos problemas ou quando não me apetece aturar o meu irmão - acabo por lhe ceder um sorriso e volto a olhar para o mar. Faz-seuma pausa de silêncio.

- Desculpa, André, eu devia ir andando. Não tarda ainda começa a chover. Obrigada pela conversa, André - começo por me levantar e limpar a areia das calças.

- Fico feliz por te ter ajudado - sorriu pela milésima vez desde que chegou ao pé de mim o e eu devolvi-lhe um último sorriso. Despedimo-nos com um pequeno aperto de mão, antes de eu me dirigir ao carro.

Assim que entrei no carro liguei o rádio e o aquecedor. Não me tinha apercebido de que tinha arrefecido tanto. A viagem até ao meu apartamento foi rápida. Até desejei que fosse maior para não ter de chegar a casa e mergulhar nos meus pensamentos obscuros.

A primeira coisa que faço quando chego a casa é descalçar-me e trocar as minhas calças por umas sweatpants e calçar umas meias. Dirijo-me à cozinha e preparo um sumo de laranja, com três pedras de gelo, e como duas bolachas de arroz. Credo, isto não sabe a nada. Eu e a minha mania das dietas. Acabo por ir para a sala com um livro na mão e ligo a televisão, só para me fazer companhia.

Não dou pelo passar do tempo enquanto leio The Catcher in the Rye até ser interrompida pelo telefone de casa a tocar. Porque é que instalei esta coisa, em primeiro lugar? Do outro lado ouço a voz do meu pai. Não estou com cabeça para aturar as perguntas dele. A chamada, é curta, baseando-se no meu pai a perguntar-me se estou bem, se estou a portar-me bem e se a casa está arrumada. Já as minhas respostas não passam de 'sim', 'não', 'hmm, hmm', 'adeus, beijinhos'. Depois de voltar a pôr o telefone no sítio, olho para o relógio e vejo que eram horas de preparar o jantar e decidi fazer apenas um salada, não tendo apetite para muito mais. Acabei por levar um tabuleiro para a sala e pus em dia os episódios de Grey's Anatomy que deixei para trás.

Depois de ver as horas a passar, bastante lentamente, demasiado lentamente, acabo por me levantar do sofá e ir até ao meu quarto vestir o pijama. Vou até à casa de banho e ato o cabelo para poder realizar a minha rotina de cuidado de pele noturna. Pela primeira vez, naquele dia, olho-me ao espelho e sinto-me leve e tranquila. Como não me sentia há algum tempo. Volto a dirigir-me para dentro do quarto e apago todas as luzes. Pego no meu telemóvel e navego um pouco por todas as redes sociais antes de adormecer.

~

Desculpem se este capítulo está curto. Preparem-se para mais drama, porque ele vem aí, e não é pouco. Estou bastante dedicada a esta história e espero que apreciem o trabalho que tenho andado a fazer. Só hoje já escrevi mais nove capítulos. Às vezes até me apetece pô-los todos de uma vez.

Anywaaaaaaay

Vocês viram o mais recente instastory do André com o Afonso? Damn, aquele sorriso deixou-me caída no chão do quarto 😏 Estou apaixonada! 😍


My Favourite Mistake | ASOnde histórias criam vida. Descubra agora