Primaveras

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E se cada gota de chuva que caísse do céu fosse uma experiência de vida diferente? A verdade é que isso é uma realidade bem distante. Enquanto chove, o que estamos  realmente fazendo? Dormindo? Esperando o tempo passar? A chuva é uma dádiva. Toda vez que chovesse, deveríamos ir a chuva. Dançar na chuva, cantar na chuva. Não espere a luz voltar, apenas abrace a escuridão. Sinta o cheiro da grama molhada.

Hoje os pinheiros estavam ao alto. Eu estava caminhando com eles. Vagantes, nômades da rotina, festeiros, caluniadores, anciões... Todos juntos em um só local, escravos da rotina, mortos por dentro.

A chuva caía, mas eles só fugiam dela. E continuaram fugindo ao passar das estações. Verão, outono, inverno... até chegar a primavera, minha estação preferida. Mal eles sabiam que na primavera a chuva também cai.

É triste ver as pessoas se escondendo da chuva enquanto eu à abraçava.

Eu te amo chuva, eu disse. Mas ela nunca teve coragem de me responder.
As vezes penso que a chuva é o choro de alguém.

Já perceberam o quanto a chuva está presente em momentos ruins? Enterros são sempre marcados por um por do sol seguido por uma noite chuvosa.

A verdade é que a primavera entre lagos, continua sendo primavera. Chuvosa primavera, chuvosa vida.

Chova!
Chova!

Eu suplico para que chova!

Quero que o mundo chore e chova ainda mais.

Vem o verão, o outono, o inverno e a primavera sempre chega nesse ciclo. Tem seu início e fim, todos os anos.
Verão, outono, inverno, primavera... assim repetidamente até o fim da sua vida.

Não podemos comparar a primavera com uma vida. A vida é só uma. É um ciclo que se acaba. A primavera é como o amor, um ciclo vicioso. Ela vem e volta, usa e é usada de diferentes formas. Mas o amor não é como a primavera. Ele se vai, e volta de novo, porém diferente.

Amor pela vera.
A primavera.
Que seja verídico, você verá.
Não é a primeira, mas ainda é vero, como uma sequência:
três, dois, um, zero.

Amor solitário. Amor composto,
Do fim do berçário ao fim disposto.
Disposto a amar, disposto a morrer,
De um mundo onde esperar,
é tempo a perder.

Minhas palavras são apenas tinta, que talvez não entre no seu coração. Mas deixe que pelo menos a chuva entre e a primavera domine seu corpo. Chega de invernos frios, ou um verão caloroso demais. O outono ainda é triste. Confia na prima, a prima vera. Ela é o meio termo da sua vida, meio termo dos seus problemas.

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