A Jogada Do Destino

DEZ Anos Depois

- ESTOU ATRASADA, MEU DEUS! - Desço rapidamente os degraus da minha escada espiral. - Droga!

Bom, assim que completei 20 anos me mudei para a cidade grande -Agora me encontro com 27 anos, e sim estou solteira.

Em geral, me formei em Secretariado e estou trabalhando. E inclusive, estou atrasada.

Trabalhei para o Presidente Richard durante seis anos, e nunca soube da existência desse filho. Deve estar se perguntando: Mas do que essa doida está falando? Pois é. Nem eu mesma estou acreditando. Richard resolveu passar a presidência para o seu filho.

Eu gosto bastante do meu trabalho. Richard sempre fora meu amigo. Mas agora mudaria. Era uma pessoa totalmente nova e eu não estava animada.

Ele será apresentado hoje. E eu? Eu estou atrasada! E o pior!!! Eu sou a secretária dele! Espero que ele não me repreenda, o que é pouco provável.

Entro no ônibus coletivo e sento no banco do fundo, torcendo para que chegue logo.

Eu não sou mais a mesma de antes, aparentemente falando.

Hoje meus cabelos estão longos e ruivos. Uso maquiagem e no lugar dos óculos uso um par de lentes.
Meu corpo de mulher já se desenvolveu, óbvio. Mas o meu tamanho continua o mesmo, infelizmente.

Dou o sinal e desço correndo. A empresa fica atrás da rua do ponto de ônibus.

Essa saia social só me atrapalha, mas sou obrigada a usá-la, assim como esse par de saltos malditos.

Passo o meu crachá e saio correndo para o elevador.

Chego na sala da presidência, e encaro a porta, pronta para arranjar uma desculpa.

Bato.

- Entre.

Abro e entro rapidamente, de cabeça baixa.

- Peço desculpas pelo meu atraso. Sou Jéssica, a sua Secretária. - Digo, ainda de cabeça baixa.

- Saiba que não tolero atrasos. Se continuar assim, receio que não possa trabalhar mais nesta empresa.

Levanto a cabeça  e vejo que ele não tirou os olhos dos documentos.

- Presidente, não é um hábito chegar atrasada. E certamente não se repetirá. Precisa de algo?

- Preciso da minha agenda. - Fala, ainda sem tirar os olhos dos papéis.

Enquanto falo toda a sua agenda, me incomoda o fato de ele parecer me menosprezar.

Não sou digna nem que me olhe nos olhos? Fala sério.

- Se não precisa de mais nada, irei me retirar. - Digo, indo em direção à porta.

Dou passos curtos, porém rápidos.

Tropesso com o bico do bendito sapato, mas consigo me equilibrar.

Droga de scarpin! Logo hoje! Tem como piorar?

Piso forte no chão e logo, escuto um barulho, e após, só me vejo tombando.

Ora ora, eu e minha boca.

Fico sentada olhando para o meu sapato, incrédula. E ao mesmo tempo, tentando não pensar que eu estava naquelas condições, na frente do meu novo chefe.

A minha vergonha é tanta que se eu pudesse, não tiraria os olhos do sapato, enquanto o Presidente não saísse.

Eu estava tão perto da saída. Como isso teve que acontecer, logo aqui? Não poderia ter esperado mais alguns passos?

- Você está bem? - Ele pergunta cutucando o meu ombro.

Levanto rapidamente.

- Tome mais cuidado. - Fala, me analisando.

Olho para ele, encarando-o pela primeirava em seus olhos, que surpreendentemente, não estava ignorando minha existência.

Que rosto mais familiar...
Será ele?

- Jonathan? - Pergunto em um tom descrente.

Não. Como isso é possível? Faz algum sentido?

- Esse é o meu nome. Suspeitei que já tinha te visto em algum lugar, não imaginei que fosse você, Jessy. - Faz uma pausa - Você está bem diferente. Está ótima.

Ainda estou em choque. Como isso? Só podem estar de brincadeira comigo! De novo? Foi tão difícil superar e agora isso?
Me poupe destino!

- Você... também. - Não consigo encará-lo. É como se a nossa história passasse todo na minha mente, naquele momento.

- Como tem passado? - Ele pergunta, indo em direção à sua mesa. - Sente-se. - Diz, apontando para a cadeira em frente à sua mesa.

Não digo nada e apenos obedeço.

Suspiro.

Mas que merda de roteiro de vida é esse? Alguém me explica? Isso é sério? Estou de frente com o meu primeiro amor, que por um acaso é meu chefe. Pode ficar pior?