Eu era uma pessoa muito pessimista.
Passei a minha vida toda sonhando em acordar morta, e no primário, quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescer, eu respondia que queria ser morta. Nunca achei um proposito na vida, nunca entendi o porque de acordar todas as manhãs e trabalhar feito uma escrava pra ganhar números na minha conta bancária, nem o porque da necessidade de sair para beber todas as sextas feiras, mesmo que eu fizesse isso semana após semana. Nunca senti a necessidade de ter amigos, mas tinha uma, Julie Wilson. Eu me contradizia em qualquer coisa que fazia, me questionava em todos os segundos em que respirava, e Julie sempre jurava que era esse o motivo de eu sempre estar triste, porque eu não deixava “a vida me levar”.
Estávamos em um táxi indo pra algum bar que eu não me lembro o nome, com alguns amigos de Julie que não me importavam, e lá estava ela, do meu lado dando uns belos amassos em seu namorado, Brandon.
Ela me cutucou quando havíamos chegado ao lugar, e já de fora eu podia ver que era grande e pior: estava cheio. Brandon pagou o táxi e passou o braço por nossos ombros, eu pessoalmente não gostava daquele tipo de contato mas não iria reclamar bem ali no meio de milhares de pessoas que eu nunca havia visto na vida antes. Adentramos o local, haviam várias pessoas suadas e bêbadas, dançando juntas, separadas, do jeito que desse, e Brandon nos direcionou até uma mesa onde haviam cerca de sete homens, todos altos e vestidos como se tivessem acabado de sair da cerimonia do Oscar.
Julie e Brandon cumprimentaram a todos e eu apenas fiquei parada, estática no mesmo lugar onde eu estava antes até que Julie voltasse ao meu lado, agarrasse meu braço e se pronunciasse:
- Pessoal, essa é minha amiga Charlotte Moore.
Eu apenas acenei, Julie conseguia contrariar tudo que eu pensava sobre os humanos que me rodeavam, mas mesmo assim eu sempre arranjava algo para odiá-la
- Vocês podem chama-la de Charlie. – disse Brandon.
- Não, não podem. – murmurei, tentei manter minha voz razoavelmente inaudível, mas pude perceber que um dos homens bem vestidos me olhara curioso.
Caminhei até o grande sofá e me sentei entre Julie e um dos caras, ela havia me dito seus nomes mas eu realmente não me importava, peguei o copo que ela segurava com desdém e bebi um gole, as vezes eu sentia inveja da mente ingênua de Julie e gostaria de me entrosar mais, apesar de que todas as vezes que eu tentava Julie dizia que eu parecia um cachorro com medo.
- Olá – o homem do meu lado murmurou. – sou Benedict Cumberbatch, tudo bem?
Por que infernos ele estava falando comigo mesmo?
- Olá – respondi rapidamente, não queria que ele percebesse que eu estava hesitante, fiquei surpresa de não ter gaguejado. – tudo sim, e com você?
- Tudo bem. – ele esboçou um sorriso, eu realmente tentei não olhar em seu rosto. – Você não está muito acostumada com esse tipo de coisa, não é?
- Na realidade, estou sim. – eu ri baixo. – Eu só não... gosto muito de contato social.
- E por que você veio? – ele hesitou ao perguntar.
- Porque aqui tem bebidas, não?
Ele riu e chamou o garçom, pediu duas bebidas que eu não me importei em ouvir o nome e virou seu rosto de novo em minha direção. Eu me amaldiçoei por ter saído de casa naquele dia, e não era porque eu não estava gostando da conversa.
- Então... por que não gosta de contato social?
- Porque ela é depressiva, está sempre perguntando “por que isso, por que aquilo, blá blá blá por que?” – disse Julie, me fazendo rir. – Ela é uma vadia, não confie nela.
Benedict riu e eu tive de esboçar um sorriso, além de Julie ninguém nunca trocou mais de singelas duas palavras comigo – a não ser Brandon, mas só porque eu sempre estava por perto quando ele saia com Julie.
- Mas as pessoas, não são elas as melhores coisas na Terra? – questionou ele.
- Claro! Tão melhores que destroem o único lugar habitável a menos de 500 anos luz. – revirei os olhos. – Odeio humanos!
- Mas você também é humana.
- Quem disse que eu também não me odeio?
Ele riu e se levantou do sofá, ajeitou sua gravata e tirou seu paletó e estendeu a mão para mim.
- Sabe do que você precisa?
Ele arqueou a sobrancelha.
- Do que?
- Parar de pensar e dançar.
Ele fez um gesto chamativo com a outra mão que não estava estendida para mim, mas ele percebeu que eu não me moveria dali nem um centímetro e resolveu me puxar pelo braço. Tudo que eu consegui pensar foi: que?
Ele me arrastou até uma parte muito populada da pista de dança, pegou três copos de uma bebida escura que estava na bandeja de um garçom aleatório que passava pelo local e me entregou duas. Aposto que ele deve ter rido muito internamente da minha cara, por que eu não estava entendendo nada, então ele tomou todo o liquido do copo que ele tinha em mãos e mencionou para que eu fizesse o mesmo, não hesitei virando os dois copos um em seguida dos outros. Em seguida, Benedict segurou em minhas mãos e começou a dançar, algo que me fez querer rir pois ele não era lá um bom dançarino.
Algum tempo se passou, eu já havia perdido a conta de quantos copos Benedict havia furtado do garçom, mas eu já estava meio tonta e não enxergava nada com clareza, também não tinha noção do que meus pés faziam mas eles doíam, e Benedict ainda dançava desengonçadamente me fazendo querer explodir de tanto rir.
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Let Me Sink
RomanceCharlotte Moore era como Londres em uma noite gelada de dezembro, as ruas desabitadas após o cair da noite, a memória insana todos tem porém juram que não existe. Ela era problemática, pessimista, e o tipo de sociopata que não suportaria passar dois...