🔴Introdução

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Harry

28 de Setembro, uma e meia da tarde, Cheshire.

Minha volta pra casa depois de uma noite desenfreada na área de Black não foi muito agradável. Estava meio bêbado, na verdade, estava de ressaca depois de duas horas dentro do banheiro mais fedorento e sujo que se podia encontrar em vinte quilômetros na redondeza. Havia ficado sem camisinhas e a tontura passou depois da forte surra que tive que dar no próprio Black para que ele se esquecesse sobre o assunto de eu ter dormido com a sua noiva. Eu não tinha culpa se tinha uma puta como noiva que se vendia por vinte euros, nem tão pouco tinha culpa se pra mim ela fazia de graça.

Tinha pensado em me jogar na cama e dormir até às três da tarde do dia seguinte quando me deparei com um obstáculo não mais que importuno. Meu pai havia trocado a fechadura da porta e minhas chaves não podiam abri-la. Golpeei a porta com os punhos fechados varias vezes e me afastei dela quando escutei a voz clara do meu pai do outro lado.

- É pelo teu bem, Harry.

Estive a ponto de arrebentar a porta a base de socos e chutes, gritando para que abrisse, e que quando entrasse lhe meteria uma surra, o mataria, mas ele não abriu. Se não fosse porque as janelas estivessem fechadas por grades, eu teria escalado até o meu quarto e dado um chute no traseiro velho dele, mas era impossível atravessar as grades. Impossível forçar a fechadura estando as travas de segurança trancadas.

Dei um chute na porta e fui até o meu carro, o qual eu amava mais do que a qualquer ser vivo que me rodeava. Ninguém havia trabalhado mais do que eu para consegui-lo, nem se quer meu velho em toda a sua vida. É verdade que uma grande parte do dinheiro eu havia conseguido em apostas sobre, se eu derrubar esse, me darão vinte euros, se salvo aquele, terá que me dar cinquenta libras, não colocarei fogo no seu carro, mas em troca me dará cem libras, não te matarei se em troca me der duzentas libras.

A lei da rua. Na verdade, minha lei.

Minha rua, minhas leis. Minha cidade, minha ditadura. Meus Bonecos, meu jogo.

Minha roupa, meu violão, meus bonés, meus pertences, tudo no porta malas do meu carro. Meu pai havia me expulsado de casa como um cachorro.

Nesse momento, Guetti se aproximou se arrastando até mim, com o rabo amputado entre as pernas soltando uivos de lastima.

- Espero que a deixe com Zayn, maldito filha da puta! - Gritei ao meu pai ali de fora mesmo, caminhando até o carro e entrando nele com um humor do cão. Acendi um cigarro e o levei até os lábios, arrancando o carro.

Sabia o que ele queria caralho, é claro. Ele inclusive tinha atualizado o GPS do carro com o mata geral de Londres e seus arredores. Havia me deixado um bilhete colado no volante, certamente me pedindo perdão e implorando que o entendesse. Não sei porque eu não o li. Fiz o papel em pedaços e os joguei na porta de casa cuspindo em cima.

Era um absurdo. Chegar a esse extremo por causa da minha integridade social, pelo meu comportamento extremista, pela minha vida criminosa. A quem importava se eu caminhava pelas ruas com atitude e vontade de me atirar de cabeça a qualquer coisa que me aparecesse pela frente? A quem importava quanto álcool eu consumia ou quantos cigarros eu fumava ou, inclusive, se chegava a me drogar? A quem importava quantas vezes eu transava por dia? A quem importava se eu utilizava camisinhas ou não? A quem importava as surras que eu dava nos fracotes, que me metia em brigas de ruas, roubo de carros, quebrasse coisas, fizesse grafites ou pusesse fogo em algo? Eu era um delinquente, isso ninguém negava, mas e daí? A quem importava? A meu pai? Por mais que se fizesse de vítima, ele não se importava, não mesmo. A minha mãe? Aquela mulher que eu não voltara a ver desde meus quatro anos? Aquela que me renegou? O que importava a ela agora para querer se responsabilizar por alguém socialmente marginalizado como eu? Porque os dois, depois de anos sem se falarem, resolveram se comunicar para decidir o que fazer comigo?

Aquilo não tinha nem pé nem cabeça. De repente me vi conduzindo pela estrada que levava á Londres á cento e trinta por hora, para não voltar, á aventura, para conhecer minha mãe e esse irmão gêmeo perdido, do qual não me recordava absolutamente nada. Minha mãe era uma promotora pública, ganhava uma grana preta, e pelo que eu supunha, era uma amante das regras e das leis. Elegante, rodeada de luxos, vestida de negro com óculos e complexo de Roter Meyer. Eu era um delinquente que passava mais tempo na delegacia do que em casa, fichado aos dezenove anos, com antecedentes e pouco disposto a mudar para me converter em um menino mimado e repulsivo como com certeza seria esse meu gêmeo que eu não conhecia.

Seria fácil. Era só eu ser eu mesmo e pronto, voltariam a me expulsar a chutes dali. Não tinha esperança, ha não. Na verdade, eu não tinha vontade de me encaixar nesse mundo e em nenhum outro, sinceramente não me importava nem um pouco com isso. Gostava de ser como era, gostava de brincar de ser Deus, gostava de brigar, de sentir o sangue alheio me salpicar, de sentir a dor, de vê-la, apalpá-la, e também de sentir o prazer do sexo puro, brusco e brutal. Não tinha nenhum interesse em ser aceito ali, nenhum.

Encontraria um brinquedo com que brincar durante o tempo que tivesse que aguentar naquele lugar. Um Boneco, um belo Boneco com quem brincar, com quem experimentar e desfrutar do sexo e tudo o que ele proporcionava.

Um Boneco ao qual pudesse fazer sofrer... um Boneco ao qual pudesse arrebentar...

Pouco me importava quem fosse ou o que fosse pra mim. Não tinha preferência por nada, qualquer criatura bonita com corpo de porcelana e fácil de manipular estaria bom. Qualquer pessoa, quanto mais próxima que estivesse melhor, qualquer uma...

Como eu poderia imaginar que esse Boneco perfeito fosse meu próprio irmão?

Mas, acaso importava que fosse?

Um Boneco próximo e perfeito que ali estava, me esperando.

Quem poderia imaginar? Se fosse ao menos uma mulher, mas não.

O candidato perfeito, meu irmão gêmeo, Louis.

Meu próximo Boneco.

Meu pobre Boneco.

Muñeco ❌ L.S ❌ [✔]Onde histórias criam vida. Descubra agora