Seu vestido branco balançava, sua voz cantava uma cantiga de ninar. O tom soprano dela era algo indescritível. Ela ia na frente como uma criança ansiosa para ver o pai após a guerra.
O cenário vinha mudando durante o passar do dia. Estávamos apenas subindo um monte verde, sem arvores, flores, se quer vida.
Eu obviamente conhecia o lugar, mas ainda me passava por intruso.Ela correu ao ver o pico do morro e estagnou quando chegou lá. Eu vinha logo após, um pouco mais exausto.
Ela olhava perplexa. O por do sol mais bonito de sua vida. Logo a frente, um canteiro de tulipas que parecia não ter fim e batiam em um enredo de montanhas logo após. O sol estava quase a se esconder por essas montanhas.
Ela ainda segurava seu buquê, fazendo com que suas tulipas fossem apenas grãos de areia perto do universo que estava ali logo a nossa frente.
Sem hesitar, ela me beijou. Não entendo, depois de tanto sofrimento, Por quê?
- Me trouxe aqui para me matar? Ela perguntou um pouco triste.
- Você está morta desde o dia que me conheceu. Não podemos dividir o mesmo mundo, querida. Então que você vá, e eu então me livrarei do peso que foi ter amado você.
Ela ria, mostrando seu deboche. Porém serenamente, como se entendesse.
- Não seja tolo, querido. Ela disse, mas dessa vez com um tom extremamente angelical.
Eu nao aguentava mais ver sua face, estava a segundos de chorar. Então forcei um abraço. Tirei uma adaga do bolso direito da jaqueta e tentei ser o mais letal possível...
Não senti nada. Como se o golpe nao tivesse impacto algum. Como se tivesse acertado o vendo. Mas eu via, via a adaga atravessando seu corpo. Mas como?
- Você ainda tenta, querido? Não percebe? Eu estive morta por todo esse tempo. Como você mesmo disse, eu morri quando conheci você. E agora, quem morreu foi você. Você se matou, como matou á mim, alimentando nossos estúpidos sonhos. Mas agora, estamos juntos novamente e eu te dou a liberdade de viver mais uma vez como se eu nunca tivesse existido.
Nesse momento, todas as minhas lembranças passaram sobre meu olhos. Eu estava morto e sua voz ainda estava em minha mente, sussurrando até enfim sumir.
Ela ainda estava na minha frente, transparecendo sua enorme e angelical forma. Tirou do buquê uma tulipa, a melhor que estivera e esticou ela para mim.
- Pegue, querido. Para que se lembre de mim de alguma forma. Sua mente não vai mais servir para isso.
Eu peguei, e a flor se tornou um simbolo em minha mão.
- Agora que você recebeu sua primeira flor, está pronto pra morrer de verdade.
Tenho que ir, querido. Apenas quero que saiba, que mesmo morta dentro de você, eu sempre te amei. Adeus.Então ela caminhou diante a planície de flores com seu buquê de tulipas não mão, soltando elas uma por uma em meio a imensidão contemplando aquele lindo pôr do sol. Finalmente ela estava livre.
O chão se abriu e eu desci o mais devagar possível, vendo seus ultimos fios de cabelo no horizonte.
Em nenhum momento ela olhou para trás e enfim o céu se abriu para ela, quebrando uma corrente entre nós.
Adeus, minha querida.
Fim
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Primaveras
Short StoryA que ponto você pode chegar por determinada pessoa? A sua mente o trai e te traz consequências inimagináveis. A história de um psicopata tão normal quanto você, tão humano quanto você, amante de um belo por do sol. Mergulhe na psicanálise profund...