Eu senti uma dor tremenda na região dos olhos quando tentei abri-los então logo desisti. Onde eu estava? Não estava dirigindo para a casa de Benedict? Sentia o cheiro de desinfetante recém passado e aquilo irritou meu nariz, ouvia algumas vozes conhecidas. Eu não me lembrava de muita coisa depois que entrei no carro, coloquei algumas roupas ali mesmo e depois Kansas, me lembrei de um luz muito forte e do miado alto de...
- Kansas! – eu gritei e forcei meus olhos a se abrir, encarando o fato de que eu estava em uma cama de hospital cheia de aparelhos ligados ao meu peito. Oi?!
- Charlie! – disse Benedict, ele estava dormindo na poltrona que ficava encostada na parede do quarto onde eu estava, e o coitado se assustou quando eu gritei. Ele correu até perto de mim e segurou minha mão enquanto Julie ia chamar alguém. – Como se sente?
- Confusa. – respondi rapidamente. – Benny, o que... o que aconteceu? Onde está Kansas?
- Você sofreu um acidente de carro. – ele disse baixo e calmo. – Um caminhão ultrapassou o farol vermelho e bem... acertou seu carro em cheio. – ele suspirou. – Kansas está bem, ele está na minha casa pois não me deixaram entrar aqui com ele. Houve alguns machucados mas ele se safou pois o caminhão acertou você. Você esteve em coma durante três dias, pensaram que não voltaria...
- Ah meu Deus! – exclamei, tentei processar todas as informações enquanto ainda estávamos sozinhos. – Eu... há quanto tempo você está aqui?
- Três dias. – ele sorriu.
Eu tive de rir baixo e o olhei observando cada mínimo detalhe de seu rosto avermelhado e suas roupas velhas e rasgadas. Alguns minutos depois, o médico veio me avaliar e concluiu que eu estava bem e disse que eu poderia ir embora no próximo dia, o que agradeci mentalmente.
- Benny, você tem que ir para sua casa descansar um pouco. – comentei enquanto ele brincava com meus dedos.
- Você sabe que não adianta insistir. – ele respondeu continuando a fazer o mesmo. – Eu vou ficar aqui até que você esteja de alta.
Sacudi a cabeça em negação.
- Você é teimoso de mais, nenhuma mulher gosta disso.
- Que bom que você é a Charlie.
Rimos alto e eu tive de me esforçar para bater em sua testa.
- Charlie, eu vou querer cuidar de você quando fomos embora. – constatou ele enquanto entrelaçava seus dedos nos meus. – Quero que você fique em minha casa, só por uma semana.
- Eu não vou, Ben. – suspirei. – Começa com uma semana... depois estou morando com você e depois vão haver pequenos Benedicts por ai... Não! – eu disse, forçando uma cara assustada.
- Ah... pequenos Benedicts e pequenas Charlies seriam lindos! – ele disse, rindo alto.
- Você está realmente me assustando!
Ele riu baixo e se levantou colando seus lábios nos meus por breves momentos.
- Mas é sério, Charlotte... quero ter certeza de que você e Kansas estão bem. – ele me olhou sério.
- Você não vai cansar, né?
- Nope.
- Tudo bem, mas só uma semana! – exclamei.
Ouvimos umas batidas na porta e subitamente paramos de rir, fitando a porta. Um homem pequeno e loiro aparecera, era Martin!
- Martin! – exclamei.
- Olá, Charlie. – ele disse e sorriu. – Fiquei sabendo do que houve e, bem... Te trouxe flores! – ele levantou um buque de rosas amarelas e caminhou desengonçadamente até perto de mim, colocando as flores na cama, o que me fez rir.
- Muito obrigada, Martin! – eu disse pegando as flores e entregando para que Benedict as colocasse na água, ele me olhava desconfiado. – Ah! Martin, esse é Benedict, meu...
O que diabos Benedict era meu? Acho que me perdi em minhas memorias tentando encontrar uma resposta para aquela pergunta.
- Namorado. – ele afirmou estendendo a mão para Martin, que a apertou. – Prazer.
Eu cuspiria a água que havia acabado de engolir assim que ouvi Benedict, ahn?
Ele me olhou novamente.
- Eu conheci Martin em uma praça perto de casa quando estava andando com Kansas, foi logo antes de...
Os dois abaixaram a cabeça simultaneamente.
- Você não disse que tinha um namorado, Charlie. – pronunciou-se Martin, sorrindo.
- É.. – eu me senti meio desconfortável. – A não ser que você estivesse flertando comigo, você não necessitava saber disso.
- Bem... – disse Martin. – Acho que já vou indo.
Assenti e o observei enquanto depositava um pequeno beijo em minha bochecha, ele apertou a mão de Ben novamente antes de sair porta afora. Benedict cruzou os braços, arqueou uma das sobrancelhas e me encarou emburrado.
- Que? – perguntei.
- Que? – ele zombou. – Você estava flertando com ele!
- Benedict! Claro que eu não estava!
Ele começou a perambular pelo quarto.
- Muito obrigada, Martin! Oh, Martin! Martin, Martin, Martin! – ele exclamou afinando a voz para que se parecesse com a minha, o que me fez rir pois foi falho. – Não ria, estou falando sério!
- Você realmente vai brigar comigo? Sério? – arqueei uma sobrancelha. – Eu não estava flertando com ele.
- Sei.
- Eu vou ter que levantar dessa maldita cama pra te olhar nos olhos?
Ele caminhou até perto da cama e levantou o rosto.
- Eu não estava flertando com Martin, e por favor, para com isso, minha cabeça dói.
Ele continuou com a mesma expressão.
- O que eu tenho que falar pra você parar com isso? – suspirei.
Ele balançou a cabeça e se inclinou, levei uma mão até sua nuca e nos beijamos levemente, quando nos separamos beijei o canto de sua boca e consequentemente seu rosto todo, o que o fez sorrir.
- Sua boba.
Beijei a ponta de seu nariz.
- Você deveria dormir um pouco, Charlie. – sugeriu Ben.
- Ah, não... dormi durante três dias, e eu estava mesmo com saudades suas. – afirmei, o observando sentar-se em uma cadeira ali perto.
- Você deve estar mesmo mal, até está carinhosa.
- Eu sei, chamem o carro fúnebre! – disse, fazendo uma voz meio chorosa e ele riu.
O tempo passou voando enquanto conversávamos sobre diversos assuntos, Benedict estava sentado na beirada de minha cama acariciando meus cabelos enquanto eu assistia a um filme qualquer na televisão. Ele havia me dito que eu possuía alguns machucadinhos no rosto, mas eu sabia que ele era gentil e bondoso de mais para me dizer qual era o estado real de meu rosto. Eu sentia arder em alguns lugares específicos, mas não tinha a ansiedade de me ver no espelho. Haviam dado alguns pontos na parte de cima da minha mão, e Benedict deduziu que eu provavelmente tentei proteger meu rosto com as mãos. Ele havia me dito também que meu carro ficara destruído, e que os paramédicos acharam um milagre eu e Kansas termos saído vivos.
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Let Me Sink
RomanceCharlotte Moore era como Londres em uma noite gelada de dezembro, as ruas desabitadas após o cair da noite, a memória insana todos tem porém juram que não existe. Ela era problemática, pessimista, e o tipo de sociopata que não suportaria passar dois...